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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

PAI, AFASTA DE MIM A “HUMILDADE”!

 

A Humildade, Uma Peste Disfarçada

Hmm, tão sentido esse cheirinho no Recanto das Letras? Cheirinho fétido de senso comum que idolatra a humildade como virtude. Deus me livre de ser humilde. A humildade é uma forma de negação da própria força e da vontade de poder, que são centrais em epistemologia. Nietzsche diria que a humildade é uma virtude cristã, contrária à essência humana, que é a vontade de potência – sempre querer se expandir. Muitas vezes associada à submissão e ao sacrifício de si mesmo, ela enfraquece o indivíduo e impede sua autossuperação.

 

Ele considera que a moralidade cristã, que valoriza a humildade, é uma forma de “moral dos escravos”, que glorifica as virtudes daqueles que são fracos e impotentes. Por isso, em vez de externalizar sua potência, os humildes a internalizam, através do ressentimento, da inveja, do recalque – tudo isso é coisa de moral de rebanho. Em vez de tentar se superar, o humilde ou não age ou adquire o perfil de passivo-agressivo, moscas pestilentas, que tenta picar o dragão, enfraquecendo quem é forte e nobre para que ele se torne tão fraco quanto os que não conseguem se elevar.

 

Em vez de focar na sua criação, em sua diferenciação pela distinção, ele volta seu ataque para um objeto externo de sua inveja.

 

Bourdieu e a Humildade: A Imposição Social

Pierre Bourdieu iria analisar a humildade como uma característica imposta aos indivíduos pelas estruturas sociais e pelo “habitus” – o conjunto de disposições e comportamentos adquiridos ao longo da vida, influenciados pelo contexto social e econômico.

 

A humildade pode ser uma forma de internalizar a subordinação, aceitando passivamente as desigualdades sociais como naturais ou inevitáveis. Ou seja, ela é imposta pelos mais fortes, pelos patrões ou aqueles que estão acima, para que a pessoa se sinta inferior, humilde – e pior. E, de tal forma, ela internaliza isso que, de fato, se torna pior.

 

Virtudes Teológicas: Um Caminho Para o Sofrimento

A humildade, assim como outras virtudes teológicas, é nociva.

 

A fé, por exemplo, faz você negar o mundo real — o único existente e comprovável — para apostar em um mundo divino, desperdiçando os momentos atuais. Isso é sintoma de alguém que já está desgastado com a vida, sofrendo, e por isso precisa acreditar em um mundo ideal, um paraíso.

 

A Esperança: Ignorância, Impotência e Carência

A esperança, segundo Sponville, é extremamente prejudicial também. Quando você espera por algo, é porque não tem certeza se isso virá — se tivesse certeza, não esperaria. Portanto, o esperançoso vive na ignorância. Se você pudesse realizar seu desejo, agiria — e não esperaria. Logo, o esperançoso é também impotente. E, finalmente, toda esperança pressupõe algo que falta; portanto, aquele que espera é carente.

 

Eis aqui a face inteira daquele que espera: ignorante, impotente e carente. A esperança é sem fluir, sem ação e sem saber. Você quer ser esperançoso, esperar as coisas acontecerem sentado, ou agir para que elas aconteçam?

 

A Caridade e o Instinto de Rebanho

E, por fim, o amor, a caridade — a verdadeira força moral — está na autossuficiência e na superação das dificuldades sem recorrer à ajuda dos outros. Para Nietzsche, a caridade é uma expressão de um “instinto de rebanho”, que enfraquece a individualidade e a capacidade de autossuperação.

 

Ou as pessoas se escondem na caridade para se passar por boas ou para estabelecer uma relação de poder sobre os outros — “você depende de mim, portanto é meu submisso”. Isso é exemplificado no perfil de Hanna no filme de Woody Allen.

 

A Arte: A Vontade de Potência em Sua Forma Mais Pura

Por último, a arte é uma expressão da vontade de potência, uma criação da individualidade singular do indivíduo. As grandes pinturas renascentistas, as grandes obras de arte, as poesias de Virgílio, Horácio, Ovídio, Homero, Hesíodo, “A Comédia Humana” de Balzac, “Em Busca do Tempo Perdido” de Proust, etc., poderiam ter nascido do espírito de humildade ou da grande presunção dos artistas?

 

Não, eu não quero ser humilde. Deus me livre, afasta de mim esse cálice. Pai, eu prefiro passar pela presunção, porque é dela que nascem as grandes coisas. E como diz Horácio, a intenção de “erguer o monumento mais duradouro que o bronze”. Pretensão nada humilde, né?

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 05/03/2025
Alterado em 05/03/2025
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