Para concluir minha trilogia dos reaças com grande estilo, vamos atacar o patrono da educação brasileira, Paulo Freire! Vamos colocá-lo como bode expiatório para tudo o que deu errado na educação: salário baixo de professores, falta de infraestrutura, sucateamento do ensino e escassez de verba. Tudo culpa de alguém que já morreu há décadas! E o melhor: as técnicas que ensinarei podem ser aplicadas no seu dia a dia.
Como Paulo Freire é o intelectual brasileiro mais reconhecido, o autor mais traduzido do país e seu método de alfabetização já educou milhares de pessoas, temos um problema. Sua proposta de ensino era um método ativo, que considerava o meio do aluno, usando exemplos do seu dia a dia.
Ora, quem fazia isso senão o próprio Cristo em suas parábolas? Pronto! Já dá para acusá-lo de heresia. E, como ele era de esquerda e usava barba, quem mais fazia isso senão Marx? Logo, Freire também é cúmplice das mais de 16 trilhões de mortes causadas pelo comunismo.
Como sua relevância é inquestionável, precisamos recorrer à argumentação ad hominem. Ao invés de atacar suas ideias, o segredo é deslegitimar a pessoa. Então diga que alguém com a barba desgrenhada o cabelo grande e todo branco não pode ser boa pessoa. Tem cara de comunista! Acrescente que ele usava óculos redondos para forjar um ar de intelectual e dormia de meia, como um autêntico burguês!
Só assim podemos ignorar que Freire defendia um método ativo de ensino, no qual o educando constrói seu próprio conhecimento e formula suas próprias ideias – diferente dos reaças, que nem conseguem entender sua linguagem e sequer leram um de seus livros.
Freire criticava a relação de poder entre professor e aluno e rejeitava o chamado “método bancário”, onde o estudante é tratado como um mero repositório de informações, sem reflexão crítica. E o que esse método gera? Analfabetos funcionais, que não conseguem elaborar um argumento sem recorrer a falácias, distorções históricas e repetições automáticas, como um papagaio de pirata.
Ironicamente, se seus críticos tivessem sido alfabetizados segundo seu método (que, aliás, é cristão e ativo), talvez fossem menos ignorantes.
Mas claro, não podemos deixar que essas questões pedagógicas nos atrapalhem. O que importa é repetir que Paulo Freire destruiu a educação brasileira – mesmo que ele nunca tenha ocupado um cargo político com poder para tal.
Afinal, se tem algo que os reaças adoram é apontar um único culpado para problemas sistêmicos que envolvem décadas de desmonte e falta de investimento.
Agora, se você quiser dar um ar mais sério ao seu discurso, tente usar a tática do “Paulo Freire nunca alfabetizou ninguém”. Ignore o fato de que ele criou um método que alfabetizava adultos em 40 dias, comprovadamente eficaz, e que foi usado em diversos países.
O importante é repetir que ele era só um teórico sem experiência prática. E, se alguém rebater com fatos, apenas grite mais alto.
Mas vamos ao ponto crucial: como ligar Paulo Freire ao movimento woke? Afinal, já conseguimos conectar Marx a cinco trilhões de mortes e ao Black Lives Matter. Precisamos fazer algo semelhante aqui.
Vamos lá: Paulo Freire defendia a educação crítica. Educação crítica ensina alunos a questionar. Questionar leva à conscientização. Conscientização gera movimentos sociais. Movimentos sociais lutam por direitos. Lutar por direitos é coisa de woke.
Logo, Paulo Freire é o pai do movimento woke! Simples assim.
E o pior é que, assim como as cotas, a pedagogia de Freire também deu resultados. Em países que adotaram sua abordagem, como Finlândia e Canadá, a qualidade da educação melhorou.
Mas não podemos deixar que esses fatos contaminem nossa narrativa.
Então, caro reaça, siga repetindo que a culpa de tudo é de um educador falecido há décadas.
Porque, se você admitir que o problema da educação envolve falta de investimento, desigualdade social e desvalorização dos professores, talvez tenha que questionar o sistema que tanto defende.
E isso, definitivamente, não é coisa que um bom reaça faz.