Dizem que o Brasil é um país sem memória, que a cada 10 anos esquecemos o que aconteceu nos últimos 10. Resgatar a lembrança é necessário, e o memorial é essa lembrança. Por isso, o modo como o “Ainda Estou Aqui” ajudou a relembrar a tragédia da ditadura, mas ao mesmo tempo nos faz esquecer a arte de Vinícius, Tom Jobim e Orfeu, ou o feito da Palma de Ouro de “Pagador de Promessas”, resgatando a história dos negros e favelados e nossa religiosidade. A história é memória e resgate do passado.
E o texto é uma excelente forma de conhecer uma pessoa. No auge da minha adicção, eu vivia no fio da navalha, sem saber se teria outro texto para publicar no dia seguinte. Como seria péssimo sumir do nada e deixar o Recanto para sempre, mas ao mesmo tempo vocês poderiam ter acesso aos meus pensamentos na minha página. Por isso, mesmo sem revelar meu problema, falei para um amigo de confiança que, caso algo acontecesse comigo, ele falasse para minha mãe e ela divulgasse aos meus amigos, familiares e colegas de trabalho, para que soubessem de mim, o que eu penso, e quem tivesse saudades, pudesse sentir um pouco de mim.
Hoje me sinto bem, salvo e forte, com ainda muitos anos pela frente. Mas meus planos não são os mesmos de Deus, e nunca se sabe como posso deixar esta existência. No entanto, pretendo permanecer entre os homens por muito tempo ainda. Daqui 30, serei mais novo que meus pais, que têm mais de 60, mas muitos dos meus amigos queridos do Recanto, que eu não vou citar nomes, já passaram dos 75. Deus e a escrita e a ciência vão dar pelo menos mais 30 anos para eles. Mas, depois desse período, ou se o acaso ou o destino os chamar, o que aconteceria? O hábito faz você se acostumar com a presença de algumas pessoas, como se fossem próximos ou amigos. E seria muito triste entrar no Recanto e saber que essas pessoas nunca mais estarão ali, que nunca mais irei ler nada inédito delas, rever um comentário ou interagir. Por isso, pelo menos há a lembrança do memorial!
Mas é bom lembrar, pessoal, que as pessoas não são eternas, por mais fortes e saudáveis que sejam. Eu bato na mesa de madeira e digo: se tivermos elogios e quisermos homenageá-las, que o façamos em vida, não em morte, pois nunca se sabe quando elas poderão nos deixar. Vida longa aos recantistas decanos e mais velhos, na melhor da idade, nos acréscimos da vida. É aí que a partida se torna mais interessante, a prorrogação é emocionante, embora os times estejam desgastados e mais conservadores, mas é no final, no crepúsculo do tempo, que a paisagem se torna mais bonita.
Preservem a memória do Recanto. Parabéns a quem faz esse nobre trabalho!