Há algo de cômico na imagem de um filósofo brasileiro — e cearense, ainda por cima. Parece um “causo” narrado por Ariano Suassuna.
Os circuitos de consagração social não costumam legitimar brasileiros como filósofos. Quando pensamos em filosofia, vêm à nossa mente França, Alemanha, Grécia — não Brasil, muito menos Ceará. Quando penso no Ceará, penso em humor, em comédia. E isso é uma grande fonte de riqueza cultural.
Pierre Bourdieu diz que um elogio vale menos quanto menor for a distância social entre quem elogia e o objeto do elogio. Ou seja, o autoelogio e o elogio de mãe não valem nada.
Agora, é pitoresco como algumas pessoas gostam de se atribuir títulos majestosos e grandiloquentes para se afirmarem: chamam a si mesmas de filósofos, escritores, poetas e até doutores — e os mais excêntricos e mitômanos, de “sir”.
Mas cabe a pergunta: existe filósofo no Brasil? Ou melhor, o que é um filósofo? Filósofo é uma categoria, uma definição, uma qualidade, um rótulo ou uma profissão? Porque, na minha concepção, todos são filósofos e, ao mesmo tempo, ninguém é.
Todos são porque, em algum momento, já nos inquirimos sobre os mistérios existentes entre o céu e a terra. E ninguém é porque ninguém vive disso — quer dizer, ou são professores, ou escritores, ou palestrantes. Ninguém vive apenas de pensar. Ora, que coisa ridícula! Filosofia é indissociável da vida. É pensar a vida e viver o pensamento. É, como entendiam os gregos, o que faz a vida valer a pena.
Agora, querer se definir como filósofo ou dizer que tem amigos filósofos como forma de distinção social e intelectual é algo risível. É a cosmética do saber: ostentar um símbolo, um status, um cargo. Não é amor pelo conhecimento, mas amor pelo reconhecimento. Não é o desejo genuíno de aprender, mas o desejo de ser visto como alguém inteligente e culto. É um exemplo da superficialidade de quem quer adquirir a “visual de intelectual” — talvez trocada por dinheiro — sem o esforço real para conquistá-la, Com seus óculos Ray-Ban de armação tartaruga, que, por trás das lentes, ocultam o olhar baço da ignorância. Coisa de gente “inteligentinha”, que quer se passar por intelectual refinado e erudito, mas não passa de caricatura.
Valores burgueses que querem se impor por meio de símbolos, discussão (grito) e ideologia, sem trabalho árduo.