É irrelevante se o Brasil vai ou não ganhar o Oscar por Ainda Estou Aqui. Essa premiação esdrúxula, desvirtuada pelo politicamente correto, tem pouca importância artística para quem é cinéfilo de verdade. E, bem, a história redentora de Ainda Estou Aqui agrada ao Oscar: mulher, personagem resiliente… a cara da premiação, que mais parece uma comissão da ONU do que um verdadeiro reconhecimento ao cinema. O cúmulo foi premiarem DiCaprio por O Regresso, um filme em que ele basicamente fita o infinito e se fode o tempo todo, em vez de por O Lobo de Wall Street. Já na juventude, em Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador, no qual interpretou um jovem com deficiência intelectual ao lado de Johnny Depp, ele já merecia o Oscar. Mas, naquela época, a premiação ainda era outra.
Mas um fato inegável: o Brasil já ganhou um Oscar em 1959, com Orfeu Negro, dirigido por Marcel Camus, uma adaptação da peça Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes. O filme tem personagens negros, é ambientado no Brasil, na favela, falado em português e com trilha sonora de Vinicius e arranjos de Tom Jobim. Ou seja, mais brasileiro impossível. Agora, é muito cômodo para a elite branca e banqueira, representada por Walter Salles, jogar essa conquista para debaixo do tapete e apagar uma história que retrata o Brasil real — o dos pretos e pobres —, muito mais do que os burgueses de Ainda Estou Aqui. Isso sem desmerecer a importância do filme atual, claro.
E não só o Oscar: Orfeu Negro também ganhou a Palma de Ouro em Cannes, uma premiação muito mais relevante. Assim como O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, premiado em 1962 — um reconhecimento infinitamente mais significativo que o Oscar, ignorantes!
Aposto que muitos dos “brasileirinhos” torcendo pelo Oscar sequer assistiram a Orfeu Negro ou O Pagador de Promessas. Aliás, arrisco dizer que nem sequer viram Ainda Estou Aqui e, pior, nem sabem quem foram Vinicius de Moraes e Tom Jobim.
Nossa “elite”…