PROGRESSISMOFOBIA é a aversão às pautas progressistas, uma adesão velada, consciente ou não, ao reacionarismo. Vou te ensinar a identificar se você sofre dessa patologia. Trata-se da disfunção do conservadorismo, quando essa doença se agrava e se transforma em reacionarismo.
Se você se remoer por dentro ao ver alguém das classes mais baixas prosperar ou um trabalhador chegar à presidência da República, isso são sinais claros de aversão ao progressismo.
O mesmo se expande ao ressentimento de ver um negro, imigrante ou vulnerável prosperando, conseguindo vagas na universidade ou “infestando” os aeroportos. Ora, a classe privilegiada já não tem mais seus lugares de distinção: outro sintoma da doença.
Se você se estremece em zonas erógenas ao ouvir o discurso inflado de ódio de Trump, que diz que vai expulsar imigrantes e você gostaria que ele fosse presidente do Brasil, é melhor já começar a se preocupar, pois o caso pode ser mais grave.
Se, nessa época de carnaval, você quer denunciar a luxúria e acabar com o investimento público nessas “indecências”, não reconhecendo o valor cultural das festas, seus símbolos e tradições, aí está um sinal inconteste de aversão ao progresso e reacionarismo.
Se você se sente representado no slogan “Deus, Pátria e Família”, mas promove intolerância e perseguição religiosa contra religiões de matriz africana, kardecistas ou até mesmo cristãos que se desviam do seu pensamento, quer denunciar que ninguém protege nossas crianças, mas acoberta e vira a cara para a pedofilia nas igrejas; se fala em família, mas só defende a sua própria, no individualismo, sem amor ao próximo e à pátria, mas vive dizendo que quer se mudar do país que “nada presta”, enaltece o laranjal e tem complexo de vira-lata – é sinal de que os sintomas de progressismofobia estão graves.
Se você acha que Bolsonaro é o maior líder nacional de todos os tempos, que briga pela nossa liberdade apesar de sua linguagem de ódio, vulgaridade e seus ataques à democracia, querendo assassinar seus símbolos literalmente, então seu caso é patológico.
Se você só interage com autores que defendem ideias iguais às suas, embora se diga conservador, mas se alegra ao ler alguém que defende esses pontos de vista com os quais você concorda, é sinal de que sua doença já tomou conta do organismo e você a vive inconscientemente.
E o negacionismo e a aversão à cultura, como ataques a Paulo Freire e curtidas em ataques a esse filósofo, que não atacam suas ideias, mas sim a pessoa, usando-a como bode expiatório para o sucateamento do ensino brasileiro.
Afinal, o símbolo do pensador brasileiro reconhecido mundialmente é o pornô-filósofo Olavo de Carvalho. Esse é foda!
E se você oferece soluções simples para problemas complexos, para não se aprofundar, e volta seu ódio para discussões infrutíferas como ideologia de gênero, linguagem neutra e politicamente correta, evitando um debate mais amplo, isso é típico de progressismofobia.
E o saudosismo pela época da ditadura, em que o progressismo não prosperava? A qualquer sinal de avanço, havia tortura. Brilhante Ustra elevado à categoria de herói. Afinal de contas, a sociedade inteira estava doente com a progressismofobia, e era lá que os doentes tinham que ficar erradicados, como num manicômio, projeto que o alienista de Assis tentou levar a cabo, mas foi ironizado. A sociedade estava doente como numa pandemia, uma peste da insônia que assolou Macondo em Cem Anos de Solidão.
Se você tiver um ou mais desses sintomas, um médico deve ser procurado — no caso, um professor. Livros, cultura e arte são bons remédios para esse mal da aversão ao progressismo. E um chazinho antes de dormir e chorar na cama que é lugar quente.