Enganar-se a respeito de alguém, achando que essa pessoa é de um jeito quando, na verdade, é de outro — alguém que, em sua passividade, oculta agressividade. Não quero citar nomes para não expor ninguém, mas tudo foi muito estranho.
O que dava para intuir pela intuição bergsoniana, pelos valores que defende, pelo tipo de texto com que interage — tudo isso revela, no fundo, sua verdadeira visão de mundo. Mas, às vezes, a gente quer enxergar só os aspectos positivos.
Acredito que meus textos, ao acusarem o reacionarismo, miram em certas pessoas, mas acabam atingindo outras, naquilo que elas têm de mais íntimo: o próprio ressentimento.
É conhecido o pensamento de Nietzsche de que o ressentimento e o espírito de vingança são típicos de pessoas fracas e invejosas. Sempre fui cordial, enalteci uma autora com toda sinceridade, ingenuamente, sem esperar reciprocidade. Mas é natural que haja uma certa cortesia. A indiferença já era um sinal de que algo estava errado.
Além disso, o tipo de textos e autores que uma pessoa comenta também revela muito sobre sua visão de mundo. E eu não me engano. Autores que, para não dizer o mínimo, são medianos — para fracos mesmo. Para alguém que lê tanto, enaltecer esse tipo de escritor sempre me pareceu estranho. Até apertei os olhos, tentando enxergar algo que talvez estivesse despercebido. Tive boa vontade, olhei com lupa, mas não encontrei nada de especial. Isso acendeu um alerta: Xii, talvez essa pessoa seja só ornamento e nada disso que estou pensando. Cheirinho de reaça.
Então fui ler as outras pessoas que comentavam esse autor para ver se, de fato, era alguém raro, cuja genialidade minha parca capacidade cognitiva não havia compreendido. Mas ao perceber o tipo de público que acalentava seus textos, confirmei: gente de poucas letras e espirito. Afinal os semelhantes se entendem. Os vizinhos se escoram uns nos outros porque precisam de calor.
E ora, mesmo quem discorda de mim sabe que minha audiência é composta pelo suprassumo, a elite do Recanto. Todo mundo que entra aqui diariamente sabe quem é Dave le Dave. Já leu pelo menos um texto meu e, em algum momento, se remoeu de ódio à noite, querendo argumentar. Mas, diante do meu cabedal superior, passou vergonha.
O alemão, meu algoz, talvez pela senilidade avançada e falta de juízo, ousou me combater por um período, mas mais uma vez passou vergonha. E ele era até um adversário astuto. Então, o que resta? Não, os melhores publicadores do recanto estão do meu lado. Minha admiração por eles é recíproca, e eles sabem quem são.
Já com relação a ela, eu me enganei a respeito. Mas, até que escreve bonito, né? E, como sou suscetível à beleza, fui enganado. Cai no conto do vigário, tomei um “letterlock”. Mas quem ela deseja por perto, assim como os outros tipos de leitores, mostra que estão todos na mesma prateleira. Por isso, agora entendi: meus ares são altos demais para ela, e ela pode pegar um resfriado aqui em cima. Por isso, não me visitava, além, é claro, da inveja de quem não consegue mirar o sol diretamente sem danificar os olhos. Por isso, só me vê de lado ou de óculos escuros!
Apesar da minha exaltação à autora e sua indiferença para comigo — o que hoje entendo ser fruto de ressentimento e inveja —, percebia o que há de mais covarde: as indiretas. Eu, na minha ingenuidade, pensava: “Coitada para quem ela falou isso”, nem me dava conta de que poderia ser eu. Mas as indiretas foram se tornando mais constantes, e eu me perguntava: “Não é possível que isso seja pra mim. Eu, aqui, enaltecendo a pessoa, e ela me atacando, tipo picadinha de abelha. Que coisa estranha! Eu elogio, divulgo, enalteço, e em troca ela não me responde de volta e ainda me ataca.
Aí, a não publicação de comentários. Eu pensei: “O que eu fiz? O que escrevi não foi legal?” E, em comparação, ali estava um simples “parabéns”. Então, o estilo passivo-agressivo, as indiretas insinuando-me como tóxico, sem paz, sem amor, e eu negando que poderia ser eu. Mas aí, o cúmulo: “copiador que quer parecer inteligente.” Eu até entrei em gargalhada. Copiador? Essa é uma acusação nova que me fazem. Por mais dos meus desafetos, nunca me chamaram de burro ou de falta de originalidade. Ora, se tem uma coisa que exala no meu conteúdo, é justamente a originalidade, a singularidade, o modo único como sou um tecelão de ideias, reorganizando-as em algo único. A prova está nos meus inúmeros artigos culturais. E agora, me chamam de copista? Isso é de gargalhar!
E quando comparo o nível das nossas produções, porque a dela, na verdade, caberia mais no Instagram — ela está na rede errada — chega a ser cômico. Gente, eu não quero ser melhor que ninguém, mas é só abrir qualquer artigo cultural meu: o nível de originalidade e erudição é claro. Agora, uma pessoa que, vamos ser sérios, ostenta a cosmética do saber, mas que é pouco lida, quer se fazer valer por ser da elite? Falar que é cópia, que falta sabedoria, é digno de um quadro de ópera bufa, de filme do Mazzaropi, de comédia.
Agora, eu preciso aprender a ser mais cauteloso, menos generoso. Só entender a mão e retribuir quem tem a mesma reciprocidade. Ser menos aberto, focar nas coisas que eu faço bem. Produzir meu conteúdo. Brilhar mostrando a diferença, e não a comparação.
Eu tenho tanta coisa bonita ainda dentro de mim para mostrar. E começaremos amanhã. Eu sou um tronco numa correnteza. Você pode segurar em mim para salvar-se, mas não sou uma muleta. Quem tiver ouvidos para minhas verdades e olhos para minha beleza, que veja e ouça. E aplauda. E afirmo: me enganei não te admiro mais e nem quero mais te comer!