Writers’ Retreat – venho abusando desse artifício para angariar incautos aos meus textos. Mas estou aqui pelo holofote e pelo brilho do vil metal, e a minha remuneração se dá em leituras. Então, sim, vai ter “Recanto” no título! Quem quiser, que copie, mas não faça igual!
Há aqueles recantistas que usam a ferramenta disponível no site para mediar comentários, o que lhes permite controlar o conteúdo exibido em suas escrivaninhas e evitar spam, parabéns lacônicos, troca de likes e leituras de quem sequer nos lê. No entanto, esse mecanismo também pode ser usado como forma de censura, barrando o debate. O botão de exclusão e bloqueio faz calar um sujeito para sempre. Ainda assim, é um direito válido e poupa saliva, principalmente quando se trata de discussões inócuas com quem não tem argumentos e se vale apenas de gritos e sofismas para “debater”.
De certa forma, eles não estão errados. Se evocarmos o Paradoxo da Tolerância, formulado por Karl Popper, vemos que a tolerância ilimitada pode levar ao desaparecimento da própria tolerância, pois, se permitirmos que os intolerantes prosperem sem resistência, eles acabarão por silenciar os tolerantes. Assim, há momentos em que é legítimo restringir certas manifestações para preservar o espaço de diálogo genuíno.
Isso se conecta à teoria da Espiral do Silêncio, de Elisabeth Noelle-Neumann, que explica como a opinião pública pode ser manipulada quando ideias impopulares são sufocadas. Quando um grupo dominante marginaliza vozes dissonantes, cria-se um ambiente em que os divergentes se calam por medo do isolamento social. Assim, o bloqueio pode ser tanto um instrumento de proteção quanto um meio de exclusão arbitrária, dependendo de quem o usa e com que propósito.
Mas eu prefiro me alinhar mais à ideia atribuída a Voltaire (embora na verdade tenha sido formulada por sua biógrafa, Evelyn Beatrice Hall): “Posso não concordar com uma palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-la.” Para mim, o debate deve ser livre, desde que haja honestidade intelectual. Quem tem bons argumentos não precisa temer a palavra do outro—basta vencê-lo com ideias.
Por exemplo, por mais que eu discorde da religião, gosto de comungar com Nietzsche, que reconhecia a potência simbólica da liturgia católica. Ele desprezava a moral cristã, mas via na Igreja uma força estética incomparável. Em O Anticristo, ele ironiza a fé, mas admite que, se precisasse batizar algo, o faria dentro da tradição católica, tamanha a força de seus rituais e símbolos. O Cristianismo criou uma estética poderosa, do canto gregoriano às catedrais góticas, da missa solene à arte sacra. Da mesma forma, sou crítico da religião e proponho uma espiritualidade laica, mas defendo que todos possam professar sua fé livremente, qualquer que seja ela, de matizes africanas, árabes, muçulmanas, cristãs, seitas, cientologia, Enri Cristo, whatever.
Por isso, jamais bloqueei quem quer que fosse. Nunca fugi de um bom debate, nem mesmo contra energúmenos e sofistas. Diante de acusações e ataques pessoais, mantive-me firme, sem jamais excluir comentários, pois sempre confiei na minha capacidade de ridicularizar o oponente com argumentos sólidos.
No fim, essa tarefa é fácil, já que a maioria não passa de papagaio de pirata, repetindo slogans e fórmulas decoradas, prontas para serem refutadas. A história está do meu lado. Além disso, é raro que me peguem na contramão, pois nos meus textos não me aventuro a falar sobre o que desconheço. Atenho-me a explicar as ideias dos autores, como um tecelão de conceitos, entrelaçando-os com fios de ouro que reluzem como o Velo de Ouro de Crisómalo, roubado por Jasão.
É claro que, na sanha de explicar ideias complexas, permito-me certos reducionismos para me fazer entender, mas sem jamais desvirtuar a essência do pensamento exposto. Enquanto o sofista tergiversa, distorce e mente, manipulando argumentos com dados falsos de fake news, eu sigo confiando no brilho do ouro que trama minhas ideias.