Aqui no Recanto há de tudo: macumbeiros, pastores, padres, travestis, gays, hermafroditas, índios, pigmeus, anões, duendes que aprenderam a escrever em português, gêmeos siameses que digitam um com cada braço, satanistas, santas, freiras, gigolôs, proxenetas, putas, strippers e até mesmo a Kathmandu! Ou seja, temos um microcosmo do Brasil em toda sua pluralidade. E, claro, todos eles têm algo a escrever, um versinho para chamar de seu. Há até aqueles autores que comentam seus próprios textos — esses mordem o próprio cotovelo e acordam com o travesseiro nos pés.
Mas os estereótipos enganam, e é justamente isso que quero dizer. Aqueles que se abrigam no lema “Deus, Pátria e Família” muitas vezes não hesitam em levantar a mão contra uma mulher quando ela faz algo “errado”, seja um pecado como trair, seja a simples negligência das tarefas domésticas. Ironia das ironias, são os autointitulados niilistas nietzschianos — um autor que alguns distorcem para chamá-lo de misógino — os que mais defendem as mulheres, enaltecem sua força e se posicionam contra o feminicídio. Porque, diferentemente dos que vociferam dogmas sem leitura, eles entendem a essência do pensamento filosófico.
E que não se confunda isso com certo feminismo raso e pouco esclarecido, que por vezes mais atrapalha do que ajuda na luta pelos direitos das mulheres. Homens e mulheres nasceram para se entender e se complementar — e não falo no sentido bíblico, mas material. E que todas as diferenças sejam esclarecidas sob os lençóis, entre quatro paredes, onde as únicas discussões sejam feitas em gemidos de prazer, e o único trabalho restante seja lavar a roupa encharcada pelos líquidos dos amantes.
Vejo muito falso moralismo. Defendem a ética, mas transgridem no cotidiano as pequenas regras que garantiriam uma convivência minimamente civilizada. Invadem vagas para deficientes, avançam na faixa de ônibus, jogam lixo no chão, colocam catchup na pizza.
E, em casa, são os mesmos que cometem suas próprias violências, muitas vezes covardemente contra a mulher.
Esses que pregam Deus e a família, mas querem expulsar os estrangeiros, não conhecem o significado do amor ao próximo. Molham-se em regiões erógenas ao ouvir o discurso de Trump ou o português cacofônico e caipira de Bolsonaro. Mas que amor é esse, que só resiste se houver um muro de distância? É fácil amar o outro quando ele não rouba nosso emprego, não come nossa filha, não se chama Ricardón ou Big Rick angolano.