Eu já elogiei os criadores do nome Recanto das Letras. Trata-se de uma construção com um substantivo regente (Recanto) e um complemento nominal (das Letras), assim como em bolo de chocolate, onde chocolate especifica o tipo de bolo. O nome remete a um lar para algo velho, ultrapassado, mofado. E o que é mais ultrapassado hoje em dia do que as letras? Não é verdade? Não existe também o Recanto dos Artistas, que acolhe aqueles em ostracismo? Na sociedade do efêmero, do espetáculo governado pela imagem, é justamente a esse lugar que as palavras foram relegadas… a um recanto!
Sabedores disso, nós, recantistas, às vezes gostamos de ilustrar nossos textos com imagens belas, conferindo-lhes um ar mais estético, artístico. Afinal, nossa sociedade é guiada pela estética, e a fase atual do modelo capitalista se estrutura sobre o artístico, como analisou Gilles Lipovetsky. Por isso, a imagem pode complementar o texto, mas este deve sempre ter primazia. A imagem não pode chamar mais atenção do que a palavra, porque, se fosse o contrário, alguém já teria criado um site chamado Recanto das Imagens.
Minha escolha de produção neste site é escrever sobre tudo: contar sobre minha vida pessoal, cultura e arte, polêmicas, política e religião, moda e relacionamentos, sexo, prazer e drogas, esporte, música… um pouco de tudo, como um diário. Daí também minha decisão de postar fotos da minha família, de mim quando criança, na adolescência, na fase adulta e até hoje. Isso faz parte do meu diário.
Nesse sentido, eu me permito fotografar-me na academia, mesmo achando ridículo — fotos que eu não postaria em outro lugar. Ou registrar meu look do dia, algo que não faria sentido em outra rede social, mas que aqui comunica um estado de espírito, algo que quero relatar no meu diário. Para ser sincero, essas produções me dão tanto ou mais deleite do que meus conteúdos densos. Mostrar e narrar um pouco do meu dia a dia, como é a vida de um adicto em recuperação, vivendo de modo careta, sublimando seus desejos através da arte, do cultivo do belo em si, da escrita… tudo isso me dá prazer. Gosto muito! Como diria a sociofóbica!