× Capa Textos Áudios Fotos Perfil Livro de Visitas Contato
DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

Não sabe “brincar” (de escrever)? Então nem desce pro Play.

 

A Morte do Escritor: Entre a Aposentadoria e a Partida

Diz-se que um jogador de futebol morre duas vezes: a primeira quando se aposenta e a segunda quando deixa a vida. Da mesma forma, um escritor — mesmo que diletante — já começa a morrer quando abandona a escrita, e só conclui esse ciclo ao partir de vez. Talvez deixar de escrever, para quem ama escrever, seja um sintoma de quem já se cansou da vida.

 

Guerreiros de Deus e o Escrutínio Público

Por outro lado, há algo de “guerreiro de Deus” naquele que expõe seus escritos ao escrutínio público, sem censurar comentários, confiando na própria força e no poder da argumentação. Ao mesmo tempo, a fuga da escrita pode ser a admissão de que, na verdade, não se tem mais nada a dizer. “Você que fugiu para vencer, ó pátria, que deixa então ao vencido?”

 

A Fase do Camelo: O Silêncio do Criador

Nietzsche admitia a importância dos momentos de silêncio e solidão no deserto — a fase do camelo, quando ainda não somos fortes o suficiente para nos tornarmos leões, nem criativos e inocentes como a criança que supera o homem.

 

A Nostalgia e o Reacionarismo: O Passado Travestido de Saudosismo

E então, há a questão do negacionismo e do reacionarismo travestidos de saudosismo. Há algo de cômico e paradoxal na imagem que uma vez eu vi de um adolescente em um Starbucks, escrevendo em uma máquina de escrever. Escrever no papel é ótimo, mas ninguém compõe uma nova Comédia Humana, de Balzac, diretamente no papiro atualmente.

 

A Máquina de Escrever e o Roteiro da Nostalgia

Woody Allen é conhecido por dirigir filmes nos quais ele é tanto diretor quanto roteirista, produzindo quase um filme a cada dois anos. Ele os escreve em uma máquina de escrever, cortando e recortando os trechos manualmente com uma tesoura. Imagina quanto sua produção não aumentaria se ele se atualizasse e usasse um software de escrita de roteiros? Será que isso ajudaria em sua criatividade ou produção, ou atrapalharia?

 

A Prática do Passado: O Peso da Nostalgia

Às vezes, a nostalgia não é benéfica. Por exemplo, é um luxo ter livros em edição física, mas hoje, com o Kindle, tenho acesso a uma vasta biblioteca na palma da mão, posso fazer marcações nos livros e lê-los imediatamente, procurar palavras que não conheço com um simples gesto. É muito mais prático. Antes, eu teria que fazer fichamentos, transcrever trechos, consultar um dicionário.

 

O Passado Reacionário e a Inveja Intelectual

Às vezes, a nostalgia é boa, mas o passado pode ser reacionário. O pior é quem sente saudades de um passado que nunca existiu, como os saudosos da ditadura, que negam seus terrores. A inveja é algo demasiadamente humano, já diria Nietzsche, e natural. Mas o pior tipo de inveja é a intelectual, porque a inteligência deve ser admirada e servir de inspiração. Se for algo invejado, pode simplesmente paralisar, em nome da comparação, sem focar na própria produção, no que você faz bem.

 

Escrita: O Mosaico e a Conexão com o Leitor

A escrita, afinal, não precisa de tantos títulos ou personas para ser significativa. O importante é o conteúdo e a conexão que criamos com quem nos lê. Se a escrita é um “mosaico de fragmentos”, a literatura não exige despedidas formais – ela apenas continua acontecendo.

 

O Chamado do Escritor e o Silêncio

Se há tanta reverência ao RL, por que sair, professora, poeta? Se a escrita é um chamado, por que se calar? Ou será que o silêncio também é um desejo de ser lido? Quem não sabe brincar, não deveria descer para o playground.

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 23/02/2025
Alterado em 23/02/2025
Comentários