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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

SEMPRE O MELHOR TEXTO DO RECANTO DAS LETRAS

A Excelência na Simplicidade das Palavras

Durante o tempo em que meu texto repousa na página principal do Recanto, faço sempre a mesma constatação: ele é o melhor. E não digo isso por vaidade, mas porque, em termos de conteúdo, tipografia e qualidade literária, sua excelência é inegável em comparação com à miriade de outros textos que caberiam mais nas redes sociais, como Facebook ou Instagram, alguns nem isso. É justo um texto de qualidade ser sufocado por uma enxurrada de proselitismo vazio? É democrático, sem dúvida. Mas a democracia, assim como Nelson Rodrigues se referia à unanimidade, é burra—elege Trump e Bolsonaro, por exemplo.

 

Às vezes, sinto que é um desperdício escrever para colher apenas uma dezena de leituras, quando o que está ali mereceria muito mais — quem sabe até a monetização, a justa recompensa em dinheiro. Mas as letras estão desvalorizadas, e a cultura, ainda mais. E assim, sigo, semeando palavras em um solo que nem sempre reconhece seu próprio valor.

 

A Arte de Persistir: O Exemplo de Barcinski

Na live do ex-jornalista da Globo, Carlos Tramontina — aquele eternizado pelo meme “Que horas são, Tramontina? São Seis e ônibus” —, esteve presente um dos grandes nomes do jornalismo cultural, meu crítico predileto: André Barcinski. Eles debateram o desafio de fazer jornalismo cultural nos tempos atuais e a estratégia singular que Barcinski adota para sobreviver nesse meio, totalmente autônoma. Com um nome consagrado, que já brilhou na Folha de S.Paulo, no Diário Popular, na revista Bizz e em livros excelentes, ele transcende a figura do jornalista e se revela um verdadeiro empreendedor.

 

Dono de um site cultural por assinatura e de um canal no YouTube que serve como vitrine para seu trabalho, Barcinski age como um militante incansável, quase um guerrilheiro vietcongue em plena selva do Vietnã. Sua resistência não está nas trincheiras, mas nas palavras, no olhar crítico e na persistência de quem não abre mão da cultura.

 

A Diferença Entre O Homem Parcial e O Homem Total

Por mais que seu conhecimento em cinema e música ultrapasse o meu, e sua escrita seja mais limpa e concisa, confesso que, quando se trata de cultura clássica, erudição e sofisticação, o conteúdo que publico no Recanto vai além. Minha linguagem é mais poética, mais rebuscada, ainda que verborrágica e menos econômica. Enquanto ele se aprofunda na música e no cinema, eu navego também pelas águas da alta literatura, poesia, filosofia, sociologia, psicologia e psicanálise—territórios que escapam ao escopo de sua especialidade.

 

Bataille já alertava sobre a diferença entre o homem parcial e o homem total. O homem parcial domina apenas um ou outro assunto, preso a um universo delimitado. O homem total, por outro lado, transforma o conhecimento na própria chama de sua existência, fazendo dele um pedaço de si. E se há algo que jamais deixarei apagar, é esse fogo.

 

Régis Tadeu: O Crítico Que Se Perdeu na Superficialidade

Outro grande exemplo de homem parcial—aquele que conhece bem um assunto, mas se perde ao tentar abraçar o mundo—é Régis Tadeu. Inicialmente um crítico respeitável, com um vasto conhecimento musical inegável, ele acabou se tornando um fanfarrão, movido mais pela busca de polêmicas e engajamento do que pela autenticidade.

 

Não nego seu talento comunicativo, que o transformou em youtuber e, como dizem hoje, “influenciador”. Mas seu alcance se limita essencialmente à música—e, ainda assim, sem grande originalidade. Sua famosa prática de destruir discos ruins com uma furadeira, por exemplo, não passa de uma cópia descarada do que André Barcinski já fazia em seu programa “Garagem”.

 

O problema é que Régis agora se aventura em assuntos que vão muito além de sua especialidade, opinando sobre futebol, televisão, reality shows—qualquer coisa que possa gerar cliques e engajamento. O resultado? Um espetáculo de superficialidade, um verdadeiro palhaço midiático em busca de ibope, sem o menor domínio sobre os temas que aborda. Uma postura bem diferente da de Barcinski, que, apesar de também operar de forma independente, mantém sua integridade e se limita a comentar sobre aquilo que realmente entende.

 

O Peso do Conhecimento e a Superficialidade do Aprendizado

Eu fico perplexo com pessoas que, ao saberem uma coisa ou outra, já afirmam que “têm muita coisa na cabeça” para aprender algo novo. Como a mulher que trabalha comigo: sabe de cor alguns códigos do CID-10 e parece que isso a impede de assimilar qualquer outro conhecimento.

 

Ora, eu carrego na memória nomes de autores e livros, trechos inteiros de obras e poemas, ideias, pensamentos, conceitos filosóficos, discografias, formações musicais, filmografias de diretores, nomes de cineastas renomados, filmes, atores, produtores e compositores. Isso sem falar nas informações “inúteis” de cultura pop—videogames, escalações de times de futebol tradicional e americano, basquete, nomes de técnicos e jogadores, tanto atuais quanto lendários, além de estatísticas e registros do esporte.

 

E, no campo profissional, trago comigo as portarias, leis e normas que regem a certificação de inúmeros produtos do Inmetro, conhecimento da época em que atuava como consultor e que ainda aplico no meu trabalho.

 

Mas basta alguém aprender um detalhe a mais e já exclama: “Nossa, é informação demais para o meu HD interno!”

 

A Cultura Como Fonte de Aprendizado: Uma Reflexão Final

Sinceramente, como não tenho capital simbólico nem legitimidade para falar sobre cultura, para usar um termo de Bourdieu, não tenho pretensão de ganhar dinheiro com meus escritos. No entanto, isso não diminui seu mérito intelectual e seu valor, além da qualidade literária e do conteúdo, que são fontes de aprendizado para quem souber recebê-los. E, sinceramente, mereciam ser mais lidos, pois, como diz Ferdinand em Pierrot le Fou, de Godard, ao dispensar a empregada para assistir Johnny Guitar, porque seria bom para a educação dela: ‘Chega de ignorantes no mundo’.

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 16/02/2025
Alterado em 16/02/2025
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