“Homem branco ganha 15 cm! []
неу-
davamorim@m e.com
Garanta que sua garota
nunca nem pense
em te trair…
O truque secreto do cérebro do pênis
para ficar duro
(funciona todas as vezes).”**
Eu não sei por que recebo esse tipo de anúncio. Na verdade, vai direto pro spam. De duas, uma: ou querem me sacanear, ou descobriram que eu tenho o pau pequeno.
Mas vamos analisar o anúncio. Não pode ser uma indireta pra mim, porque ele é direcionado a homens brancos. Logo, eu não me encaixo. Aquele mito de que negro tem pau grande, né?
E, graças a Deus, herdei a parte boa da genética de ser negro: o bronzeado que me poupa de tomar sol, porque sou moreninho, e, modestamente, o tamanho do pau, que nunca foi motivo de preocupação — pelo contrário, até rendeu elogios. Mas, nesse sentido, em alguns momentos, não dá pra considerar muito o elogio da mulher…
Berlusconi, ex-primeiro-ministro da Itália, que não era exatamente conhecido por sua inteligência, disse sobre Obama: agora os Estados Unidos têm um presidente bonito, inteligente e… bronzeado!
Agora vamos nos atentar à segunda parte do anúncio. Ele dá a entender que o fato de uma mulher trair se deve à falta de tamanho do órgão sexual do parceiro, como se ela buscasse experiências mais intensas, digamos assim. Nada mais mentiroso. É claro que o tamanho pode ajudar a proporcionar prazer, mas um amigo meu da sexta série, Moacir, já dizia—assumidamente, aliás—que tinha o pau pequeno, apesar de seus quase dois metros de altura para a idade. E ele sempre completava: “Mais vale um pequeno brincalhão do que um grande bobalhão.”
E isso vale para o prazer. Se o prazer fosse exclusividade do pênis, como as lésbicas se relacionariam? Há tantos outros órgãos capazes de provocar sensações tão intensas quanto ele: as mãos, os dedos, a língua… Braço, não, né, amiga? Vai com calma também! A traição pode, sim, ter a ver com insatisfação sexual—algo que a mulher não se sente à vontade de fazer com o marido, mas encontra no amante—, mas não tem necessariamente a ver com o tamanho do pênis.
Minha amiga Aline Daniele fez uma grande ode ao pênis quando em seu formato duro. A autora, com uma destreza que remonta a práticas filosóficas e culturais antigas, nos lembra de como o falo, especialmente em sua forma ereta, foi tratado ao longo da história. Em diversas culturas, desde a Antiguidade, ele era adorado, não apenas como símbolo de fecundidade, mas também como representação de força e criação. No Egito Antigo, por exemplo, a imagem do falo era associada a deuses como Min e Osíris, enquanto na Grécia clássica o culto à virilidade era central nas práticas de adoração.
Por isso a atração que ele exerce. O enrijecimento do pênis é a prova cabal do desejo; o corpo não mente. O desejo pinga do corpo, escorre entre as pernas, o rosto ruboriza-se de prazer. Senti-lo, apreciá-lo. Para o sexo feminino, ele pode ter sua beleza, ser símbolo da virilidade e da força masculina, da potência do corpo humano que disputa a primazia, bombeando sangue no momento do prazer. E ele, egoisticamente, para se satisfazer, reivindica esse sangue só para si, ficando duro, as veias saltando a ponto de parecer que vão romper. A glande cresce, fica vermelha e grossa, o volume aumenta desproporcionalmente, a grossura se eleva de modo exagerado, mostrando sua sede de possuir o objeto almejado—promessa de prazer.
E essa visão pode parecer deliciosa para quem tem sede de senti-lo, de degustá-lo, de tateá-lo com todos os sentidos: com as mãos, a língua, os seios, por fora e por dentro. Mas, em termos de prazer, eu acho que a grossura diz mais do que o comprimento propriamente dito. E, mais uma vez, sou agraciado, porque o meu—modéstia à parte e com todo respeito às minhas leitoras—é grande e grosso.
Mas, voltando à traição, nenhuma mulher trairia seu marido exclusivamente por causa do tamanho do pênis. Pode ser, sim, por uma lacuna sexual, mas, principalmente, por uma falta emocional que o portador do pênis — seu amante — supre e que ela não encontra no marido.
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Hoje, mesmo no trabalho, me apareceu um caso de oncologia, câncer, com uma mulher bem mais jovem do que achei que fosse sua filha. O que devo dizer, eu pegaria nela. Bem, às vezes não sou muito parâmetro, mas ela era uma ‘coroa’ enxuta, com aquele tom de loiro ‘golpista’, sabe, daquelas que vão na manifestação pro Bolsonaro e contra o estado democrático de direito com a camisa do Brasil? Porém, para minha surpresa, ela era amante do velho e estava o acompanhando nesse momento delicado, algo que nem a família oficial, mulher e filho, fizeram. Será pela traição mesmo? Os religiosos diriam que a doença é motivo e punição pela infidelidade.
Um ótimo exemplo daquilo que Nietzsche falava sobre nossa tendência de confundir o efeito com a causa, inventando uma causa imaginada para suprir uma lacuna que escapa ao nosso entendimento. Assim, a doença não é mais um estado patológico, consequência de uma saúde debilitada e talvez uma vida de excessos e falta de cuidado, mas punição por um pecado.
Eu, por exemplo, não deixaria de me envolver só por conta do mandamento “não cobiçar a mulher do próximo”. Sei que, se ela é comprometida, não é o ideal, mas, se ela me interessou de alguma maneira, não é outra pessoa que vai ser um empecilho. No final das contas, eu sou mais eu diante de qualquer um.
Gianecchini? Caio Castro? Brad Pitt? Também. Mas eles sabem filosofia? Sabem recitar Shakespeare, Pessoa, Drummond, Augusto dos Anjos, Leminski, Castro Alves de cor? Escrevem como eu escrevo? Pois bem, eu não me atrevo a atuar, e eles não se atrevem a escrever — cada um na sua. No dia em que algum deles for capaz de escrever um texto como O Prazer que Só a Língua Pode Dar, aí eles podem vir falar comigo.
E o tempo passa. Ele é inimigo da beleza, mas o conteúdo e o conhecimento permanecem. Isso só não parece valer para o Chico Buarque.
Mas não se pode faltar confiança! Porém, como diz Ovídio: confie em si, e ela, que parece não querer, quererá! E se ela é comprometida, pior para ele. Não me interessa a opinião dele sobre mim, e sim a dela. Você me odeia, mas sua namorada me ama: e é isso que importa.
Porém, eu não sinto uma atração a mais pelo fato de ela ser comprometida ou casada, isso me é simplesmente indiferente. Aliás, isso só me faz ter um cuidado maior, uma cautela que, muitas vezes, a própria mulher não tem — como relatarei em um texto breve.
No entanto, ao ver uma garota bonita e interessante namorar um cara nada a ver, me dá certa raiva, mas ao mesmo tempo uma tranquilidade, porque aí basta eu demonstrar a diferença entre um homem de verdade e um homem parcial. Bataille, ao ler Nietzsche, diz que alguns homens são apenas parciais, têm muito só de alguma coisa: uns são um monte de orelhas, outros só nariz, alguns só músculo. Mas nunca o homem completo. E, segundo o próprio Nietzsche, a busca por superar o valor moderno de homem é alcançar o homem completo, inteiro, e não só parcial, pela metade.
É uma metáfora para dizer que há quem conheça muito só de uma coisa. Eu não sou especialista em porra nenhuma, porém, um pouco de cada coisa forma meu conhecimento, que eu tento organizar de forma original, completa.
E não me julguem: eu nunca traí ninguém. Nunca fui comprometido, só estive no papel de amante. Eu tenho vocação para ser fiel e acho a infidelidade uma vulgaridade. Se escolhermos bem nosso parceiro, não há motivo para trair nem para ser traído.
E não é o tamanho do pênis, como nesses anúncios que vemos por aí, que faz trazer a pessoa amada ou afastá-la. E sim o seu comportamento!