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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

ESCRITORES MENTIROSOS NO RECANTO DAS LETRAS

 

O Peso das Mentiras e a Filosofia da Diferença

Nietzsche diz que é relativamente raro mentirmos para os outros, que as mentiras mais frequentes são as que contamos para nós mesmos, tentando justificar uma crença, um estado de coisas ou negar um acontecimento.

 

É um grande equívoco citar várias mulheres em um mesmo texto? Talvez, mas esse site não é de relacionamento — a proposta aqui é literária, e definitivamente essa é a proposta desse texto e dessa página.

 

Deleuze é um filósofo cuja ideia central era promover bons encontros com o mundo e construir uma filosofia da diferença, ou seja, uma que exalte a singularidade de cada indivíduo, ao qual ele chamou de “esquiso”. Ele chegou a criar um método de análise, indissociável do meio e das afecções do sujeito, chamado esquizoanálise.

 

Truffaut e Godard romperam sua relação devido a divergências ideológicas e concepções artísticas. Godard queria politizar a arte, enquanto Truffaut acreditava na arte pela arte. Depois disso, passaram a usar seus filmes para se alfinetar. Em Domicílio Conjugal, Christine Darbon, ao saber que seu ex-marido Antoine Doinel pretende escrever um livro autobiográfico, diz que não gosta dessa ideia de “escrever para acertar contas”, que, se é um acerto de contas, então não é uma obra de arte. Ao mesmo tempo que era um alerta ao personagem, era uma indireta à fase politizada de Godard.

 

Se for assim, então esse meu texto não será uma obra de arte, porque não seguirei o conselho de Truffaut, apesar de concordar com ele sobre a arte pela arte. Esse texto vai ser um acerto de contas — e, como na filosofia de Deleuze, um método de demonstrar a minha diferença.

 

A Verdade que se Esconde nas Reações

Tem uma frase que roda na boca da maloka, na periferia, e que carrega sua verdade: “quem é de verdade sabe quem é de mentira”. E nesse texto, eu quero demonstrá-lo.

 

Durante muito tempo, essa página existiu com o único objetivo de expressar meus sentimentos por uma pessoa e permitir que ela me conhecesse melhor através deles.

 

Como só ela a conhecia, eu sabia, pelo número de visualizações nos textos, que era ela quem os lia. Durante um tempo, isso foi nossa forma de comunicação tácita. Por isso, eu não comentava em textos de ninguém no Recanto, para não aparecer. Tudo o que eu escrevia girava em torno dos meus sentimentos, com títulos pensados para chamar a atenção dela e de mais ninguém.

 

Ela tinha um perfil anônimo e, às vezes, escrevia sem me citar diretamente, mas eu sabia que era para mim. Até que, quando tentei interagir, fui bloqueado.

 

A Mentira em forma de Autossuficiência

Foi por isso que, por despeito, apaguei três contas antes dessa. Não para enganá-la dizendo que eu não gostava mais dela, mas para mentir para mim mesmo.

 

Veja o caso da escritora que eu apelidei de Professora, por ter entrado no RL com a proposta de ensinar sociologia — pelo mesmo motivo que eu entrei. Nesse ponto, eu me reconheço nela. Ela apagou três perfis diferentes.

 

Essa atitude irrefletida mostra total indiferença e descaso com o tempo que dedicamos aos comentários em seus textos, com o respeito pelos comentários que recebemos e até com o nosso próprio conteúdo, que, no fim, julgamos descartável. Tudo por impulso, mentindo para nós mesmos.

O estopim do último apagamento foi um comentário que ela fez num texto meu, dizendo que eu sabia que ela me amava, seguido de um “kkk”. Eu respondi que fingiria que a verdade dela era brincadeira. Depois disso, ela apagou o comentário onde dizia que me amava e, logo em seguida, excluiu sua conta. Tudo abruptamente.

 

A Falha de Caráter: Covardia e Ingratidão

Reinaldo Azevedo, brilhante jornalista, diz que, para ele, há duas grandes falhas de caráter: a covardia e a ingratidão.

 

A covardia não é quando você escolhe fugir estrategicamente diante de um oponente mais forte, que iria te destruir – isso é se preservar, porque enfrentá-lo seria burrice. Nesses casos, é preciso pensar em outra estratégia para enfrentá-lo. Mas covardia é ser valente contra adversários mais fracos, como aqueles trumpistas e bolsonaristas que se mostram valentes ao expulsarem minorias. Ou os comediantes que fazem piadas com grupos vulneráveis – por que não fazem piada com alguém mais forte?

 

E covardia também é fugir das coisas que estão sob seu controle, fugir dos próprios sentimentos por medo de encarar a realidade e agir por impulso. Nietzsche dizia que essa tendência de agir instintivamente, sem pensar, ao menor estímulo do mundo, é típica de organismos fracos. E foi exatamente isso que eu fiz quando apaguei minhas contas no RL, agindo covardemente e mentindo para mim mesmo, esperando uma reação da pessoa que eu gostava. Mas consegui exatamente o oposto.

 

A Fuga da Verdade e a Busca pelo Reconhecimento

Outra mentira que contamos para nós mesmos é dar a nós um valor maior do que realmente temos. Se eu escolho não ter redes sociais e opto por me expressar neste site literário, que privilegia a linguagem em detrimento da imagem, estou demonstrando quais são os meus valores. Como diz Sartre, minhas ações definem quem eu sou e o mundo em que quero viver. Agora, preferir deixar de escrever, fugir e escolher um site como o Instagram demonstra que você quer brilhar e confia mais na sua aparência. Talvez eu tenha me enganado sobre essa pessoa. Talvez ela seja só um invólucro, um rosto bonito que seduz pela boa aparência, mas sem nada para dizer. E, para mim, isso é um grande esforço de mostrar mediocridade.

 

A Rejeição ao Medíocre: O Valor da Criatividade

Ora, há tanta coisa que se pode fazer para produzir conteúdo. É possível analisar um poema, resenhar um filme, escrever uma crônica sobre o dia, criar uma prosa poética brincando com as palavras, interpretar uma letra de música, arriscar alguns versos em um poema ou até mesmo elaborar frases curtas e espirituosas. Incrivelmente, minha amiga Flora domina todos esses estilos e os combina com maestria. Para falar a verdade, de todos os usuários do Recanto, sem dúvida alguma, é com ela que tenho mais afinidade intelectual.

 

Vi ataques anônimos contra Alline Danielle, dizendo que ela não teria conteúdo. Mas a verdade é que ela domina a língua portuguesa como poucas, criando poemas sensuais e instigantes que são para pouquíssimos. Enquanto isso, quem a critica permanece oculto, escondido em casa, sem nada a oferecer além de julgamentos vazios.

 

A Incoerência do Olhar Crítico

E a Luciana Franklin, com sua esquisitice que combina com a minha. Recentemente, ela me desbloqueou, voltou a comentar nas minhas publicações e aceitou meus comentários, mas, de repente, passou a apagá-los novamente. Agora, só os aceita mediante intermediação. Eu me pergunto: o que foi que eu fiz? Ela sabe da minha admiração por ela.

 

Enquanto aceita comentários genéricos de “parabéns”, apagar os meus—que são espirituosos, únicos e contribuem com o texto—é uma grande forma de ingratidão. Ando sem tempo para o RL. Quando entro aqui, é para produzir meu conteúdo, então faço pouquíssimos comentários por dia—não passam de cinco, a média deve ser três, às vezes só um. Então, quando comento, é porque realmente li o texto, gosto da pessoa e quero deixar algo único. Separei meu tempo, que é corrido entre estudos, atividade física, trabalho e escrita, para deixar um comentário só para ela—sempre visando enaltecer o trabalho e contribuir com o texto—e ver isso ser apagado é, no mínimo, falta de respeito. Por isso, Reinaldo Azevedo dizia que a ingratidão é uma falha de caráter.

 

A Falta de Coerência nas Leitura e Reações

Além disso, vi que a Luciana indicou o livro Matéria e Memória de Bergson para um autor. Fui ver o perfil dele e percebi que se trata de um religioso devoto, intransigente, que, em um de seus textos, diz “dar graças a Deus por não ser um viciado como muitos”—usando esse termo pejorativo para se referir à dependência química. Acho que a Luciana se equivocou; essa não é uma leitura recomendada para alguém assim, alguém que chama um adicto de “drogado”.

 

Temos que agir com coerência. Uma pessoa que se diz leitora de Deleuze preferindo a convivência e os comentários de um autor intransigente como esse a alguém que, como eu, vive a filosofia da diferença na prática? Isso eu não consigo entender. Esse autor, no fim das contas, só conhece um livro bem: a Bíblia.

 

O Valor do Amor e a Busca pela Verdade

Nietzsche diz que o que tem valor não precisa ser demonstrado, mas, ainda assim, farei questão de demonstrar:

 

Nos últimos textos, só eu citei a Bíblia, no livro de Eclesiastes, para falar sobre amor não correspondido; usei a Bíblia para falar sobre a metafísica da linguagem, cometendo a heresia e a originalidade de usar um tom erótico e provocativo. Escrevi um texto culto citando músicas de Victor e Leo, Barões da Pisadinha e Turma do Pagode, esbanjando criatividade e originalidade. Para responder ao desatino da autora e falar sobre a covardia do amor em fuga, fiz uma análise profunda da filmografia da série Antoine Doinel, de Truffaut, dos longas aos curtas, até chegar no filme título do texto, relacionando tudo com o poema “O Amor Bate na Porta, o Amor Bate na Aorta”, de Drummond. Ou seja, não é uma simples resposta; é diferente, tem embasamento, é original. O que tem valor não precisa ser demonstrado.

 

A Fuga do Amor e a Suposta Mente Fertilizada

A prova de que o amor foge é que fui conversar com a única outra pessoa que julguei equivocadamente ter amado na época do colégio. Fiquei atônito quando ela disse que minha mente era fértil e que a tendência era cair na libertinagem. Tudo porque eu elogiara a cor da unha dela, dizendo que o vermelho, como um amigo meu um dia me disse, remetia a uma mulher ousada.

 

Aí, a discussão descambou para o feminismo. Ela comentou sobre a imprudência de eu falar, pedindo para amadurecer meus argumentos, afirmando que a sociedade patriarcal objetificou a mulher ao definir a cor vermelha como sendo de uma mulher ousada ou fácil. Se tem algo que cansa minha beleza é o feminismo. Mas, o que me exalta é a feminista ainda pouco lida – e essa é ela.

 

Uma simples porra de uma unha que eu elogiei? Coitada. A pobre não sabia a diferença de duas décadas de leitura que nos separaram desde o colégio, então evoquei os conceitos de Bergson, a intuição de Bergson e o habitus de Pierre Bourdieu, para explicar que a ousadia do subconsciente é influenciada por tudo ao redor e pode refletir nosso estado interno, incluindo a escolha consciente de uma cor de unha. E ainda falei das teorias do subconsciente de Freud.

 

Ela, sem argumentos, falou sobre psicologia teórica. Chato e kkkkk. Eu disse que ela pediu argumentos e dei, mas ainda citei Foucault e Nietzsche. Ela respondeu dizendo que é advogada e prefere argumentos empíricos, não teóricos. Mas teoria e vivência são indissociáveis. Filosofia é pensar a vida e viver o pensamento.

 

No entanto, ela falou algo interessante: não adianta montar argumentos baseados no pensamento de outros. O que vale é o seu entendimento e como você reorganiza isso de maneira original. O que adianta um texto cheio de citações de livros e fontes biográficas? Ora, se eu quiser saber o que o autor pensa, eu leio diretamente o autor original, não você. Zaratustra, nesse contexto, compara os intelectuais a relógios de corda, nos quais você dá corda e eles apenas dizem as horas, mas nada além disso.

 

O feminismo pouco lido dessa garota, que infelizmente eu julguei amar, é muito diferente do da minha amiga Flora. E, embora ambas façam Direito, é impressionante como estão a anos-luz de distância em discernimento e capacidade intelectual.

 

A Reação da Indiferença e a Fragilidade de Luciana

Agora, eu não sei o que motivou a Luciana a apagar meus comentários. Certamente, eu não comentaria sobre o pedantismo de achar que ela também gosta ou sente algo por mim; ao contrário, ela me parece ser meio andrógina ou talvez assexuada, sei lá. Mas o fato é que, de alguma forma, eu a abalei. Se fui a causa de ela ter optado por intermediar os comentários, de certa forma, abalei.

 

O Custo do Amor e a Grande Ingratidão

Mas a maior ingratidão vem da pessoa que amo, pois, como disse, esta página existe ou existiu só para ela. E, conforme se popularizou, comecei a interagir com outras pessoas. Então, quando a procurei e ela disse que iria acionar a polícia e advogados, eu não me magoei tanto, pois entendi que a reação foi por impulso, mais ocasionada por ciúmes.

 

Ela, que nunca me respondia, resolveu me responder justo nesse momento, em que apareceu na minha página a professora com quem eu flertava. Ela quis me magoar dizendo isso, e novamente mentiu para si mesma, dizendo que não sentia nada. Porém, a maior forma de ingratidão foi quando passei por aquele período delicado de abstinência no início do processo e não recebi nenhuma mensagem de apoio ou incentivo, que teria sido importante, nem mesmo de uma pessoa anônima, talvez com um pseudônimo como “Gio”, que indicasse que ela me daria forças naquela época.

 

Nada do que eu planejei naqueles tempos deu certo, mas, devido à minha força de vontade, foi mais fácil do que imaginei, e hoje estou melhor do que nunca. Cuidando do corpo, não há um dia em que eu não faça atividade física, da mente, todos os dias escrevo algo novo, e trabalhando e produzindo. Exercendo a minha filosofia da diferença, proposta por Nietzsche e Deleuze, sem espaço para mentiras. Aqui, é tudo demasiadamente real.

 

A Verdade do Eu e o Amor que Escapa

Agora, a história de covardia, mentiras e ingratidão que contei se assemelha. Todos preferiram mentir para si mesmos ao fazer uma reação que ocultava seus verdadeiros sentimentos, esperando um efeito ou resultado e conseguindo exatamente o oposto. Preferiram a fuga e o anonimato, ao invés de encarar o amor, criando um pseudônimo. Não tinham nada a dizer, nem conteúdo para mostrar.

 

Talvez buscavam apenas encantar e seduzir, mostrando que são “fodas” pela aparência, pelo status ou pela conta bancária. Demonstraram ingratidão quando o conteúdo que eu dediquei meu tempo para criar, exaltando suas características únicas, foi apagado ou até bloqueado em algum momento, mostrando desrespeito, imaturidade e falta de capacidade de reconhecer o valor das coisas.

 

No entanto, eu não sou ingrato, covarde e procuro não mentir para mim mesmo. Por isso, sei reconhecer quem esteve comigo nos tempos difíceis, quando a esperança era pouca, me lendo quando ninguém mais estava presente. Me amar agora, quando estou lúcido, bonito, elegante, gostoso e produtivo, é fácil. Mas, quando estava caído na adicção, foi só quem estava pronto para o amor que esteve ao meu lado. E saberei retribuir, se a pessoa aceitar.

 

Também não me engano e sei quem eu amo de verdade. Não sou covarde, e continuo aqui, demonstrando minha diferença, minha singularidade, mesmo que o resultado seja mais mentiras, mais ingratidão e fuga. Pelo menos, fui verdadeiro comigo mesmo. E um dia, aparecerá alguém que ame na mesma sintonia que eu, merecedora do meu amor.

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 08/02/2025
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