Girl, you know my type, my kind. Este texto é mais uma fusão entre confissão e erudição, misturando as Confissões de Agostinho e os ensaios de Montaigne para falar de desejo e falta de desejo.
Paulo Leminski tem uma brilhante exposição em que explana a importância do grafite e da pichação como expressão artística. Para ele, em termos de arte, ambas equivaleriam a uma interrogação—algo para chamar a atenção, um protesto. O poeta paranaense relata a época em que trabalhava em uma agência de publicidade, onde sua rotina exigia que ficasse boa parte do tempo sentado. Para expressar sua insatisfação, resolveu pichar no muro em frente ao prédio onde trabalhava a mensagem: “Sentado não tem sentido.”
Pode parecer apenas uma simples pichação, mas a métrica perfeita e o jogo de palavras entre sentado e sentido conferem espirituosidade e lirismo ao protesto enquanto expressão artística. Talvez por isso Leminski fosse especialista no poema curto, o haicai, cuja métrica se compõe de apenas três versos—muito semelhante aos pequenos poetrix, nos quais nossa musa do erotismo e da sensualidade invulgar, Alline Danielle, é perita, capaz de provocar o êxtase com tão poucas palavras.
Uso esse mesmo jogo de palavras, mas sem a verve artística, para expressar que puro não é pior—dizendo que uma vida sem aditivos, embora à primeira vista possa parecer careta, é muito mais prazerosa e gratificante. Para ilustrar isso, recorro ao exemplo de uma live de vendas de jogos e videogames retrô da loja Pereira Retro Games.
Fiquei na dúvida se mencionava o nome da loja, dado o teor do que vou falar, mas foda-se—ele é adulto e praticamente uma figura pública. Gosto de assistir a essas lives não para comprar algo, mas pelo sentimento de nostalgia que despertam. Curto ver os itens valiosos—fitas e jogos da minha infância que hoje valem centenas, às vezes milhares de reais—e perceber como há gente disposta a gastar dinheiro nisso, algo que pode parecer uma superficialidade. A cada minuto, o dinheiro pinga na conta do Pereira. Existe uma verdadeira bolha dos retro games atualmente—é moda, digamos assim. Um jogo completo na caixa pode valer mais de mil reais. Um console antigo, mesmo com a caixa velha, pode ultrapassar os dois mil, dependendo do modelo.
Vocês sabem que sou um grande admirador de livros. Gosto do cheiro, da sensação tátil que só o papiro pode proporcionar, da estética que eles conferem ao ambiente. Mas, sinceramente, hoje em dia isso virou um clichê. No mundo atual, faz muito mais sentido ter um vasto catálogo disponível no Kindle, que é mais prático. Por isso, se eu tivesse um hobby e algo para decorar por pura vaidade, seria uma gamer room—uma coleção de jogos, videogames antigos e atuais, e fliperamas. Mas tudo tem que ser funcional, nada pode ser apenas decorativo. E também não pode virar uma coisa de acumulador—tem que ser bem organizado, como a coleção do Luiz, do RetroGamer Brasil, que tinha um canal maravilhoso no YouTube, mas, apesar do sucesso, acabou descontinuado por causa de outros afazeres (mulher).
Mas, de fato, ter paciência para colecionar é quase uma doença—não à toa criaram até uma camisa com o slogan “Respeita minha doença”. Isso, no entanto, não significa que alguém que tenha uma gamer room seja viciado em videogame ou um grande jogador. É o mesmo que dizer que alguém que goste de assistir futebol e colecionar camisas, como meu irmão, tenha que ser um Pelé do esporte.
Eu mesmo gosto de assistir, mas, hoje em dia, quase não jogo. Meu videogame mais atual é um óculos de realidade virtual do Facebook, que realmente oferece uma experiência diferente de jogar. Há um RPG que explora a mitologia nórdica e permite uma imersão total no universo fantástico do jogo—você se sente dentro de outra realidade. Mas, para quem não está acostumado, no início pode dar enjoo.
Voltando ao Pereira e ao assunto do texto: ele estava fazendo uma live e visivelmente mais alegre que o normal. Nos comentários, já brincavam sobre terem trocado a água ou o café, mas, para quem conhece o efeito, aquilo não era álcool. Ele estava confiante, o nariz brilhando. Disse que gosta do cheiro de retro games, e logo alguém comentou: “Eu sei do que você gosta de cheirar.” Enfim, ele estava claramente alterado—mas vendendo bem.
Até que, em determinado momento, bateu uma vibe ruim, perceptível tanto pelo seu semblante quanto pelo número crescente de comentários falando que “as drogas aí tão foda”. O ápice foi uma mensagem da mulher dele, que sempre aparece no chat, mas que, dessa vez, mandou um recado anônimo no celular do marido dizendo que a live estava chata. Foi aí que ele se abateu de vez. Tentou ficar mais sério e, já desconcertado, soltou que, naquela noite, dormiria no sofá.
Essa é a ilusão dos aditivos: você pode estar numa vibe completamente diferente dos outros e, de repente, o efeito passar e vir uma bad trip repentina. Sem falar no controle das doses. Uma pode ser legal, mais uma parece inofensiva, mas, dependendo do intervalo, os efeitos podem se somar de um jeito que, de repente, o que era prazeroso vira o completo oposto.
Na sua cabeça, você tá imaginando uma maravilha, mas chega na hora e não é nada disso.
É verdade, meu rendimento no trabalho era muito maior, eu tinha mais energia, fazia mil coisas ao mesmo tempo, e ninguém nunca desconfiou—pela minha aparência de bom moço, nem meu amigo, que tem histórico de dependência. Hoje faço muito menos e vivo cansado. Mas tenho saúde, e meu atendimento não é mais robotizado. Agora é humanizado, empático, exalando prazer e alegria em trabalhar. Tem mais qualidade do que quantidade.
Agora, falando em qualidade x quantidade, falando em prazer, falando em sexo… É claro que, sem o uso de aditivos, minhas aventuras sexuais diminuíram. Mas, por outro lado, minha performance melhorou bastante. Tenho bem mais fôlego e disposição pra oferecer prazer pra minha parceira.
Meu colega de trabalho, o do ménage bonitão, fala que relaciona drogas ao sexo, que, na real, pra ele, as drogas são só um pretexto pra putaria. Eu já não vejo dessa forma. Pra mim, eram as drogas que despertavam meu desejo sexual, que me faziam buscar insanidades e prazeres efêmeros.
É verdade: desde o começo do ano, só tive dois encontros sexuais, e foi com a mesma pessoa. Nem dá pra dizer que sou mulherengo. Se fosse, eu não teria cortado contato com aquela coroa louca do ano passado, nem com essa carioca que deve estar em São Paulo e que, ontem mesmo, me mandou mensagem. Se eu fosse libertino, mulherengo, eu respondia. Claro, um dos motivos de eu não responder é que meu cartão tá com a minha mãe, mas, se eu quisesse, dava um jeito. No fim das contas, era só pedir.
A real é que os aditivos aumentam muito a libido e fazem a tendência de buscar satisfação imediata crescer—às vezes, de um jeito solipsista e onanista. Sem usar nada, eu nunca vejo filme pornô, não vejo a menor graça, não me estimula em nada. Mas, se uso, acabo vendo. Mesmo assim, prefiro um conteúdo mais voyeur, que explore mais a sensualidade da mulher. Já falei do meu fetiche-parafilia de ver try on de lingerie. Mas, no fundo, acho que também já enjoei. Fui adolescente, passei boa parte da puberdade nesses sites, e hoje em dia não vejo mais graça.
Agora, pra fazer outra confissão polêmica: minha primeira parafilia foi naquela época constrangedora em que meu irmão viu meu histórico de pesquisa no Windows e deu de cara com “9 months fuck pregnant”. Eu até revelei essa predileção pra alguns amigos, mas foi só uma fase. Acho que tava ligado ao inusitado, ao fato de ser um tipo de corpo que tem sua beleza, e à ideia de que a pessoa, em teoria, deveria estar repousando, mas ainda sente excitação e se expõe a esse tipo de prática. Na época, pensar nisso me excitava. Mas foi fase. Hoje, não ligo mais pra esse tipo de coisa.
Mas tá vendo? Eu revelo tudo. Um verdadeiro confessionário.
E outra: no sexo, pra mim, a pior parte é o orgasmo. Eu gosto das preliminares, de ver o ato, de sentir, de tocar, de observar, de meter mesmo—não de gozar. O gozo é a pior parte, porque é quando tudo acaba. Mas, se for simultâneo com o da minha parceira, bendito seja Deus. O dela é mais prazeroso que o meu próprio. Saber que eu fui o motivo do orgasmo dela é muito mais satisfatório do que o meu.
E pra preencher o vazio, tem a prática moderna do sexting—sabe, mensagens eróticas com pessoas que conheci em aplicativos de relacionamento. E, vocês sabem, pela minha facilidade com a linguagem escrita e meu poder de convencimento, já consegui declarações e nudes que fariam até Lúcifer ruborizar.
Ah, e como eu já falei que tenho o óculos de realidade virtual, também testei pornô em VR. Mas, sinceramente, achei muito chato e menos prático do que simplesmente pegar um iPad ou celular e abrir o Xvideos, rs. Sem falar que as mulheres parecem ter 3 metros de altura—não gosto. Porém, já entrei em chats de realidade virtual, nesses multiversos, e tive conversas pra lá de eróticas, inclusive com uma brasileira uma vez.
Bom, algumas dessas experiências acabaram se concretizando na vida real, mas a maioria é só coisa de momento, algo que eu nem faço questão de lembrar no dia seguinte—às vezes por falta de interesse, às vezes por causa da distância. Mas, de vez em quando, o desejo não encontra barreiras geográficas. A carioca veio do Rio só pra me ver e, até ontem, ainda me mandava mensagem. Como vou mostrar a seguir, pra ninguém achar que tô inventando. Claro, tomando o cuidado de preservar a identidade dela.
E eu valorizo essa atitude dela de me procurar. Prefiro mulheres decididas assim do que aquelas que fogem por medo. Se eu não respondo, é porque, às vezes, é melhor não dizer nada do que falar algo que pode magoar. O silêncio, nesse caso, subentende tudo. Mas é um silêncio muito diferente daquele de quem não tem nada a dizer. É o silêncio eloquente de quem sente, de quem ama, aquele que, às vezes, só pode ser expresso em gestos.
Eu sou educado, um cavalheiro. O único motivo pra pessoa que eu amo ter receio de mim é porque não convive comigo. Pensa nisso: minha colega de trabalho, aquela da carona, é casada com o mesmo cara há mais de 30 anos—o único homem dela desde o colégio. Morre de medo de ficar sozinha por causa dos outros homens, tem síndrome do pânico, evita falar com qualquer um. Mas pra mim, ofereceu carona à noite, na chuva. Você acha que eu sou qualquer um? Que eu não sou um cavalheiro? Que eu não sei tratar uma mulher?
Sim, eu gosto de mulher. Mas não sou mulherengo. Gosto de liberdade, mas não confunda com libertinagem. Sou safado, mas com carinho. Uma frase bonita de alguém que abomino e que é sanguinário: “Há que endurecer, porém sem perder a ternura, jamais.”
Posso até fazer alusão ao desejo, ao “enrijecimento” do órgão sexual masculino no momento do sexo, mas sempre com amor e ternura.
E, pra fazer o link com a ideia de pichação e grafite como protesto proposta por Leminski, compartilho a foto abaixo, que resume tudo.
A seguir, a prova de que não sou um Forest Gump.