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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

RECANTO DAS LETRAS: QUALIDADE X QUANTIDADE

Cada dia, uma surpresa diferente nesse local. Em um texto recente, falei sobre como comentários lacônicos e genéricos fazem mal à plataforma, comparando-os a spam. No entanto, há alguns usuários que preferem esse tipo de comentário em vez de um mais elaborado, com singularidade, espiritualidade e até mesmo um elogio ao seu texto e à sua beleza — que, diga-se de passagem, é rara no Brasil, mais encontrada em países nórdicos, no Leste Europeu e nos Bálcãs, algo que de fato me chamou atenção. E, claro, tudo isso com muito respeito e educação.

 

O recantista lendário Miguel Carqueija já havia comentado comigo sobre a peculiaridade de alguns usuários que não gostam de receber elogios. Mas essa comentarista não só apagou meu comentário como me bloqueou! E o pior: manteve apenas comentários recônditos e banais, simples “parabéns” de pessoas que provavelmente sequer se deram ao trabalho de ler o texto.

 

Em uma entrevista sobre o lançamento de seu filme mais famoso, O Desprezo — uma história de amor filmada de modo totalmente poético e singular, característico do diretor —, Jean-Luc Godard reflete que nunca conheceu o sentimento de desprezo, demonstrando uma confiança inabalável em si mesmo e em sua capacidade artística. Eu já escrevi sobre indiferença, e o desprezo se assemelha a ela. Assim como o gênio francês do cinema, posso afirmar que nunca conheci nem uma coisa nem outra. As pessoas podem não gostar de mim, mas não conseguem ser indiferentes, porque eu abalo. E também não me desprezam, porque só se despreza aquilo que não se respeita. E, ironicamente, até quem não gosta de mim me respeita — e quem me odeia, me respeita mais ainda. Como bem sabemos, o ódio é um sentimento mais fiel do que o amor.

 

O fato de a autora nem me conhecer e já me bloquear de cara, preferindo receber comentários banais a um que eu fiz tirando um tempo só para ela, exaltando uma qualidade particular dela em detrimento daqueles que só prezam pela quantidade de interações como spam, mostra que talvez eu esteja errado sobre ela. Talvez ela seja apenas mais um rostinho bonito na plataforma, um invólucro, pois essa ação reflete o que ela valoriza ou não. Mas, ao agir assim, ela apagou sua própria imagem.

 

Há autores no Recanto que postam bastante, como Paulo Miranda, mas não é um caso de quem opta pela quantidade em detrimento da qualidade. O mestre inventou um método próprio de produção literária: os “textículos”. E ele é mestre neles, brincando com a língua, fazendo trocadilhos engraçados e criativos, unindo quantidade com qualidade e singularidade.

 

Outra autora que admiro, que também produz bastante — textos curtos, bem-humorados ou informativos, que mostram toda a idiossincrasia dela —, embora tenha me bloqueado em sua escrivaninha por conta de um mal-entendido, é Luciana Franklin. Ela tá pouco se fodendo para visualizações ou comentários, só quer exercer sua singularidade. E nisso eu me identifico: nessa esquisitice dela, nesse lado weirdo que não deseja aparecer, só ser ela mesma. Pra ela, eu tiro meu chapéu, Raul Gil!

 

Minha amiga Kathmandu é seletiva e só escreve quando está com vontade de sambar na cara da sociedade. Mas, quando resolve, faz com classe, talento, verve artística e literária. E a Flor, com suas poesias tão delicadas quanto seu apelido.

 

Mas há também autores que comentam feito spam, com comentários rasos, e seus conteúdos refletem a superficialidade dos seus comentários.

 

Para quem tiver dúvida da classe do meu comentário, aqui segue o comentário que eu iria fazer antes do bloqueio, em uma poesia que versava sobre tristeza:

 

“Como diz Vinicius de Moraes: “Tristeza não tem fim, felicidade sim.” Mas eu desconfio de quem está sempre sorrindo ou feliz, numa sociedade tão desigual e num mundo que revela tanta tristeza. Essas pessoas só podem ter alguma psicopatia, igual ao Coringa, com seu sorriso doentio estampado no rosto e o slogan Why so serious?

 

A tristeza e a dor são essenciais para a criação artística. Sem elas, a arte não existiria, então devemos ser gratos pelos momentos de melancolia. Mas não há tristeza que não tenha fim, nem alegria que dure para sempre — diz a sabedoria antiga. Podemos encarar a dor como um ritual de passagem, porque é através dela que ficamos mais fortes. Afinal, como diz Nietzsche: “Aquilo que não nos mata, nos fortalece.”

 

Mas se tem uma frase que resume meu estado espiritual, entre alegria e tristeza, foi Woody Allen quem disse: “Ah, como eu seria feliz se eu fosse feliz.”

 

Viva a tristeza eternizada no seu belo poema, que, mesmo curto, poderia ser um haicai assinado por Paulo Leminski. Admito que sua beleza e talento literário me fascinam com um magnetismo próprio, me trazendo de volta à sua página.

 

Beijos carinhosos e ternos, com respeito e admiração.”

 

Mas no lugar dele está um: parabéns pela poesia!

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 30/01/2025
Alterado em 30/01/2025
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