Quando tomei nota de que a professora, a Diva, e Littlefunny tinha apagado novamente a sua conta, minha reação instantânea—eu estava indo para o trabalho—foi colocar a música que adoro do Paralamas do Sucesso, “Ela Disse Adeus”.
Gosto de como essa música possui uma melodia harmoniosa que transmite otimismo e alegria diante de um tema tão triste: o fim de um relacionamento. Essa dicotomia intrigante a torna bela. O ritmo alegre parece refletir a nova fase da mulher da história, que percebeu que o amor acabou, algo bem destacado no refrão em inglês:
“Now the deed is done as you blink she is gone
Let her get on with life
Let her have some fun.”
Na minha tradução livre:
“Agora a merda já foi feita, você deu mole e ela se foi. Deixe-a seguir com a vida dela, porque ela vai se divertir para caralho sem você.”
A letra descreve um relacionamento que se desgastou, talvez pela monotonia, pela falta de reciprocidade ou pela impossibilidade de aprendizado e crescimento mútuo.
Exemplifica isso nos seguintes trechos:
“Ela disse adeus, e chorou
Já sem nenhum sinal de amor
Ela se vestiu, e se olhou
Sem luxo, mas se perfumou.”
Chorou, talvez, pelas lembranças dos velhos tempos, pelo carinho, mas principalmente pelo tempo perdido em um relacionamento que não levava a nada. Sua indiferença era tão grande, e já não havia mais nenhum sinal de amor, que ela nem sentia necessidade de estar arrumada para ele. Vestiu-se “sem luxo”, como um gesto de amor-próprio, para si mesma, e não para o outro. Ao se perfumar, demonstrou que estava disposta a seguir em frente, e “have some fun”, sem aquele obstáculo que já não agregava mais nada em sua vida.
“Ele quis lhe pedir pra ficar
De nada ia adiantar
Quis lhe prometer melhorar
E quem iria acreditar?”
Não se melhora de uma hora para outra. Não se transforma, repentinamente, no “homem dos sonhos” ou em uma pessoa interessante, intrigante, digna de compartilhar uma vida inteira. Isso exige tempo, dedicação, esforço e estudo. Quando ela percebeu a realidade, se deu conta de algo que é resumido nos versos:
“Ela não precisa mais de você
Sempre o último a saber.”
O problema é que algumas pessoas, em seu egoísmo, se acham o máximo: autossuficientes, sem necessidade de aprender algo com o outro, como se já tivessem tudo que precisam na vida—status, beleza, dinheiro, conforto. Mas ignoram seu próprio vazio, sua falta de sentido, sua ausência de significado e amor verdadeiro. Não percebem a “parte que falta”.
Porém, acredito que pior do que tudo isso é a ingratidão. Agir repentinamente e apagar comentários sinceros e elogios que, em minha rotina, separo um espaço do meu tempo para escrever, com a intenção de enaltecer uma qualidade, alegrar alguém ou mostrar afinidade entre nossa histórias, estabelecer vínculos afetivos. E, então, ver isso ser apagado, talvez por vaidade ou para provocar uma reação da minha parte—um texto, por exemplo. Pois bem, aqui está: a pessoa conseguiu.
Mas sempre digo que “a sisudez em uma criança é tão ridícula quanto a criancice em um velho”. Em outras palavras, uma jovem moça madura, na flor da idade, agindo feito criança ou com birra de adolescente, por pura vaidade ou por capricho… Você chamaria isso de amor?
A verdade é que sempre estive só nesses 33 anos de vida. Até agora, estive bem. Mas nunca estive sozinho, porque sempre estive acompanhado dos meus próprios pensamentos. Enquanto for assim, serei sempre livre, como o príncipe Hamlet, que disse que poderia viver confinado na casca de uma noz e ainda se considerar o rei de um espaço infinito, desde que pudesse pensar!
Nunca me canso da minha própria companhia. Porém, assim como Zaratustra, que passou demasiado tempo em sua floresta e cansou-se da solidão, busco companhia. Mãos que se estendam. Como a abelha que acumulou mel demais ou como o pote que quer transbordar. Essa é a verdadeira virtude dadivosa: compartilhar, mas também receber, em ajuda mútua. É isso que procuro em um relacionamento. Busco mãos que se estendam, não por favor ou piedade, mas como uma distinção e reconhecimento do meu valor!