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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

Objetivo Atualizado do Recanto das Letras e a Anatomia do Corpo

Para quem chegou recentemente na minha página e ainda não sabe por que entrei neste espaço, esclace-lo-ei pois sou sincero quanto ao meu objetivo. Procuro ser transparente com meus sentimentos e com as pessoas, para não enganar ninguém. Embora eu seja adepto das instituições do galanteio, do cavalheirismo e do flerte, quando estou diante da beleza ou de uma característica que me chama atenção — como inteligência ou talento literário —, faço questão de elogiar.

 

Embora eu não tenha com isso nenhum grande objetivo além do interesse sincero de incentivar e destacar uma característica singular de alguém que chamou minha atenção, não descarto uma aproximação, uma amizade ou algo mais. Convenhamos, algumas pessoas têm características tão excepcionais, como as mencionadas, que são um verdadeiro convite ao prazer. Elas unem beleza, inteligência, qualidade literária e sensualidade, características que instigam ao mesmo tempo imaginação e o desejo de qualquer um. Tenho uma pessoa em mente, a quem carinhosamente apelidei de “professora”, para citar um exemplo (beijos, professora!).

 

Como disse, sou satisfeito com o histórico e as experiências da minha vida sexual, mas sou um fracasso no amor. Só amei duas pessoas na vida: uma no colégio, que já esqueci e que deu lugar à pessoa que amo atualmente — quem me inspirou a criar esta página, como os leitores antigos sabem. Para ser sincero com quem, por acaso, nutra sentimentos por mim além da admiração literária, digo que criei esta página apenas para me sentir mais perto da pessoa que amo. Ela é muito especial na minha vida.

 

Para além do desejo físico, da beleza e do prazer, o que me move é o amor, além do compromisso ético e da responsabilidade afetiva que envolvem esse sentimento. Meu caso, no entanto, é complexo. A pessoa que amo, embora aparentemente esteja presente e seja minha principal leitora, me acompanha por meio dos textos desde a criação da página, em 2020. Ela lê até mesmo textos antigos, que acredito que só ela teria interesse em ler, especialmente os que falam de desejo, amor ou atração que sinto por ela. Por isso, digo que sua presença é uma ausência.

 

Por causa das distâncias sociais entre nós — que explicarei — e talvez devido o meu histórico de dependência química, ela não fala comigo diretamente. Só interage por meio de uma página no Recanto das Letras, usando um pseudônimo que descobri por acaso. Nunca se identifica diretamente ou me menciona, mas sei que é ela. Nossa história de amor é bonita, embora inocente e banal.

 

Sou crítico dos relacionamentos de aplicativos, que apresentam pessoas como se fossem um catálogo ou cardápio de restaurante à la carte, algo a ser escolhido de acordo com preferências pessoais. Paradoxalmente, porém, esses aplicativos podem aproximar pessoas com gostos semelhantes que, pela distância física ou social, jamais se conheceriam. Isso muda a lógica dos relacionamentos de antigamente, em que as pessoas se casavam dentro de seu ciclo social, pela proximidade e convívio, mas, às vezes, sem muitas afinidades de gosto.

 

A pessoa que amo e eu somos totalmente opostos. Ela é privilegiada por sua condição social desde o berço: vinda de uma família tradicional de sua cidade, criada como uma princesa, frequentando os melhores colégios e cursinhos, filha de médicos e herdeira de um excelente “capital cultural”. Eu, por outro lado, sou morador da periferia de São Paulo. Também tive privilégios; quando a conheci, tinha recém vendido uma empresa com sede na Avenida Paulista. Ainda assim, somos de classes sociais opostas e formações culturais diferentes, embora nossos gostos e preferências estéticas tenham se encontrado no ponto em que nos conhecemos.

 

Na época, ela estava estudando para o vestibular de medicina. Hoje, pelo que soube por vias indiretas, é pediatra. Conversamos pelo Tinder, aplicativo às vezes associado a encontros mais picantes. O perfil dela chamou minha atenção porque dizia: “Se você está interessado em sexo, pule meu perfil, por favor. Não tenho nada a favor nem contra, muito pelo contrário.” Essa espirituosidade, unida às fotos dela, pela sua beleza pueril e angelical, foi quase amor à primeira vista — se isso é possível através da frieza de uma tela de celular. Minha admiração foi imediata. Puxei assunto com um quebra-gelo que fugia do habitual e consegui. Foi o início de uma boa amizade.

 

Nossa afinidade e identificação foram imediatas. Conversávamos sobre diversos assuntos, como literatura — Dostoiévski (Os Irmãos Karamázov), Graciliano Ramos (Angústia) —, cineastas e filmes, como Ingmar Bergman (Persona), e poetas, como Fernando Pessoa. Não tocávamos no tema amor, embora já houvesse um “algo a mais”.

 

Um dia, sem querer, deixei de segui-la. Não tinha o contato dela no WhatsApp, porque dizia não usar o aplicativo por conta dos estudos. Tentei reencontrá-la no Facebook, mandei mensagens, mas não sei se ela as leu ou decidiu ignorá-las. Então, encontrei o perfil dela em um site de literatura chamado Recanto das Letras. Li textos brilhantes de sua autoria, como O Mundo da Tabacaria, que homenageei em um texto meu de mesmo nome. Aqui: O MUNDO DA “TABACARIA”

 

Enviei uma mensagem anônima, sem me identificar, mas sugerindo que era eu. Ela excluiu a página, mas respondeu meu comentário, e assim eu descobri o email particular dela. Então, depois de alguns anos, resolvi criar esta página do Recanto e mandar o link, que eu não divulgava para ninguém, apenas para ela, por e-mail. Desde então, percebo que meus textos têm sido lidos. Também enviava e-mails para ela, que eram, na verdade, algumas cartas de amor revelando meus sentimentos.

 

Eis que, em um dia, descobri uma página no Recanto das Letras onde, anonimamente, ela ‘respondia’ esses e-mails através de textos, fazendo alusão à nossa história — algo que só a pessoa que conheci anos atrás poderia saber. 

E, além disso, descobri, totalmente por acaso, que ela se correspondia com minha vizinha do lado de casa — aquela a quem me refiro no texto sobre a masturbação e que é apaixonada por mim desde a infância. Não me perguntem como elas chegaram a se conhecer, mas esse fato foi revelado por uma série de eventos coincidentes e incontestáveis, que provaram que as duas mantinham contato e que o objeto de suas conversas, muitas vezes, era eu. O objetivo parecia ser descobrir mais sobre mim, meus hábitos, entre outros detalhes da minha pessoal.

 

Durante algum tempo, nos correspondemos através da nossas páginas do Recanto, mas até isso se perdeu, e ela anda meio ausente.

 

Ainda assim, sou persistente e continuo mantendo minha página, que existe com o principal objetivo de entretê-la com assuntos que ela possa achar interessantes, inspirados nela, além de possibilitar que ela me conheça melhor: meus pensamentos, meus gostos e meus sentimentos.

 

Com o tempo, minha página ficou conhecida no Recanto das Letras. Não é só ela que conhece meu perfil; praticamente todos os usuários que frequentam o site assiduamente sabem quem é Dave Le Dave. Já leram algum texto meu, mesmo que não me acompanhem regularmente ou comentem. Porém, percebo que os textos que ninguém mais, senão ela, poderia ter interesse em ler são lidos, o que demonstra que, de alguma forma, ela ainda quer saber de mim.

 

No entanto, a presença dela continua sendo uma ausência. Não sei o estado civil dela nem o motivo real de seu afastamento: se é a distância social, o fato de estar comprometida ou meu histórico de adicção. Apesar de amá-la e ter um compromisso emocional com ela, continuo vivendo minha vida. Sinto-me livre para me relacionar com outras pessoas, embora meu coração e sentimento estejam alhures.

 

No livro do poeta Ovídio, que cito no início, há um poema em que ele ensina não apenas a arte da sedução, mas também a importância de cultivar o amor. Segundo ele, o amor é volúvel, tem asas, como retratado na mitologia grega, e pode voar. Por isso, é preciso saber como preservá-lo, algo que se constrói com o tempo, a convivência e o dia a dia. 

Esse é o objetivo desta página enquanto ela está ausente, na esperança de que, um dia, ela esteja disposta a voltar. Mas, se “tu não quer, tem quem queira…”

 

e eu não considero isso uma traição. Afinal, nem sei se ela tem se relacionado com alguém. Falar em traição no meu caso nem faz sentido. Traição mesmo é o que vejo no meu trabalho, como no caso de um amigo que é galanteador, bonitão, galã, falam que se parece com o Paulo Ricardo jovem - aquele do olhar 43 do RPM - e atira para todos os lados, apesar de ser casado. Ele já até me convidou para viajar com ele para Bangkok, caso ganhássemos na Mega-Sena. E faríamos sucesso, segundo ele, somos da mesma estirpe, unicórnios raros nos dias de hoje.

 

Hoje, inclusive, ajudei ele em uma de suas “aventuras”. Ele é massoterapeuta e trabalha com quiropraxia, aquela técnica de “estralar” as costas. Uma mulher meio cheinha, com problemas na articulação, mas de rosto muito bonito — o tipo que os ingleses chamariam de chubby —, veio até a UBS em trabalhamos. Eu brinquei que ele daria um “trato” nela. Ela ficou ruborizada, mas claramente interessada, e acabou pegando o contato dele.

 

Com quem ele certamente não ficou só na massagem foi com a enfermeira do local. Hoje, ele a abraçou e elogiou o cheiro dela, dizendo que ia comprar um perfume igual para a mulher dele. E ainda soltou que, quando estivesse com a esposa, pensaria nela! (Na enfermeira, claro.) Um comentário ousado, mas típico dele. Ela olhou para mim, incrédula, e disse: “Vê se pode?”

 

Foi aí que entrei na conversa e apoiei a situação, dizendo que ele realmente vive elogiando o cheiro do cabelo dela. Nisso, ele aproveitou para fazer uma massagem nela. Apertou alguns pontos no corpo dela (ele é acupunturista também) — eu não vi exatamente onde —, e ela reagiu com tanto alívio que quase pareceu um gemido. Depois, os dois ficaram sozinhos até tarde no posto, e ele prometeu fazer outra massagem nela. Será que ficaram só na massagem? Você decide, como naquele programa antigo da Globo.

 

Ainda bem que ninguém do meu trabalho acompanha minha página no Recanto das Letras. Eu explano todo mundo aqui, mesmo! Apesar disso, no Ano Novo, compartilhei um texto meu — uma análise de A Montanha Mágica — com alguns médicos e a gerente do local. Eles também leram o texto sobre dependência química. Por sorte, parece que ficaram apenas nesses textos mais sérios, porque, se descobrissem toda a minha vida e os segredos do posto, seria um problema.

 

Sim, eu ajudei meu amigo a trair. Já passei pano para vários amigos que traem. Não me julguem; eu não sou o traidor. Sempre fui solteiro e sou um homem livre, embora o coração e a alma não sejam tão livres assim.

 

Voltando à pessoa que amo, ela parece ser mais tímida e reservada, o que pode dificultar uma aproximação da parte dela. Não sei como retomar o contato, e isso me inquieta. Além disso, ela aparenta ter certo recato, mas sem ser pudica. Transparece um lado meio secreto que eu anseio descobrir, algo que desperta ainda mais a minha curiosidade e instiga o meu desejo.

 

Por exemplo, como médica, ela conhece a anatomia e o corpo humano muito melhor do que eu, por dentro e por fora. Aposto que ela sabe de regiões erógenas e de maneiras de despertar desejos que eu nem ouso imaginar. Isso faz minha imaginação voar longe. Tenho mais motivos para me sentir envergonhado diante dela, pelo conhecimento e experiência que ela tem, do que ela de mim.

 

Claro, sei que nem todo conhecimento de anatomia faz alguém um especialista em sexo. Mas a fantasia de muitos homens sobre mulheres fantasiadas de médicas não está justamente ligada a isso? À ideia de receber cuidados que só uma doutora saberia dispensar? Sim, eu deliro, mas não é apenas desejo, libido ou tesão que me fazem delirar. É a paixão e o amor que sinto, embora para algumas pessoas isso possa parecer não correspondido.

 

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 21/01/2025
Alterado em 21/01/2025
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