Este será o texto mais ousado que escreverei até agora, mas a ocasião, talvez a falta de assunto, uma rebeldia e certa libertinagem da minha parte me impulsionam a abordar este tema. Tentarei usar o máximo de garbo e elegância que me é característico, mas não sei se será possível, dada a explicitidade do conteúdo. E, se preferi censurar algumas palavras, foi mais para respeitar a política do Recanto das Letras e permitir que o texto seja público na página inicial, do que por vergonha ou pudor. Afinal, o Marquês de Sade disse as maiores atrocidades, e seu livro é considerado uma obra-prima literária.
A linguagem usada durante o sexo, na maioria das vezes, reduz a mulher a um objeto, no contexto da dominação masculina. No entanto, algumas palavras só podem ser proferidas num ambiente íntimo; por exemplo, chamar uma mulher de “gostosa” para uma desconhecida pode ser completamente vulgar. Mas, na cama, num ambiente certo, pode ser um elogio, uma ode a beleza e ao corpo, apesar de ser meio corriqueiro e banal.
A expressão “eu quero te comer”, ou “comer uma mulher”, é uma metáfora que, simbolicamente, poderia ser mais bem interpretada ao se dizer que é o órgão sexual feminino que “come” ou “engole” a genital do homem, mas, na prática, a expressão assume uma posição de dominação. A mulher é vista como alimento a ser ingerido, um termo mais adequado seria “meter”. “Eu quero meter”. “Deixe-me meter”. E quando a mulher diz que quer se entregar a um homem, ela se coloca passivamente ao dizer que quer “dar para ele”, o que de certa forma faz sentido.
Quanto aos palavrões, eles sempre têm uma conotação ou fazem alusão ao órgão sexual masculino, como “c@r@lh0”, “c@c3t3”, “p0rr@”. São símbolos da dominação masculina e da sociedade patriarcal. E, no ato sexual, ainda há o verbo “fod3r”. Se você disser que quer “fod3r” uma mulher, o que está querendo dizer? Que você quer que ela se “ferre”? Ou uma forma de expressar o desejo de ter uma noite tórrida de amor com ela?
A Filosofia na Alcova, do Marquês de Sade, que não consegui ler por ser repulsivo ao meu gosto, uma personagem descreve de maneira explícita que colocou a mulher de joelhos, de costas para ele, e foi exposto a um belíssimo: e ele pronunciou aquela palavra com uma sigla de duas letras, que simboliza uma prática considerada escandalosa à época e, para alguns, que faz alusão à parte final do sistema digestivo.
A prática de sexo anal é um grande tabu, embora faça parte do imaginário de alguns homens.
Mas, em minha visão, o sexo e as palavras ditas durante o ato são uma questão de intimidade. O sexo vai além do prazer e do desejo, sendo também uma possibilidade de vínculo e conexão afetiva entre as pessoas, especialmente quando há amor. Quando são quase desconhecidos, o sexo pode ser puramente físico, um simples prazer.
O nível de tesão, ou seja, o grau de intensidade do prazer, de libido, de energia sexual experimentada, certamente influencia as palavras usadas e como elas são recebidas pelo parceiro. Palavras como “put@”, “s@f@d@“, “c@ch0r@“ são claramente pejorativas, mas alguns parceiros podem usá-las de maneira libertadora, desde que haja intimidade e liberdade, sempre com respeito, tratando a parceira como algo sagrado. Da mesma forma, as versões masculinas dessas palavras, quando usadas pele mulher, podem incendiar e dar ênfase ao momento, se houver reciprocidade.
O sexo, o tesão, não deve ser visto como um campo para discutir dominação de classes ou questões sociológicas; é um momento de entrega. Convenhamos que é mais terno dizer “eu quero fazer amor”, mas às vezes é mais excitante dizer “eu quero te comer”, “eu quero meter”, “eu quero te f0d3r”, ou “eu quero te fazer g0z@r”. Da mesma forma, o que desperta mais tesão no homem? Ouvir “faça amor gostoso comigo”, “me possui”, ou “me come”, “me f0d3”?
Sexo é carinho e entrega, desejo e respeito, afinidade e compromisso, prazer e instinto. É Apolo e Dionísio. O limite do prazer é o limite do outro. Mas, na minha opinião de romântico, orgasmo é sempre melhor se procedido de um “eu te amo”.