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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

SEXO E VIOLÊNCIA

Este texto, cujo título inicialmente pode parecer polêmico, é um pretexto para abordar pela primeira vez a obra de um filósofo contemporâneo que muito admiro: Slavoj Žižek, especialmente seu livro Violência. Embora eu tenha algumas discordâncias com sua visão de mundo excessivamente marxista, não posso negar a profundidade e originalidade de suas ideias. Em sua obra, Žižek faz conexões interessantes entre a psicanálise lacaniana, à qual também é formado, e o cinema, além de se destacar pela erudição brilhante e uma escrita combativa. O candidato a prefeito de São Paulo, Guilherme Boulos, por exemplo, é um grande admirador de sua obra.

 

Žižek se tornou um nome mundialmente reconhecido e até inspirou a criação de uma boate de música eletrônica em Paris. Gosto muito de seu livro sobre cinema, Lacrimae Rerum, no qual ele analisa filmes à luz de grandes conceitos filosóficos, destacando, por exemplo, sua interpretação da série Dekalog, de Krzysztof Kieślowski, que aborda os Dez Mandamentos. Contudo, neste texto, focarei na obra Violência e na maneira como ela se relaciona com o sexo, algo que, ao meu ver, representa profundamente a condição humana, movendo tanto o mundo quanto a humanidade.

 

No livro Violência, Žižek argumenta que nossa tendência é perceber a violência apenas como algo subjetivo, praticado por agentes sociais, algo que ele denomina de violência subjetiva. Essa é a violência visível e identificável, como um assalto, um ataque terrorista, ou até mesmo situações de violência coletiva, como guerras e protestos. Trata-se da violência que podemos ver e com a qual podemos nos deparar no nosso cotidiano. Muitas vezes, a violência subjetiva é apenas uma consequência de algo maior e mais sistêmico, como a violência estrutural ou simbólica, que são manifestações da violência objetiva, invisível a olho nu.

 

A violência objetiva refere-se a formas de violência que não são perceptíveis no nível imediato dos atos individuais, mas que se enraízam nas estruturas sociais e nas ideologias que moldam a vida cotidiana. Ela se desdobra em dois tipos principais: violência estrutural e violência simbólica. A violência estrutural está incorporada nas estruturas sociais, econômicas e políticas. Exemplos disso incluem a exploração no sistema capitalista, o racismo sistêmico e a desigualdade econômica. Embora invisível e implícita, a violência estrutural está sempre presente, muitas vezes alimentando e perpetuando formas de opressão. Por exemplo, o sistema capitalista é uma forma de violência pela desigualdade social que gera, o desequilíbrio do meio ambiente, desmatamento, e aquecimento global.

 

Já a violência simbólica se manifesta nos discursos predominantes em uma sociedade. Ela não se expressa fisicamente, mas age de maneira igualmente destrutiva por meio de normas, símbolos e ideologias que reforçam desigualdades, como a opressão de gênero, a homofobia ou o racismo. Este tipo de violência é invisível, mas é fundamental para moldar as percepções e comportamentos das pessoas. Žižek conecta essa ideia com a obra de Pierre Bourdieu, quando ele fala sobre o habitus, o conjunto de normas e práticas internalizadas que moldam nossa visão de mundo sem que tenhamos consciência disso. Em sua análise, o filósofo também dialoga com Karl Marx, que afirmava que a superestrutura de uma sociedade — ou seja, as formas de pensamento, as instituições e as ideologias — é moldada pela infraestrutura, isto é, pela forma como a produção é organizada. No capitalismo, por exemplo, a maneira como as pessoas pensam e veem o mundo é um reflexo das condições de produção e das relações de poder que ele cria, o que acaba gerando violência.

 

A conclusão de Žižek é que a violência subjetiva, aquela mais visível e direta, é frequentemente uma consequência das formas mais invisíveis, mas igualmente destrutivas, de violência estrutural e simbólica. Isso significa que não basta apenas combater os atos de violência visíveis; é necessário questionar as condições sociais e ideológicas que os sustentam. A violência simbólica e estrutural são, portanto, as formas de violência mais profundas e duradouras, pois moldam a sociedade e as percepções individuais de maneira mais invisível, mas igualmente prejudicial.

 

Um dos modos mais claros de violência na sociedade atual é a violência sexual, especialmente contra a mulher. Embora a busca humana por sexo tenha raízes biológicas, relacionadas à preservação da espécie, muitas vezes a escolha dos parceiros é equivocada, seja pela falta de conhecimento ou pela impulsividade das paixões momentâneas. O fato é que a maior parte da violência sexual ocorre entre casais ou dentro da própria família, um dado inegável.

 

Žižek argumenta que essas pessoas podem ter sido vítimas de violência objetiva, talvez resultante de uma educação desestruturada em casa, ou de um ambiente de violência familiar. No entanto, é importante destacar que a violência não pode ser justificada apenas por condições sociais ou históricas; o ser humano é responsável por suas ações, suas escolhas e seus afetos. A violência, seja objetiva, simbólica ou estrutural, não deve ser vista como uma prisão intransponível. Em vez disso, a mudança só se dá por meio da reflexão, da educação e do ensino crítico, a fim de combater esses crimes sociais e, principalmente, contra a mulher.

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 12/01/2025
Alterado em 12/01/2025
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