Epicuro, filósofo do período helenístico, dizia que há dois empecilhos para que um ser humano viva uma vida plena. O primeiro é o medo da morte; o segundo, a crença nos deuses. Ele argumentava que não devemos temer a morte, pois ela nada mais é do que a perda dos sentidos. Quando a morte está presente, minha consciência já não está, de modo que uma nunca encontra a outra.
Quanto ao medo dos deuses, Epicuro afirmava que ele nos tira a responsabilidade sobre nossas próprias ações e nos impede de investigar as verdadeiras causas dos fenômenos da natureza, justificando-os apenas como obra divina. Assim, essas duas crenças – o medo da morte e a crença nos deuses – paralisam a existência.
No entanto, quem, em um momento de desespero, nunca se perguntou: “E agora, meu Deus?” Talvez essa seja uma pergunta que também ecoe no instante em que nos aproximamos da morte.
Quando fazemos uso de substâncias ilícitas, estamos sempre flertando com a senhora de foice na mão. Mesmo tomando todos os cuidados, há sempre um risco iminente. Quantas histórias ouvimos de pessoas que, tragicamente e de forma acidental, perderam suas vidas dessa maneira?
Muitas vezes, ansioso, eu pensava na morte. Imaginava como seria ridículo partir assim. Visualizava meu sobrinho pequeno, ainda sem entender nada, diante da imagem do tio estático, imóvel, em um caixão – sem sequer compreender o que é perder alguém. Ele não teria a capacidade de chorar pela minha partida.
Nesses pensamentos, eu atribuía a missão ao meu amigo mais próximo – mesmo ele não sabendo da minha adicção – de informar minha mãe sobre a página que tenho no Recanto das Letras. Assim, meus familiares poderiam acessar meus pensamentos, minhas ideias, tudo aquilo de que eu gostava. Seria, talvez, uma maneira de deixar um pedaço de mim.
Pensar em deixar as pessoas que amo, bem como as coisas que gosto, sempre foi doloroso. É por isso que quero ficar bem. Quero estar saudável, tanto para retribuir o amor e a importância que essas pessoas têm na minha vida quanto para ajudá-las, direta ou indiretamente.
A pessoa que amo, por exemplo – minha inspiração –, eu sei melhor do que ninguém sobre sua inteligência e suas capacidades. Ela é disciplinada, esforçada, dedicada. Porém, às vezes, nossos modos de ver o mundo e as relações ao nosso redor, como eu mesmo posso comprovar, não favorecem totalmente nossa capacidade de criação, de sermos nós mesmos. Talvez aí seja onde eu possa ajudá-la: ajudando-a a se encontrar, a descobrir o caminho mais adequado à sua singularidade.
Somos sujeitos de linguagem, e, às vezes, nos perdemos com os compromissos e as demandas do dia a dia, além do convívio com a sociedade. Assim como ela é importante para mim, quem sabe eu também não possa ser importante para ela? Quero ajudá-la, de alguma forma, a ser cada vez mais ela mesma, a descobrir seus apetites, aptidões e desejos.
Mas, antes de tudo, eu preciso ajudar a mim mesmo. Só assim poderei ajudar quem amo. Um passo de cada vez.