No documentário sobre a Nouvelle Vague, Jean-Luc Godard adota um tom meio ressentido ao falar do fracasso de bilheteria e crítica que seu filme Tempo de Guerra (1963) recebeu na França e no mundo. Trata-se de uma sátira anticolonialista e antimilitarista que critica a guerra e suas ilusões. Godard adota um tom minimalista, quase documental, com cenas estilizadas que misturam humor negro, absurdo e crítica social. Apesar de sua originalidade, o filme foi um fracasso. Esse insucesso explica o ressentimento de Godard: na entrevista, ele afirma que as pessoas querem ver na tela somente tragédias — velhinhas sendo estupradas, mortes, esse tipo de coisa. Quando alguém oferece algo novo, uma visão sincera e reflexiva da tragédia que é a guerra, isso resulta em fracasso.
Da mesma forma, percebo que meus textos mais reflexivos, que demandam mais elucubração e pensamento, têm um desempenho muito ruim no Recanto. Por outro lado, textos com assuntos polêmicos, como drogas, ou discussões (como pedidos de desculpas a outros usuários) chamam muito mais a atenção do público. É uma pena. Eu gostaria muito mais que as pessoas lessem meus conteúdos mais densos e sofisticados. Sinceramente, esses últimos textos que tiveram maior número de leituras, embora abordem temas curiosos e sejam escritos para prender a atenção, em termos de conteúdo não oferecem muito ao leitor. Diferentemente de outros textos deste espaço, que considero ricos em informação e repertório.
Mas, às vezes, eu entendo. Na correria do cotidiano, eu também procuro consumir conteúdos mais leves. Por exemplo, faz muito tempo que não acompanho as aulas do professor Vassoler, um dos maiores especialistas em Dostoiévski deste país. Ele não se limita a Dostoiévski, mas também faz conexões com Albert Camus e outros grandes nomes da literatura e da filosofia. No entanto, o conteúdo dele é denso, requer concentração, e muitas vezes eu o deixo de lado para escutar um podcast sobre meu time de futebol (Palmeiras ❤️) ou sobre assuntos mais amenos, como videogames. Principalmente na hora de dormir, quando gosto de adormecer ouvindo algo.
Mas, ainda assim, é uma pena. Se possível, deem uma chance aos meus escritos mais sofisticados. É um pedido que lhes faço.