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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

O Lado Obscuro das D.R.O.G.A.S

Não é meu objetivo, neste espaço, fazer uma apologia às drogas. Pelo contrário, como sugere o título, quero explorar seu caráter destrutivo e alienante. Porém, se até Aldous Huxley, em seu livro As Portas da Percepção, escreveu sobre o uso de substâncias psicoativas (e o livro é considerado cult por muitos), então isso me dá o ensejo de tratar brevemente do assunto e compartilhar minha experiência pessoal. Vou dividir o texto em tópicos, que serão sobre as drogas.

 

MACONHA

Fui introduzido no mundo obscuro das drogas já na fase adulta, e eu tinha plena consciência do que estava fazendo. Sempre tive uma mente aberta, liberal, sem muitos preconceitos, disposto a novas experiências, talvez até demais. Eu tinha 21 anos quando meu amigo do trabalho me apresentou à maconha. Nunca aprendi a bolar um cigarro de maconha, e quando tirei férias, pedi para ele bolar uns para mim, para eu consumir enquanto aproveitava aquele período. Posteriormente, adquiri um bolador Smoking. Fui criado na periferia de São Paulo, brinquei na rua, e nunca tive contato com drogas durante a infância, adolescência ou na escola, só sabia identificar, talvez, o cheiro da maconha. Eu era tão inexperiente no assunto que, em uma ocasião, quando eu fazia aulas de inglês, lá pelos meus 16 anos, vi um pino de cocaína no chão e, inocentemente, perguntei aos meus amigos o que era aquilo. Mal sabia eu que, muitos anos depois, aquele pequeno objeto se tornaria tão presente em minha vida. Destino. Tanto é que só fui conhecer biqueiras perto de casa muitos anos depois de começar a usar entorpecentes. Eu comprava mais em locais centrais, como no metrô Saúde, Santa Cecília e Liberdade. Mas a verdade é que a cannabis nunca atrapalhou minha convivência social, até beneficiou em alguns momentos, me permitindo conhecer novas pessoas. Quando eu visitava a PUC, no local chamado “Prainha” (nem preciso dizer por quê), fumava muito, fiz muitas amizades, mesmo sem ser aluno. Mais assistia a várias aulas e jogava futebol. Até que um dia, enjooei da maconha. Começou a me fazer mal, a “brisa” não era mais agradável, me sentia improdutivo. Isso aconteceu mais ou menos desde a morte da minha avó, em 2013 ou 2014. Fumei raras vezes depois disso.

 

Hashish

O hashish é difícil de encontrar à venda sem um intermediário e, geralmente, é caro. Trata-se do extrato da maconha, a parte mais refinada, com alta concentração de THC. Em termos comparativos, seria como o “filé mignon” da maconha, a iguaria mais nobre — equivalente às ovas de peixe ou ao salmão no mundo gastronômico.

 

Confesso que sempre apreciei muito a “onda” proporcionada pelo hashish. Ele é vendido em forma de uma bolota, parecendo uma pequena esfera resinada. Para usá-lo, é comum pegar pequenos pedaços, aquecê-los com o isqueiro até que formem bolinhas menores e, em seguida, misturá-los preferencialmente com tabaco.

 

Embora pareça sofisticado, a experiência com hashish, assim como com outras drogas, não deixa de carregar os mesmos riscos associados ao consumo de substâncias psicoativas.

 

COCAÍNA

Minha droga de preferência, que me levou à dependência química desde 2015. Há três amigos de infância: A., F. e eu, que estudamos e jogamos videogame juntos quando éramos pequenos. Eu “perdi” o BV (beijo na boca) aos 11 anos, com a irmã do F., uma garota de uns 16 ou 17 anos na época. Falaram que fiz até beicinho para beijá-la. Foi só um selinho. Ela tinha um corpo descomunal para a idade, muito sexy, e o irmão mais velho de A., disse que eu devia ter borrado as calças ao beijá-la. Que nada, eu sou um fofo, me saí bem. Mas a verdade é que A., hoje é pai, atleta com músculos bem torneados, tatuado, estiloso, alargador, etc., chama a atenção das mulheres. E F. está com a aparência totalmente degradada, vulgo “noia”, só de bater o olho. E o terceiro sou eu, que no dia 26, o último dia que fiz uso, encontrei o F., em um estado deplorável, e agradeci por ainda não ter chegado àquele ponto. E desde então, estou sóbrio, meus amigos, e pretendo continuar assim em 2025, primeiramente, e ao longo de toda a minha existência.

 

Ecstasy ou Bala (ou MDMA)

Talvez a droga, quando usada no ambiente certo, cuja sensação seja mais prazerosa, intensifique os sons, as sensações, os toques, o desejo, a libido. Combina muito com música eletrônica e é muito associada a festas rave. Eu nunca usei sozinho. Sempre em companhia e, de certa forma, sempre foi positivo. Nunca tive problemas de adicção. É relativamente cara, e você não encontra em todo lugar. Só sabia um local que vendia, que era perto do metro Saúde. Uma cápsula custava 30 reais.

 

LSD ou Doce

Eu usei umas duas ou três vezes, todas em hotel, sozinho, onde fiquei na Alameda Santos, perto da Paulista. É uma droga psicoativa. Não sei a qualidade da que eu estava usando, mas não tive nenhuma grande viagem. Apenas enxergava tudo em neon e me sentia extremamente mais feliz. Saí do hotel e fui passear pela Paulista, e a paisagem parecia saída do filme Blade Runner. 30 pilas uma unidade, é vendida numa espécie de papelãozinho, bem pequeno, que você dissolve na boca.

 

CRACK

Sim, amigos, a história que se conta sobre as drogas costuma ser verdadeira. Muitos se iniciam na maconha, depois vão para a cocaína e, em algum momento, não encontram cocaína ou não têm dinheiro e acabam experimentando crack. Foi assim que experimentei também. A sorte é que não achei a mínima graça. E talvez eu não soubesse usar direito por não saber fazer a combustão. Mas foi sorte que tentei apenas uma vez, movido pelo diabo. As histórias de destruição causadas pelo crack são inúmeras. Usuários vendem seus objetos pessoais e os da família, somem de suas residências e vão parar na “Cracolândia”. No sentido de estigmatização e consequências sociais, é a mais devastadora. A degradação é física (perda dos dentes, emagrecimento) e emocional (tornando-se verdadeiros zumbis). Curiosamente, conheci uma moça no grupo da USP de drogas e álcool, de família rica, usuária de cocaína desde os 14 anos e de crack atualmente, que foge totalmente desse estereótipo de viciada. Embora ela também tenha ido parar na “Cracolândia” devido ao uso, e suas mãos estivessem todas queimadas, ela relatava cruelmente como usava Bombril para misturar os resíduos e fazer a química ficar mais forte. Como o grupo foi descontinuado, não tive mais contato com ela, mas espero que esteja bem. Ela estava trabalhando, reduzindo danos, se controlando e tal. Torçamos por ela e por milhares de outros que sofrem nas garras da adicção.

 

Lança-Perfume

Nunca usei, mas havia um jovem rapaz na clínica, um paciente psiquiátrico, ex-jogador mirim do santos, com claros problemas cognitivos de fala e locomoção, que disseram que ele ficou assim ao usar lança-perfume uma única vez. Havia muitos pacientes psiquiátricos, como esse, na clínica onde fiquei, que haviam se tornado disformes devido às drogas, e conviviam conosco alguns que poderiam ser até violentos. Por isso, aquele meu amigo, ex-jornalista culto, disse que iria escrever um livro sobre lá, cujo título seria A Clínica dos Horrores. De fato, parecia que estávamos no filme Freaks. Mas isso servia como um alerta para até onde as drogas podem nos levar.

 

K9

Há novas drogas sintéticas correndo na periferia, que os usuários fumam com um poder de deterioração tão grande quanto o crack, por apenas 5 reais. Um relato de um jovem, na partilha de que faço parte, um rapaz de até boa família, uma vez falou que foi usar essa tal de K9 direto no cachimbo e desmaiou. Ele só acordou devido à massagem cardíaca que sua irmã fez nele, e segundo ele, só estava vivo devido a esse procedimento.

Drogas Lícitas

Cigarro

Fumei cigarro por um tempo, mas parei sozinho porque não suportava a fumaça e o cheiro impregnado nas minhas roupas. Apesar de ser uma droga lícita, é uma das que mais mata no mundo.

 

Álcool

Nunca tive problemas com álcool. Durante o período em que usava minha droga de preferência, eu evitava consumir bebidas alcoólicas, então não associo uma coisa à outra. Não gosto de beber sozinho em casa, mas aprecio compartilhar uma cervejinha com os amigos. Minha bebida favorita é a tequila, que pretendo consumir ocasionalmente.

 

Antes de me envolver com outras substâncias, eu costumava frequentar as hamburguerias da Rua Augusta, quando eu ia ao cinema. Após a sobremesa, era um hábito tomar duas doses de tequila antes de voltar para casa, de forma leve e moderada. Minha escolha era sempre a José Cuervo, acompanhada de sal e limão.

 

O álcool, apesar de legalizado, tem a capacidade de deixar o indivíduo fora de suas capacidades cognitivas. Apenas uma vez bebi em excesso e acabei dando vexame. Isso aconteceu na festa de um amigo em Mauá, periferia de São Paulo – o mesmo amigo que me apresentou à maconha.

 

Naquela noite, lembro-me das luzes piscando, mas, em algum momento, perdi completamente a consciência. Mais tarde, me contaram que eu destratei a mãe do meu colega. Ela me ofereceu algo para comer, e, de maneira boçal, eu teria dito que não comia nem nos restaurantes mais caros, quanto mais aquilo que ela estava me oferecendo.

 

Nossa, que vergonha, mesmo não lembrando de nada. Felizmente, mais tarde, houve outra festa na casa deles, e ela me perdoou. Ficamos amigos. Inclusive, ela elogiou minha voz e meu jeito manso de falar, dizendo que deveria ser “irresistível para as mulheres.

 

Conclusão

Nos filmes Magnólia, de Paul Thomas Anderson, Cidade dos Sonhos e, mais explicitamente, Réquiem para um Sonho (sobre o qual pretendo escrever a respeito), vemos um relato cru de como as drogas vão consumindo, pouco a pouco, o cotidiano dos usuários, roubando suas energias, até que eles não se preocupam mais com nada. Eu estava assim, se tornando um hábito. Estava roubando minha rotina, as coisas que eu gostava de fazer, e eu já estava sem tempo nem mesmo para investir em mim e nas pessoas que amo. Lendo meus escritos, mais propriamente o atual Dandismo Moderno e O Pensamento é uma Forma de Arte, vejo que a solução já foi pensada há muito tempo por mim mesmo. Mas a dependência estava me alienando dos meus próprios caminhos, me distanciando de mim mesmo, como um cabresto, tudo por um breve momento de prazer momentâneo - e falso. Às vezes sou tolerante, pois sei que algumas pessoas, na vida, não têm outra opção de prazer, senão as drogas. É preciso ser sincero. Mas eu sou rico em espírito, tenho diversas opções e nada me falta na vida, e as drogas só roubam e drenam minha energia.
 

Concluo com um misto de alívio e reflexão. Revisitar essas memórias é doloroso, mas também necessário para compreender o caminho que percorri e os danos que causei a mim mesmo e, por vezes, às pessoas ao meu redor. O mundo obscuro das drogas, como mencionei, não é apenas uma questão de vício físico, mas também um roubo da nossa essência, da nossa energia e, muitas vezes, da nossa humanidade.

 

Ao refletir sobre minha trajetória, percebo que, assim como as substâncias podem nos aprisionar, a vontade de mudar pode nos libertar. Ainda há em mim a força e a clareza para resgatar o que as drogas tentaram tomar: minha identidade, meus sonhos e o prazer genuíno pelas coisas simples e significativas da vida.

 

Se há uma lição a ser extraída, é que ninguém está completamente perdido enquanto houver uma fagulha de esperança e disposição para recomeçar. Eu sigo em frente, agora com o entendimento de que a verdadeira liberdade não está em experimentar tudo que o mundo oferece, mas em saber o que realmente vale a pena ser vivido.

 

A resposta está em mim mesmo: no que já vivi, experimentei e refleti, transformado em uma filosofia estética que me conecta mais com a beleza e com a minha essência.

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 08/01/2025
Alterado em 08/01/2025
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