Dizem que, com dois ou três contatos, um homem bem relacionado pode chegar até o presidente dos Estados Unidos. Eu nem cheguei a tanto, mas usei o fato de trabalhar em um posto de saúde, junto a alguns médicos de boas relações. Um deles, o Dr. Ronald, que é diretor de um hospital e pediatra na UBS onde trabalho, conseguiu uma entrevista para que eu obtivesse uma vaga de internação pelo SUS, por meio de um amigo dele, Alexandre, diretor da UPA em questão.
E eu não sou a única pessoa a quem ouço falar que foi imensamente ajudada pelo Dr. Ronald. Muitas pessoas conseguiram se operar gratuitamente no hospital em que ele é diretor, graças à sua intervenção. A boa vontade que ele demonstrou comigo não foi pouca. A mensagem chegou tarde, talvez no fim do expediente — ou ainda durante ele —, mas, mesmo assim, ele fez os contatos imediatamente. E, na segunda-feira, já estarei fazendo a entrevista para a internação.
Ainda bem que existem, no mundo, pessoas humanistas, generosas e de bom coração, como os doutores Alexandre e Ronald. Este texto é dedicado a eles. Uma atitude assim pode salvar uma vida. Mesmo reconhecendo a grandiosidade de suas ações, agora toda a responsabilidade pela minha recuperação está comigo.
A vontade de mudança é um sinal positivo. O processo, porém, é doloroso. Tenho estudado muito Epicuro, o filósofo dos prazeres, e ele diz que, quando a dor associada a um determinado prazer é muito grande, às vezes é preferível um sofrimento em substituição a esse prazer, desde que dele derive, no futuro, um prazer muito maior.
Esse é o papel da filosofia: ensinar a viver. Um saber prático, não uma erudição superficial ou cosmética. Assim que possível, escreverei mais profundamente sobre a filosofia de Epicuro, que é hedonista, mas muitas vezes mal compreendida ou tirada de contexto.
Obrigado, Dr. Ronald. (Compartilharei este texto com ele, assim como compartilhei o que escrevi sobre dependência química, para que ele e o Dr. Alexandre conheçam melhor minha história.)