Uma reflexão que remonta a Rousseau: o ser humano é o único animal que precisa aprender a viver. Os outros animais já nascem com um “software de fábrica” para sobreviver. A tartaruga, por exemplo, já sai nadando. O ser humano, por outro lado, nasce pelado, fraco, vulnerável. Essa condição de vazio do ser humano lhe dá a liberdade de moldar a si mesmo, atribuir a si próprio uma forma, características e idiossincrasias adquiridas ao longo da vida.
O ser humano é tão livre que pode deliberadamente tomar decisões que destroem sua própria vida, como o uso de drogas, o abuso de álcool ou o exagero nas calorias.
Outra reflexão importante é a de Nietzsche, abordada no filme biográfico de Lou Salomé, sobre os conceitos de Apolíneo e Dionisíaco. Sendo livre e nascendo sem habilidades inatas, o ser humano precisa aprender a viver ao longo da vida, podendo escolher entre o caminho do deus Apolo ou o de Dionísio.
O caminho de Apolo está ligado à arte, à erudição, às formas concretas, aos conceitos puros, à beleza. O Dionisíaco, por outro lado, que corresponde ao deus Baco em latim, está ligado ao prazer carnal, à loucura, à visceralidade do corpo, à terra. No filme de Lou Salomé, vemos como ela transitou entre essas duas vertentes: o Apolíneo e o Dionisíaco. O mesmo ocorreu com Nietzsche, embora, para ele, os prazeres da carne fossem, em grande parte, negados — a menos que ele pagasse por eles. É sabido que Nietzsche contraiu a sífilis, que o levou à loucura, em um bordel. Além disso, é fato conhecido que ele usava ópio para criar.
Eu uso o subterfúgio de falar dos outros para evitar falar de mim mesmo. E como se aprende a viver? Estou com 33 anos de idade e, com certeza absoluta, ainda não sei viver. Aos poucos, à custa de muito sofrimento e tropeços, vou aprendendo o que me faz bem e o que me faz mal. Como diz a música do A-ha: “slowly learning life is ok.”
Tenho trabalhado com dedicação e esmero. Gosto da ideia de ajudar o próximo com meu esforço. Os necessitados merecem cada gota de suor do meu rosto, talvez porque eu busque, no trabalho duro, uma forma de absolvição pelos meus erros.
Cada um sabe de si, e Deus sabe de todos.