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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

UM FILME “GAY” QUE ME MARCOU

Se não fosse pela indicação da minha mui amiga aqui do RL, A.M., eu jamais teria visto esse belo filme e por isso tenho que agradecê-la.

 

“Me Chame Pelo Seu Nome” é um filme sobre um relacionamento homossexual? É sim, mas mais do que isso, é sobre um amor impossível e a perda desse amor, tema tão sensível para mim, que talvez também viva um amor impossível e que tenha perdido para sempre.

 

No interior idílico da Itália na década de 80, o jovem Elio conhece alguém que abalará toda a estrutura de sua vida, o formoso Oliver, que vai passar uma temporada na casa deles de férias para ser assistente do seu pai. Não é dito explicitamente qual a ocupação de Oliver nem do pai de Elio, só sabemos que ele é versado em filologia e nas esculturas do escultor grego Praxíteles.

 

A família de Elio é composta por judeus intelectuais e sofisticados, incluindo o próprio Elio, que toca e compõe música erudita. Ele é um jovem solitário e intelectualizado que entende de diversos assuntos e é apresentado como leitor voraz. Sua família é cosmopolita e fala diversos idiomas, como francês, inglês, italiano e alemão.

 

Oliver, assistente do pai de Elio, é um homem de cerca de 40 anos, inteligente, carismático e de porte físico atlético. Em nenhum momento parece que tanto Oliver quanto Elio poderiam ser gays. E sinceramente, para mim, não ficou muito claro o momento de atração deles, mas me pareceu um lance mais físico do que intelectual.

 

A cultura grega é muito presente no filme, e o ideal grego de amor, como apresentado no diálogo O Banquete de Platão, no qual um dos convidados disserta que o amor ideal seria de um homem velho e sábio com um jovem inexperiente de boa aparência, para que o amor seja algo superior, de alma. A pederastia era muito comum na Grécia Antiga, e o filme nos remete a esse período. No entanto, a relação de Elio com Oliver não é uma relação submissa de um homem mais velho com alguém mais jovem, mas sim uma troca de experiência, na qual a admiração é recíproca e um aprende com o outro.No entanto, o filme me pareceu uma egotrip do diretor gay enrustido, que tentou dar vazão aos seus devaneios na forma de personagens extremamente idealizados. Oliver é bem apessoado, atlético, culto. E Elio também é bonito, embora franzino, inteligente no auge da descoberta da puberdade. Os personagens, como se vê, atendem tipos ideais do idealizador do filme. E os pais de Elio aceitam muito bem o relacionamento deles, numa sociedade fechada como a da década de 80. Tudo muito bom para ser verdade. E não é só esse ponto que achei inverossímil, mas também o fato de Elio acabar de perder a virgindade todo desengonçado, mas na relação sexual seguinte já virar um expert ao fazer sexo oral na moça. Pode isso? Onde ele aprendeu isso tão rápido? E também achei que eles não eram homossexuais, mas bicuriosos apenas, tanto é que Oliver decide se casar. Mas é inegável a conexão que eles têm juntos, é um sentimento universal que todo ser humano é capaz de sentir.

 

As interpretações e mise en scène de todos os atores foram impecáveis. Em especial, a cena final da conversa de Elio com seu pai, na qual ele admite que desconfiava do relacionamento homossexual de seu filho e dá todo apoio. A cena final em que Elio chora na lareira pensando no seu amor perdido também é muito emocionante, e fez com que lágrimas inteiramente masculinas escorressem do meu rosto viril.

 

Só achei que o diretor parece gostar em demasia de mostrar os atores sem camisa, o que sugere que ele talvez partilhe da mesma predileção sexual dos seus personagens. E também há uma cena envolvendo uma fruta que é totalmente dispensável.

 

Apesar disso, gostei muito do filme e agradeço muito a minha amiga por ter me indicado.

 

E as lágrimas que brotaram do meu rosto no final foram em decorrência da impossibilidade de eu também ficar com a pessoa que tanto amo.

 

Para o meu amor não correspondido, valem as mesmas palavras do porquê Elio diz amar Oliver, que são emprestadas das que Montaigne diz para Etienne de La Boétie, ‘porque era eu e porque era ele’. E eu também a amo porque eu sou eu e ela é ela.

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 31/03/2024
Alterado em 31/03/2024
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