Nessas noites insones, nem tudo foi perda de tempo. Por exemplo, escutando um café filosófico de Giacoia, especialista em Nietzsche, em filosofia alemã, entre outros, cujo tema era relacionar a filosofia e sua verdadeira vocação — que é ajudar a viver, na prática.
Muita sabedoria foi compartilhada nessa aula. A primeira ideia vem de Michel Foucault, que nos indaga: “o que estamos fazendo de nós?” Muitos viventes vivem sem se fazer essa pergunta.
E Nietzsche acrescenta que o valor da vida só pode ser avaliado e estimado pelo próprio vivente — que não somos máquinas de objetivar, que em nossas ideias colocamos destino, coração, sangue, entranhas. E pega a ideia de Lutero, que disse ao Papa: “aqui estou eu, não posso agir de outra forma”, como ponto de fidelidade intelectual.
Não importa se vamos revolucionar a Igreja, a filosofia ou simplesmente um site literário — mas nós o fazemos como necessidade fisiológica, não como objetivo, e como consequência, não finalidade.
É esse o meu propósito aqui.
A imagem mais bonita foi quando Giacoia diz que o rumo da filosofia e da sociedade contemporânea, com a resolução que toma para o sintoma que aponta, é o de esperar que recuperemos nossa vocação como figuras de linguagem. Isso define o ser humano, que é cultura — e cultura só existe pela linguagem.
Critica-se o mundo contemporâneo onde a felicidade é medida por likes e nível de compartilhamentos em bytes.
Eu não filosof(o) ou escrevo por bytes, mas com sangue. E quem escreve com sangue não quer ser lido — quer ser aprendido de cor.
E uma das figuras de linguagem que eu acho mais bela é a elipse — que define minha trajetória de vida.
Eu, sujeito elíptico, que saí de mim mesmo para retomar meu caminho no final e gerar a beleza com linguagem: essa é minha vocação.
Sou meio publicitário, meio marketeiro — mas Leminski também fez sua fortuna assim, justamente pela sua criatividade na escrita, por dominar a linguagem, o que possibilita brincar com ela.
E assim sou eu: não posso agir diferentemente.
E então chegamos à crítica elogiosa de uma coitada.
Ela descreve minuciosamente alguém que, supostamente, despreza — com uma riqueza de detalhes que beira a obsessão. Isso evidencia que o objeto da crítica a afeta pessoalmente.
A autora mostra uma tendência comum de pessoas que se põem a filosofar com seu repertório exíguo e diminuto misturando o pouco que leu, mas erudição é coerência — e a autora mistura autores que se desmentem.
Cita Jung cuja análise é o contrário da de Freud. E cita Nietzsche ao mesmo tempo que Bukowski — que é um bêbado misógino — desconsiderando que Nietzsche é contra o álcool.
Ou seja: uma salada de frutas com proteína e carboidratos.
Mas ao mesmo tempo em que critica, ela paradoxalmente elogia — pois me valida como alguém que ocupa espaço, talvez mais espaço do que o ego dela gostaria de permitir.
E de certa forma, me pintou como sou: meu estilo grandiloquente, impositivo…
O incômodo que causo parece vir da forma como me mostro sem pedir licença, com afetação sim, com estética exagerada talvez, mas com identidade autoral forte. E isso fere egos frágeis.
Eu viro um espelho que desnuda a falta de brilho alheia. Quem não suporta isso, ataca.
O retrato que ela pinta é quase o de um personagem baudelariano: o dândi moderno, que transforma o sofrimento em arte, e a estética em arma. O tipo de figura que irrita quem exige “normalidade” e “sobriedade”.
E a gente que aplaude o que ela disse confirmam isso.
Andretti, que nunca ouvi falar, faz uma generalização moralista, do tipo “odeio quem quer aparecer demais”. Isso costuma ser típico de quem não sabe se destacar e tenta rebaixar os outros ao nível da sua invisibilidade.
Luiz Jr critica “letras grandes”, “poluição visual”, “TDAH”, “citação do ChatGPT”… ou seja, fala mal de tudo que foge da norma ou do que não entende, revelando apego à forma antiga, sem ousadia criativa.
E voltamos a Foucault e à análise de relações de poder, que são uma forma. Se um poder social está mais forte que um sujeito, ele molda suas ações e corpo.
Mas se o sujeito é mais forte que as relações de poder à sua volta, pelo contrário — ele impõe sua vontade de dentro pra fora, modificando tudo.
É essa imposição criativa contra o status quo relacional e reativo que estou impondo. Não como objetivo — mais uma vez — mas como consequência.
É assim que imponho meu gosto nos espaços que frequento: como academia, trabalho e espaço literário. Sem querer ser copiado, pois isso seria impossível.
Mas como disse Lutero e Nietzsche: eu não posso agir de outra forma.