O conceito mais importante de Deleuze é o do corpo sem órgãos. Um corpo movido pelos órgãos é sempre conservador, porque a lógica dos órgãos é conservar-se, continuar funcionando, manter o equilíbrio — nunca a expansão.
Por isso ele definiu o corpo sem órgãos como o corpo ativo, criador, que vai além da conservação dos órgãos. O conservadorismo está profundamente relacionado ao reacionarismo de pessoas que apenas reagem aos acontecimentos da história — não os provocam, não os criam. Não têm força para isso.
O sucesso não tem a ver com conservar o que já se tem, mas sim alcançar o que não nasceu com você. Trata-se de uma expansão ativa e contínua. Não importa suas circunstâncias, mas sim o que você vai fazer com elas.
Se você nasceu em uma família boa e se fez médico, por exemplo, graças ao capital dos seus pais, você não tem mérito algum. Apenas está conservando o capital deles.
Na verdade, indivíduos conservadores são, em geral, bastante medíocres. Conformistas. E quando se formam, tornam-se aqueles profissionais que não se destacam. Nem têm espírito para usufruir do seu conforto com elegância. Despreocupam-se com a própria saúde e o próprio corpo, e seu conteúdo se resume a ser um técnico de saúde cuja limitação de linguagem o impede de pensar com clareza.
Seu aprendizado foi restrito a uma única matéria. Quando estudaram para o vestibular, foi com o único intuito de se formar — não por prazer. E um estudo assim nunca é profícuo.
O segredo do sucesso é como na música do Morcheeba, Enjoy the Ride — ou seja, aproveitar a jornada, o caminho, ter prazer no processo.
Quando o sucesso vira uma obrigação, você desperdiçou sua vida e morreu vivendo.
Eu não estudaria para passar num vestibular ou concurso público — essa lógica da mediocridade de garantir uma “boquinha” estatal. Prefiro empregar meu tempo lendo Proust, Em Busca do Tempo Perdido.
O que dignifica minha vida foi, pois, um critério estabelecido por mim mesmo.
Nietzsche diz que a maior capacidade do homem é a de avaliar e dar a si mesmo seu bem e seu mal, com base nas afecções do seu corpo — pela régua de que ele se expande ou se retrai.
Zaratustra então declara: “Ai daquele que é seu próprio juiz e carrasco, que condena ou absolve a si mesmo.” Isso não é coisa de um corpo com órgãos, mas sim de um corpo sem órgãos — de indivíduos ativos.
Essa é a compreensão profunda do “conhece-te a ti mesmo” e do mandamento laico: torna-te aquilo que és.
O que me fez dizer: sou mais um filósofo do que um literato. Mais um artista do que um filósofo. Mais um esteta do que um artista. Mais um dândi do que um esteta. Mais tudo do que nada.
E mesmo sendo pobre materialmente, pela riqueza do meu espírito, estou entre o seleto grupo dos mais ricos do mundo — muito à frente de Elon Musk, Carlos Slim… o que transforma um médico colombiano num mendigo diante de mim.