É preciso ser muito macho para afirmar que achou um homem bonito e atraente sem que isso sequer arranhe a minha imagem, reputação e heterossexualidade. Aliás, nada contra os gays. Só que é necessário vocação para sê-lo.
Eu gosto dos gays, mas não me identifico com o que eles fazem para ter prazer. Só isso. Meu negócio é fazer amor de frente, não de costas.
Escrevo com um delay de dois dias. Na quarta, o instrutor da academia — um jovem que parece o Daniel Radcliffe, vulgo Harry Potter — só que descolado, forte e tatuado, chamou minha atenção.
Frequento a academia diariamente e não acho praticamente nenhum corpo bonito, a não ser o meu próprio. Musculosos e fortes, sem dúvida. Mas não há dúvida de que o tipo de corpo mais bonito é o das bailarinas, modelos, atletas profissionais.
Não existe ator, galã da Globo, musculoso. Existe definido, no máximo. Simétrico. Agora, músculo em excesso acaba com toda a simetria. Assim como não existe galã barrigudo.
E esse jovem é um galã. Um colírio Capricho tatuado com corpo atlético e definido. Ora, eu não sou de me diminuir diante de nenhum outro homem, mas assim que ele chegou, senti minha beleza menor. E ele é educado, igualmente.
Observei de soslaio — não por atração ou inveja, mas para observar os olhares que ele desperta. E, para minha surpresa — ou as pessoas e mulheres disfarçam muito bem —, não percebi nenhuma troca de olhares evidente para ele.
Não sei se porque as mulheres já se acostumaram com a beleza dele, e era uma das primeiras vezes que eu ia no final da tarde. Porém, notei o que também me sucede: algumas parecem fazer questão de treinar perto dele, mas sem entregar o olhar.
Eu poderia ser traído por um homem daqueles, sem dúvidas. Porém, ele teria que ser um amante incansável, um touro, porque quando o tesão acabar… será que seu conteúdo, sua educação, acompanha a aparência?
Eu acho importante ser um homem completo. Total.
Hoje mesmo, ele treinou pela manhã. E sem regata, com uma camiseta mais longa, sua beleza já diminuiu. Já a minha preocupação é ficar bonito pelado, mas ainda mais bonito vestido — e, pra isso, é necessário ter elegância.
Enquanto ele treinava vendo Instagram, eu assistia a um filme de Antonioni com Fellini. Alheio a todo mundo. E meu atletismo é muito maior.
Assim que ele foi embora — na própria quarta-feira — senti que minha presença já aumentou. Comprovado pelos olhares por trás de uma loirinha. Meio esquisita, é verdade, mas com traços de beleza europeia, loira de olho verde, inegável.
Ela olhou para trás em minha direção enquanto soltava os longos cabelos, demorando para prendê-los, acariciando-os como se fossem suas próprias regiões erógenas.
Alguns olhares são inconfundíveis.
O fato de nosso personal galã não ter despertado olhares indiscretos pode mostrar que as mulheres são boas — mas muito boas — em disfarçar.
Se até eu tirei uma casquinha com os olhos — não de inveja, mas de admiração e inspiração — é porque há algo ali.
Muito embora eu não trocaria quem sou, meu conteúdo, minha beleza exótica e atenção, por ninguém. Nem por a dele.