O RECANTO DAS LETRAS, ORGULHOSAMENTE, APRESENTA:
Meu Pai, com lágrimas nos olhos de quem se sabe tão pequeno diante da Tua enormidade — do Senhor que é o Deus dos artistas, inspiração para todos aqueles que criam — criaste o homem à Tua semelhança. E não importa se foi o homem que Te criou à sua imagem; o que importa é que houve criação.
Essa coerência divina diante do caos é a maior de todas as provas de Tua presença.
Peço-Te, Senhor, sabedoria para lidar diante dos ímpios que querem se impor não por meio da criação, mas através da reação — obra arrebatada do maligno. A arrogância do ignorante é mal duas vezes: por ser arrogante e por ser ignorante. Quanto mais ignorante, mais arrogante.
Mas, em Sua infinita bondade, o Senhor falou ao meu coração e abriu meus olhos: devo ser humilde com os vulneráveis, humilde com os humildes. Lavar os pés dos pobres. Estirar-me na lama para que eles não sujem os seus pés calejados.
Agora, com os ignorantes, exerço a realeza — para mostrar e lembrá-los da sua pequenez. E mal sabem eles que és Tu quem me sopra e revela, concede-me um pouco da Tua sabedoria. Eu, tão pequeno. Mas Tu, tão grande.
Somos invisíveis não por quem somos — fracos, pequenos, vulneráveis — mas por Ti, que és maior do que o mundo. E eles, covardes, são corajosos só contra os vulneráveis.
Porque ser forte é ser valente diante de quem é mais forte ou mais poderoso do que você.
A metáfora da Bíblia, que diz que Seu maior adversário foi o anjo que perdeu seu diadema de líder celestial por ter-se achado maior que Ti, é símbolo de que toda arrogância será castigada. E que o lugar deles é fazer companhia ao anjo das trevas: Lúcifer.
E por último, Pai: Teu filho herege, Nietzsche, ensinou a importância do esquecimento. Por mais que esse Teu filho pródigo tenha maldito Teu nome e sofrido os tormentos da vida, não dá para negar que Tu o vias com bons olhos.
Caso contrário, não lhe terias dado tanta sabedoria, não é mesmo?
Então, Pai, concede-me o esquecimento. A amnésia seletiva. O esquecimento do rancor.
Que eu não me afete por acontecimentos negativos, para que meu pensamento seja fluido como um rio — e os acontecimentos ruins, apenas pedras que obstruem o fluxo das águas cristalinas da criação.
Pois tudo isso é típico dos reacionários. Dos destruidores. O contrário da criação que Tu representas. São sacerdotes da morte.
E eu sou sacerdote da vida e da criação.
Assim faço a Tua vontade, e invisivelmente inspiro uma multidão silenciosa. Só o Senhor soube conceder essa graça a Seus filhos, Pai.
Chama-me de filho, assim como Te chamo de Pai.
Que Criador também serei eu.
Amém.