Pai,
Como explica nossa irmã historiadora da Bíblia, Karen Armstrong, depois que os judeus perderam seu templo — confiscado pelo tirano Nabucodonosor — a fé passou a ser exercida não mais em igrejas, mas individualmente, nas casas, por meio da oração.
Então, Senhor, ouve a minha oração em forma de texto, já que, antes mesmo de eu escrever, o Senhor já sabia o que eu iria dizer — se não foi o Senhor mesmo quem me inspirou a escrever.
Hoje, meu Pai, agradeço pelo Dia das Mães, especialmente pela minha, a quem devo tudo que sou.
Na Tua graça, permitiu-me passar o dia com ela, com meu irmão, com minha família e com meu sobrinho. Que todos eles, hoje, tenham orgulho de mim.
Que eu tenha me tornado exemplo de conduta, modelo a ser copiado. Para quem não acredita em milagre: eu operei um, com a Tua ajuda.
Até meu sobrinho anda dizendo: “O titi está saudável igual o tio” — e as crianças não mentem.
Na vertente do espiritismo, dizem que escolhemos, antes de encarnar, a família que queremos. Se isso for verdade, mostra que eu já era inteligente antes mesmo de nascer, pela família que tive.
Agradeço a causa alcançada e acredito tanto em Ti a ponto de me declarar um ateu cristão, um agnóstico que crê em Ti, à minha maneira.
Meu Deus é o da Criação.
E esse Deus da Criação é tão divino que até o prazer é sagrado — se não fosse, não seria por intermédio dele que se geraria a vida, a criação, a perpetuação da espécie.
Na minha oração de hoje, peço a sabedoria, a saúde e a força de vontade de sempre — para alcançar a graça do prazer.
Que muitas mulheres, hoje, deixariam seus parceiros e suas vidas para ficarem comigo. Mas na minha heresia, peço e busco que também elas desejem simplesmente me desejar.
Que abram mão — não para ficarem comigo pela vida — mas até mesmo por um único dia, uma noite, um instante.
E que não se arrependam da troca.
Com Tua inspiração e graça, fujo do banal do cotidiano.
Que tudo o que eu possa falar, seja poesia.
Como num filme de Godard, aquele Teu filho que escolheu o dia em que morreu. Ou como um filme de Paul Thomas Anderson — como Licorice Pizza — que, pela sabedoria que me destes, e pelo bom gosto, comecei a ver hoje e pretendo escrever a respeito.
Na Tua graça, Pai, revelaste-me que quanto mais me amo, menos preciso e menos penso em amar outra pessoa, no sentido do amor-paixão.
E, por mais paradoxal que pareça, mais as pessoas me amam por eu me amar tanto. E, assim, mais eu consigo amar o próximo.
A espuma dos dias. Os dias perfeitos. O encontro com o paraíso na Terra.
A sabedoria de saber que podem ser melhores do que eu em um dia ou outro — mas que ninguém é melhor do que eu todos os dias.
Mais uma vez, peço e agradeço pela saúde e pela vida da minha mãe.
Amém.