(ATUALIZADO)
Diz uma música que todas as coisas confluem para aqueles que creem em Ti, Senhor. Mas todas as coisas também confluem para aqueles que escrevem.
Com base num comentário — não que recebi diretamente, mas que foi publicado na página daquela garota cujo nome é a versão feminina de Enzo (e cujo bom gosto parece refletir bem a cultura dos Enzos) — interpretaram um comentário meu como uma expressão de preconceito.
Diz-se, ainda, que meus comentários seriam invasivos e desnecessários. Mas sobre isso, pretendo falar mais detidamente em outro texto. Talvez a autora prefira os comentários-spam de “parabéns” e “69 literário” de quem sequer leu o texto dela. Na verdade, a reação das pessoas, que eu não controlo, revela mais sobre elas do que sobre nós.
Porém, me chamou atenção ser chamado de “preconceituoso” — justo ela, que se declara homossexual.
Eu havia feito um comentário espirituoso, mas já vinha pretendendo escrever sobre o filme LGBTQIA+ Azul é a Cor Mais Quente, ou A Vida de Adèle.
E hoje, coincidentemente, o filme da minha reestreia no meu reencontro com o MUBI foi justamente de um cineasta polêmico francês, François Ozon. Seu filme mais aclamado, que eu nunca havia visto: Swimming Pool.
Ozon tem uma estética de filmagem com abordagem muito erótica e sensual, polêmica, explorando tabus sociais e sexuais: como a prostituição de uma jovem por prazer, um homem hétero que gosta de se transvestir, e agora a tensão sexual de uma ninfeta — uma Lolita crescida, uma socialite francesa e britânica.
Apesar da província, é uma Paris Hilton ninfomaníaca (só que com os peitos grandes), e a atração sexual que ela exerce sobre uma “coroa” britânica, seu completo oposto: mais frígida, escritora de ficção policial, autora de uma série que lembra Sherlock Holmes.
A coroa — como diz uma personagem do filme — é bem apetecível, apesar da idade, e Ozon faz questão de mostrá-la nua, assim como a jovem, que é bem liberal, hedonista, e a cada noite se envolve com um homem diferente, de aparência bem questionável, pela pura compulsão ao sexo.
Ela relata à escritora que se relacionou sexualmente aos 13 e nunca mais parou. Pegou gosto pelo negócio.
O filme se desenrola numa casa com uma bela piscina — que se torna, aliás, um personagem à parte. A casa é do editor da escritora francesa, e ela vai passar uma temporada na França, a convite dele, para ter inspiração e novos ares para escrever.
Logo, a atração que sente pela jovem a faz abandonar a ficção policial para escrever uma biografia-ficção inspirada na jovem Paris Hilton francesa dos peitões.
Ela investiga sua personagem a ponto da obsessão, a fim de escrever sobre ela. E logo se envolve na história da moça — que vira um romance policial.
É um filme cheio de erotismo, nudez e tensão sexual — marca do cinema de Ozon.
O final? Eu não vou contar. Assinem o MUBI ou comprem uma TV da LG nova — vocês ganham 3 meses de assinatura grátis. Foi assim que eu consegui. Mas vale a pena.
Gosto desses filmes que são inspirados em outros — e que quase superam, ou até superam, os originais. Como Jovem e Bela, de Ozon, inspirado em A Bela da Tarde, de Buñuel. E A Grande Beleza, quase uma cópia moderna de A Doce Vida, de Fellini.
Esse filme de Ozon, cuja característica — além do erotismo — é a suspensão, um thriller sexual, me lembrou Blow-Up: Depois Daquele Beijo, de Antonioni, pelo ritmo e por como o filme vai ganhando contornos misteriosos no decorrer. Passa de um filme erótico para um suspense policial.
Azul é a Cor Mais Quente é tão sensual, ou sexual e lésbico quanto, mas ainda mais explícito. Eu vi no cinema. Achei bem instigante e bonito como aborda a bicuriosidade de Adèle, que no final das contas é heterossexual curiosa, com experimentações — sem dúvidas.
Já a garota do cabelo azul é, de fato, a homossexual, como costuma ser em todos os casais de lésbicas.
Falar que assistir a um filme dá tesão é igual falar que um fotógrafo da Playboy sente tesão ao fotografar suas modelos, na minha opinião. Ou que um ginecologista se excita ao atender uma mulher apetecível.
Eu sou um esteta, um voyeur cinéfilo. Para mim, o erotismo faz parte da trama, da história — e não misturo uma coisa com a outra, mesmo em filmes com sexo explícito.
Ora, se quisesse me excitar, assistiria a um vídeo no Xvideos — e de no máximo 5 minutos, que é minha paciência para esse tipo de conteúdo. E nem precisaria ter sexo: na verdade, quanto mais explícito e profissional, menos eu gosto.
Porém, faz tempo que não consumo esse tipo de material.
Ver um filme com sexo ou nudez explícita é como um pintor pintando sua musa nua. Para mim, é uma questão artística e estética. Não há que se falar em excitação.
Se me excito, talvez seja pela beleza da ideia — igual àquele vilão do filme do Mario Bava que, diante da beleza, sofria de uma patologia que despertava seus instintos mais selvagens.
Mas, ao contrário, a arte me excita e me apazigua — assim como a via schopenhaueriana.
Indico Swimming Pool e Azul é a Cor Mais Quente. Deem esse prazer a vocês mesmos. Não será sexual, mas meramente estético.
Assinado: um preconceituoso esteta,
Dave Le Dave.