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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos


HOMEM SEM CULTURA É UM ANIMAL

 



O RECANTO DAS LETRAS, ORGULHOSAMENTE, APRESENTA:


 



O Último Sopro de Cultura

Na iminência da morte, o crítico literário Harold Bloom, já exangue em seu leito, começou a recitar Goethe em alemão, no original.

 

Pessoas de espírito limitado podem questionar o sentido disso: “Por que alguém, agonizando, recitaria poesia alemã?” Ora, seres ignóbeis, esse foi um ato de dignificar o momento da morte com aquilo que há de mais divino no ser humano — a cultura, o que nos torna verdadeiramente humanos, em contraste com o mero instinto animal.

 


 

Humanos por Cultura

Se não somos apenas animais, é por causa da cultura. Por isso, ela deveria ocupar o lugar mais elevado da existência humana. No entanto, muitos vivem como se fossem meramente animais — homens desprovidos de cultura, que cultuam não o conhecimento, mas o dinheiro, o status e o corpo. Esses, em vez de superarem o homem, estão regredindo ao macaco.

 


 

A Saúde das Palavras

É claro que não adianta ter apenas uma coisa. Um bom conteúdo não se sustenta em um corpo doente. É triste ver o professor Clóvis, que sempre foi forte, hoje magro e debilitado. Seu estado de saúde enfraquece até mesmo a potência de sua mensagem. Não vejo mais vídeos recentes dele, pois prefiro guardar na memória o Clóvis vigoroso que tanto me ensinou.

 

Mas, ao menos, o conteúdo que ele carrega dignifica sua fragilidade física. Como disse Deleuze, “a literatura é uma forma de saúde”. E é bom que seja um artigo indefinido — uma forma entre tantas. O cinema é outra. A filosofia, mais uma. E o próprio corpo também é. O problema está em possuir apenas o corpo, exibi-lo — muitas vezes da forma mais desnuda possível — para esconder a ausência de conteúdo. Talvez essa valorização do corpo seja uma consequência direta da carência de substância intelectual. Daí as selfies na academia, no espelho, muitas vezes sem conteúdo… e nem mesmo um corpo bonito.

 


 

Filosofia: A Coluna do Saber

A filosofia fundamenta todos os conhecimentos. É a origem e a ferramenta de explicação do mundo. Por isso, é o maior símbolo possível da cultura: ela sustenta todos os demais saberes.

 

Ela é como a viga estrutural de uma casa — o alicerce que suporta tudo o que vem depois. É o abdômen do corpo, a parte que sustenta o resto. E é justamente por isso que exibir um abdômen definido, para mim, é o mais simbólico.

 

Na filosofia, por exemplo, é conhecida a teoria das quatro causas de Aristóteles. A mais importante delas é a causa final — o objetivo, a finalidade. Em seguida vem a causa eficiente, que é o agente, aquele que aplica a finalidade, a razão. Depois, a causa formal — a essência, o design. Por fim, a causa material — o corpo humano.

 

Portanto, o mais importante é a ideia abstrata, a vontade. Da finalidade surge a forma e, por último, a matéria — o corpo. Um corpo sem propósito não se sustenta.

 

Contudo, a sociedade grega, aristocrática, de castas, desconsiderava a influência do corpo sobre a vontade. “Há mais sabedoria em seu corpo do que na sua melhor sabedoria”, diria Nietzsche. A razão seria instrumento da vontade do corpo. Mas um corpo doente só pode gerar finalidades doentes, e finalidades doentes nascem, também, de um corpo em sofrimento.

 


 

Energia Vital

Os objetivos de uma pessoa são a expressão do seu corpo, sua energia vital, seu espírito. Sem finalidade, rumo, destino ou propósito, não se chega a lugar algum.

 

Por isso, meu objetivo com meu corpo envolve a eliminação de gordura e a definição muscular. Uma meta que estabeleci com base em um corpo que combina com meu propósito e essência.

 

Mas, para alcançar a meta, é necessário um plano de ação: uma rotina rigorosa, cuidado com a alimentação, suplementação, controle de sono, regulação do cortisol, ingestão de chás diuréticos e termogênicos — tudo em prol de um objetivo claro.

 

Neste momento, meu corpo atende às expectativas que projetei. No futuro, pode ser que isso mude.

 


 

Aparência e Essência

 

Quem me vê indo diariamente à academia pode pensar que sou apenas mais um “marombeiro”. Mas minha característica é justamente essa: aparentar fazer o mesmo que todos, mas com um sentido completamente distinto.

 

Eu treino com inteligência, como um atleta — mesmo sendo amador. O prazer na execução tem que coincidir com o presente, para que não se torne um martírio. Por isso, enquanto alguns escutam músicas descartáveis e veem vídeos no Instagram durante o treino, hoje assisti Amarcord, de Fellini, gargalhando, me deleitando, e ainda me exercitando.

 

Ao terminar, uma coletânea de músicas de qualidade embalou minha saída. Assinei o MUBI, mas sem bom gosto e curadoria, ninguém sabe o que assistir. Eu já havia visto boa parte do acervo antes mesmo de assinar. Agora será ótimo assistir nos momentos de descanso ou durante outras atividades.

 


 

Inteireza Humana

Um homem parcial nunca será um homem completo. Recebi o elogio de uma amiga lésbica que disse que pareço “a Barbie” — por causa da quantidade de coisas que faço. Ela captou o espírito. Esse espírito é parte da aquisição da cultura. E se fui capaz de conquistá-la, também consigo cuidar do corpo.

 


 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 04/05/2025
Alterado em 04/05/2025
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