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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos


Do Cavaleiros do Zodíaco à Clínica de Reabilitação

 



APRESENTANDO:




Das Estrelas ao Sofrimento

Cavaleiros do Zodíaco é um anime japonês que fez muito sucesso no Brasil — e continua fazendo, especialmente entre os nostálgicos nascidos no início dos anos 90. A década foi marcada por um boom cultural, e os marmajos que naquela época eram crianças ou adolescentes esperavam ansiosamente o fim de Sailor Moon para assistir Cavaleiros do Zodíaco.

 

Na prática, ninguém “ligava a TV” rigorosamente para Cavaleiros. Coincidentemente — ou não — todos acabavam assistindo a Sailor Moon antes. E ninguém admitia gostar, já que era um anime com foco mais emocional, terno, protagonizado por colegiais e romances com o Mascarado Misterioso. Mas assistiam.

 


 

O Amor Contra o Instinto

Sailor Moon e Cavaleiros do Zodíaco são animes muito distintos. Sailor Moon se baseia na luta do bem contra o mal por meio do amor, da amizade e da sensibilidade. Já Cavaleiros é visceral, violento, com fortes referências à mitologia grega e nórdica.

 

Um dos mitos abordados em Cavaleiros é o de Andrômeda — representado por Shun, um dos Cavaleiros de Bronze que luta pela deusa Atena. A saga mais famosa gira em torno dos Cavaleiros de Ouro, que representam os doze signos do zodíaco nas Doze Casas. Ainda assim, há outras sagas ricas em referências mitológicas, como as de Hades e Poseidon.

 


 

O Sacrifício de Andrômeda

No mito original, Andrômeda é condenada por conta da arrogância (hýbris) de sua mãe, que afirmou que a filha era mais bela do que as Nereidas, ninfas do mar. Isso despertou a fúria de Poseidon, que enviou um monstro marinho para destruir o reino. Para apaziguar o deus, os pais acorrentaram Andrômeda a uma rocha.

 

Ela só foi libertada por Perseu — que, curiosamente, é filho de Poseidon nas versões infantojuvenis.

 

No anime, Shun usa como arma a Corrente de Andrômeda. Ele é irmão de Ikki, e originalmente ambos deveriam passar por treinamentos específicos. Shun foi escolhido para treinar no mundo de Hades, mas seu irmão mais velho, Ikki, tomou seu lugar para protegê-lo. Nesse gesto, ele se torna o Perseu de Shun.

 


 

O Inferno de Fênix

Ikki é forjado no Inferno. Diferente dos demais Cavaleiros de Atena, ele treina no submundo — um ambiente de dor, sofrimento e fogo. Isso o transforma em uma figura ambígua: ora tido como maligno, ora como salvador. Mas sua essência é boa. Ele é a Fênix — aquele que renasce das cinzas.

 

Ikki foi ao Inferno e voltou. Conheceu os Jardins do Éden e retornou à Terra para lutar pela justiça. Sua experiência no submundo o tornou o mais resiliente dos Cavaleiros, superado apenas por Seiya, o protagonista. A lição é clara: o talento pode ser superado pela coragem e determinação.

 

Se fosse Harry Potter, Ikki seria Sonserina. Seiya, Grifinória.

 


 

O Inferno de Fênix

A verdade é que Ikki foi forjado no Inferno. E o meu Inferno foi a clínica de reabilitação.

 

Lembro de um relato: soldados no quartel esperavam ansiosos para assistir Cavaleiros do Zodíaco, mas sempre acabavam vendo Sailor Moon antes. O Exército valoriza disciplina, força física e bons hábitos — e eu admiro isso. Mas não quis servir. Careço de patriotismo. Como canta o Ira!, “Eu quero lutar, mas não por esta pátria”.

 

Mas reconheço que tenho vocação militar: preparo físico, inteligência, adaptabilidade. Eu poderia ser um Napoleão, um Julien Sorel, um Alexandre — se tivesse nascido em outra época. No entanto, vejo mediocridade entre os militares brasileiros, como nos generais que apoiaram Bolsonaro.

 


 

Inferno Sem Estrutura

Quem esteve numa clínica de reabilitação como a que eu estive sabe o que é disciplina de verdade — sem estrutura, sem dignidade.

 

Comida? Restos. Sopa rala, macarrão com arroz e feijão, pedaços de frango, salsichas em rodelas, calabresa nos “dias bons”. Impossível ficar forte. Ao contrário: adoece-se. Eu adoeci. Quase morri, cheguei aos 50 quilos, sem força para caminhar. Sem médico, sem hospital. Só com fé.

 

Houve momentos em que achei que estava ali para morrer. Que não veria de novo quem eu amo — e quem nunca vi pessoalmente. Foi um inferno de sofrimento, saudade e resiliência.

 


 

O Retorno da Fênix

Como Ikki, eu voltei do Inferno mais forte. E como ele, não derramei uma lágrima durante esse período. Aguentei firme. Mas teria feito bem chorar. Hoje, chorei — de felicidade. Pela manhã, enquanto escrevia sobre campeões, escutando música. Foi um choro de alívio, não de dor.

 

Na clínica, os adictos repetem um mantra sem entender. Que não usaram drogas naquele dia graças a sua família e um pouco da sua própria boa vontade. Muitos recaem ao sair da bolha. E eu, que nunca falei disso, recaí por indolência. Porque quem está internado não tem escolha. Quem vive numa bolha sem drogas, não escolhe não usá-las.

 

Mas eu, sim, posso dizer que estou sóbrio por escolha. Vida ativa, alimentação saudável, disciplina — não por regras externas, mas por minha própria vontade. Se um dia fui um zumbi, hoje sou um zumbi no melhor sentido: só um tiro de doze na cabeça me derruba.

 

Sou a Fênix. A cada renascimento, volto mais forte.

 


 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 03/05/2025
Alterado em 03/05/2025
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