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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos


Quero ser ATLETA; não FISICULTURISTA!

 



Entre o céu e o suor

 

 

Treinando praticamente ao ar livre, noto a beleza da natureza em seu minimalismo perfeito, a mudança de tempo caótica em São Paulo, a paleta de cores cinza, a chuva opaca invadida repentinamente pelo sol, e o cheiro da água tocando minhas narinas dóceis. Eu comungo com a natureza enquanto me exercito, enquanto fito as nuvens, suas formas oníricas, e me entorpeço com essa paisagem simples.

 

Me sinto quase em Sils-Maria, nas nuvens das montanhas — vocês sabem, era um dos lugares prediletos de Nietzsche — e exibido na bela película de Olivier Assayas, Acima das Nuvens, filme com Juliette Binoche e Kristen Stewart. Uma faz uma cineasta, a outra sua assistente — meio lésbica, meio gostosa, meio perfeita pro meu gosto pelas suas imperfeições perfeitas.

 

Veja a beleza abaixo disponível no YouTube, que mostra a formação das nuvens em forma de serpente. Não há edição cinematográfica, apenas a magia do cinema crua, encontrando a natureza:

 

https://youtu.be/mJDnkuwmhtU?si=Let7_c21VgYblV03

 


 

O caos criativo e a metáfora do canudinho encantado

Baseado na criatividade de um jingle de companhia aérea, o ataque do Flamengo — que prometia ser o melhor do mundo, composto por Romário, Sávio e Edmundo — acabou virando piada: “É o melhor ataque do mundo, joga um pouquinho, descansa um pouquinho… É o Sávio, Romário, Edmundo.” Parafraseando essa genialidade tropical, meu estilo de vida também tem seu ritmo peculiar: eu treino um pouquinho e escrevo um pouquinho.

 

Claro que, nesse intervalo, eu gostaria de ajudar mais minha mãe na organização da casa. Mas essa bagunça organizada, esse caos criativo, faz parte da minha personalidade. Meu irmão brinca que, se eu fizesse a mesma terapia que o meu sobrinho, talvez eu fosse mais centrado. Meu sobrinho, aliás, foi diagnosticado com autismo leve por indecisão — algo que parece ter mais a ver com o olhar da sociedade do que com a alma da criança. Ele prefere brincar sozinho, inventar suas próprias histórias, não gosta de dividir brinquedos nem de crianças menores. Quem vê de longe diz: “só pode ser sobrinho do David mesmo”. Ele é uma criança lúdica e risonha, cujo maior passatempo é… comer.

 

Ele tem dificuldades motoras,  de segurar lápis e talheres com precisão. Uma força quase desproporcional para a idade, que ele ainda não sabe muito bem como controlar — e que pode, sem querer, machucar outras crianças. Um tourinho. Faz fono, terapia ocupacional, tudo pra preparar o caminho futuro. E, entre todas as ferramentas do mundo, seu companheiro inseparável é um canudinho velho, carcomido, que trata como se fosse um bastão celestial, um cajado de Asclépio, ou talvez uma chave mágica de Nárnia. Só serve aquele. Aquele mesmo que caiu no chão da Lapa, que ele insiste em mastigar como um totem místico. E de fato, com tantos vírus e bactérias, os anticorpos dele devem ser de titânio. Um dia, o bendito canudo sumiu durante a terapia, e a psicóloga conversou com ele, ajudando-o a desapegar. Desde então, nunca mais falou no assunto. Mas quando ele veio me visitar, eu não resisti e perguntei. Imaginei quase uma faca sutil de “Pullman” ou a bússola mágica de “A Bússola de Ouro”. Meu irmão, no mesmo instante, me olhou com olhos largos e gestos bruscos, mandando eu falar baixo, explicando o desaparecimento do canudo como se fosse o Léo, do Júlio, do Cocoricó. Um mistério sagrado.

 

Talvez, se eu fizesse terapia, seria mais organizado. Mas e se essa organização custasse minha criatividade? Alguns jogadores não ganham massa muscular para não comprometer sua habilidade — e se minha desorganização for parte da minha genialidade caótica? Prefiro assim. Na minha bagunça, eu me acho. E mesmo que minha mãe mereça toda a ajuda do mundo, a atividade física vem em primeiro lugar.

 

Quando voltei da internação, lembro que fazia faxina em casa todos os dias, pois estava habituado à lavoterapia na clínica de reabilitação. Mas, com o tempo, aquilo se tornou monótono. Parei de agir. Voltei ao vício. Agora, isso não vai mais acontecer. Cada gota de suor no treino me lembra tudo o que posso perder por prazeres passageiros que não valem a pena. Não vale perder minha alimentação saudável, minha saúde, meu projeto de mim mesmo como obra de arte. Estou esculpindo meu corpo como uma estátua grega. E a cada treino, a cada novo hábito, fico mais forte física, mental e espiritualmente. Me distancio das correntes do passado que já não me prendem mais.

 

E olha só: desde que voltei da internação, fiquei mais dias sóbrio do que em uso. Se fosse um gráfico de ações, estaria em viés de alta — uma ação que vai estourar em lucro pra quem investir agora, enquanto ainda está com o preço acessível.

 


 

Estética e identidade

O cuidado do corpo também é questão estética — de saber exercer sua individualidade e se expressar através do corpo.

 

Estou procurando informações durante o processo e me deparei com o canal do consultor Growth e influenciador fitness Leandro Twin. Ele é bom comunicador, tem conhecimento, mas nem tudo que ele fala me convém. Eu prefiro descobrir e aprender por conta própria. Ele fala com a legitimidade de um fisiculturista que foi ex-obeso e trabalha com atletas, embora… ele não tenha pescoço.

 


 

Metabolismo, hábito e filosofia do corpo

Ele compartilha algumas informações relevantes: não é bom queimar muitas calorias no começo, porque, quando o corpo entra em osmose, você precisa ter manobra para ajustar a dieta. O corpo, se você queima muita energia, tende a preservar — não queimar gordura — para não morrer. É o conatus de Espinosa: defesa da vida, da permanência do ser.

 

Mas ele desconsidera a importância da consistência, do hábito e da adaptabilidade. O hábito e a constância quase impossibilitam a aquisição de gordura. Por isso não existem atletas gordos — lutadores, tenistas ou jogadores de futebol — devido à dieta e ao treino constante. A não ser nas categorias mais pesadas, o que é uma escolha.

 


 

Cutting, bulking e a balança de Libra

No mundo maromba, há um maniqueísmo idiota entre duas vertentes: cutting e bulking, como uma visão dualista de certo e errado, direita e esquerda, que não procura o equilíbrio.

 

Não à toa, eu sou do espírito da balança de Libra: busco o equilíbrio.

 

Cutting é o corte de calorias totais para emagrecer e depois ganhar massa. Bulking é ganhar massa de qualquer forma — consumir calorias boas e ruins para engordar, e através dos treinos criar músculos. Com mais músculos, maior metabolismo.
 


 

A tirania do abdômen

Porém, não há físico que sustente uma barriga flácida e grande. Isso destrói qualquer simetria. Demonstra o oposto de saúde: desleixo, falta de vontade.

 

O abdômen é a base de tudo. Sustenta. Chama atenção — inclusive do sexo oposto. A cintura fina, os ombros largos, braços e membros proporcionais: essa é a harmonia que fala com o olhar alheio. Não faz sentido ser forte e barrigudo, nem magro e barrigudo.

 

Os modelos são magros porque assim as roupas assentam bem. E o principal objetivo da academia não é músculo nem freak show, mas saúde — para promover pensamentos saudáveis.

 



Mens sana in corpore sano

Diz o ditado: “quando a cabeça é fraca, o corpo padece.” Mas o contrário também é verdadeiro: se o corpo é fraco, a cabeça padece. Um está relacionado com o outro. Quanto mais saudável o corpo, mais saudável o pensamento — e vice-versa.

 

É um absurdo quem pula o cardio e o aeróbico e faz só musculação. Ou toma bomba, esteroides, anabolizantes. Isso é fazer academia com GameShark, trapacear, usar cheats no treino.

 

Eu tomo só café e suplementos.

 


 

A ironia de um cutting de camiseta bulking

Tenho vontade, mesmo sendo claramente cutting, de comprar uma camiseta de bulking que já vi uns gordos usando — talvez para justificar sua pança. Eu usaria como ironia, igual ao cara de Nascido para Matar, que usa o símbolo da paz no capacete junto com o “Born to Kill”: a dualidade humana.


 


 

O café, Nietzsche e os limites

Aliás, sobre o café, Leandro Twin falou da importância termogênica. O próprio café é um termogênico. Alertou que a quantidade recomendada é 420mg — mas isso depende da pessoa, da tolerância.

 

Eu, por exemplo, não sinto reação alguma do corpo ao tomar termogênico ou qualquer suplemento. Meu corpo está tão acostumado a químicas fortes que, como diz Nietzsche, “o que não me mata, me fortalece.” Mesmo quando tomo café, fico mais alerta, o sono some temporariamente, mas sou capaz de bocejar. Sou tolerante: o café não afeta muito meu sono, nem meu estômago, nem meu apetite.

 

Desde criança tomo café preto como se fosse leite. Eu, que não bebo leite. Ainda assim, tento ficar nos limites dos 420mg. Mas Leandro contou casos de gente que foi parar no pronto-socorro por causa do café — efeito timer de 10 minutos.

 

Eu não abuso, mas também não economizo. Em academia e em tudo na vida, sigo a máxima primordial:

 

“Conhece-te a ti mesmo.”

 

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 19/04/2025
Alterado em 19/04/2025
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