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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos


Mesmo não sendo nada demais, eu sou demais.

 



O Amor nos Olhos de Anna Karina

Linda cena de Viver sa vie, de Godard, em que a bela atriz e modelo Suíça, Anna Karina, com seu cabelo channel e inconfundível, fita a câmera e começa a tocar Ma môme, de Jean Ferrat, cuja letra diz:

 

Ma môme, elle joue pas les starlettes

(Minha garota, ela não age como uma estrela)

Elle met pas des lunettes de soleil

(Ela não usa óculos escuros)

Elle pose pas pour les magazines, elle travaille en usine à Créteil

(Ela não posa para revistas, trabalha numa fábrica em Créteil)

 

Dans une banlieue surpeuplée, on habite un meublé, elle et moi

(Num subúrbio superlotado, moramos em um apartamento mobiliado, ela e eu)

La fenêtre n’a qu’un carreau qui donne sur l’entrepôt et les toits

(A janela tem apenas uma vidraça que dá para o armazém e os telhados)

 

Quem quiser ver a icônica cena, ela está disponível no YouTube:

https://youtu.be/0DLKRV8isl8?si=DGULGu4Jd8PpKFdf

 


 

Charme no Cotidiano Operário

A letra fala sobre o amor nas classes operárias — pouco glamorizado — mas que se extrai no pequeno charme do dia a dia. Não do amor que aparece no Instagram ou nas novelas estreladas do cinema, mas o da vida real, da plebe, de uma mulher que não é estrela de cinema, mas tem seu charme.

 

Essa ideia vai na contramão do que Balzac, com sua escrita elitista, dizia: que o sexo nas camadas baixas era uma orgia de plebeu.

 

Mas a cena e a música francesa mostram que é possível o amor — claro, como acontece em muitos casos — na periferia ou até na favela. Mesmo que não seja nada demais, é demais.

 


 

Nada Demais, Mas Demais

E é assim que sou: mesmo não sendo nada demais, eu sou demais.

Quer dizer, nem necessariamente bonito, nem com um corpo atlético, nem rico — talvez com um pouco de gosto para conteúdo cultural, uma capacidade singular de avaliação do que tem qualidade, criatividade, educação, polidez e força de vontade.

 

Alguém que lê e alguém que escreve. Não um intelectual, nem um escritor.

Sou poeta comezinho, de passatempo, mas sei reconhecer uma boa poesia.

Sou um cronista mediano, mas sei analisar a verve artística de um Rubem Braga ou Rubem Alves (ou Rubens Barrichello, pra completar a tríade dos Rubens — mas ele ficou em terceiro porque está sempre atrasado na corrida). Ou de uma Clarice, no gênero.

 


 

O Lugar Onde Brilho

Agora, modestamente, no que eu realmente faço bem e me destaco são nos artigos culturais e resenhas de filmes. Aí, eu brilho de fato.

Acho que encontrei um estilo próprio — entre erudição e equilíbrio — entre ser compreensível e uma linguagem didática acessível e antiacadêmica.

Unindo assuntos que podem parecer distintos de modo original e único, que realmente não há muitos paralelos. É onde faço com facilidade e faço bem.

 

E as resenhas — pela minha cultura cinéfila e paixão pela forma de expressão e arte que me levou a todas as outras: o cinema.

Por isso tenho a película tatuada no braço em forma de bracelete.

Na verdade, é o conteúdo que mais me dá orgulho de saber e mais me dá prazer em falar e consumir.

É o que possibilita justamente o enriquecimento dos meus artigos culturais e escritos — como essa crônica que abro com um clássico da Nouvelle Vague, de Godard.

 


 

O Abismo Entre o Brilho e o Banal

Pra mim, soa totalmente incompreensível como alguém pode preterir o singular para conviver com o ordinário e banal.

Como o caso daquela escritora fã de Kafka, Clarice e Pessoa — ou da pessoa que amo, que quase parecem a mesma pessoa, como O Homem Duplicado, de Saramago.

 

Mas eu não me ressinto com a rejeição.

Eu a externalizo em força interna para me superar.

E o abismo entre mim e o ordinário e banal dos seus pretendentes fica ainda mais abissal.

E assim opera minha vingança invisível — que não machuca ninguém, voltada para si, e que é criadora, não supressora.

 

Ela me leva, a cada dia, a superar-me.

E isso vale para qualquer mulher que me pretere em detrimento do banal, do mau gosto, do descamisado, do opaco, do sem brilho.

 

E essa é a diferença entre tudo que eles são — e tudo o que eu sou e represento.

A não ser que quem elas amem seja eu mesmo, uma versão inalcançável de mim mesmo, idealizada.

O Dave Le Dave, talvez.

Mas o David está disponível — em carne e osso.

 


 

Afirmo em Voz Alta

E assim, mesmo não sendo nada demais,

eu sou demais.

 

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 19/04/2025
Alterado em 19/04/2025
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