Eu sou coerente entre prática e discurso. Em primeiro lugar vem a minha produção; depois, penso em comentar. Quando comento, faço uma distinção: separo um tempo do meu concorrido tempo para deixar algo que contribua ao texto do autor — e, ao comentar, eu também produzo.
Porém, a retribuição, a gratidão e a cortesia fazem com que seja educado e polido ser gentil com quem separou um tempo da própria vida para me comentar. Estou devendo comentários e visitas a alguns amigos recantistas, e neste feriado de Carnaval e Páscoa, vou ver se separo um dia exclusivamente para o Recanto — para escrever e comentar os amigos diletos.
Ainda assim, mesmo com a minha rotina exigente — entre treino, estudos, leituras, escritas e trabalho útil — comento pouquíssimas pessoas.
Uma dessas pessoas foi alguém que, por ilusão, confundi com um pseudônimo daquela que julguei amar. Por conta dessa ilusão, dediquei meu tempo a comentá-la. De fato, as semelhanças entre o que ela escreve e minha vida pessoal são enormes — até a aparência, a capacidade intelectual, o nome da cidade e o nome próprio. Mas… parecem apenas coincidências.
O que mais me chamou atenção foi que, embora eu tenha separado tempo para comentá-la — com comentários que de fato agregavam ao texto — ela sequer se deu ao trabalho de retribuir. Enquanto isso, interagia com autores modestos e banais.
Fui eu quem sugeriu indicações de livros, como De Profundis, de Oscar Wilde, e citei Carta ao Pai, de Kafka. Mencionei Dostoievski, músicas como as de Little Richard e Elvis, com embasamento. Indiquei contos da minha curadoria, que tenho na minha página, de autores que ela dizia gostar — Clarice e Kafka —, convidando-a a me visitar.
E tudo o que recebi foi silêncio.
Interpretei esse desinteresse em detrimento a autores banais como um gesto claro de que se tratava de um perfil fake — e, como eu era alguém distinto, ela não interagia. Enquanto isso, interagia com qualquer outro.
Mas fui mais fundo. Pesquisei, motivado pela curiosidade, e acabei achando o nome completo e o número do WhatsApp dela. Sem querer, fiz uma ligação (recusada em menos de dois segundos), mas isso bastou para ela me bloquear.
A sorte é que, depois que evidenciei que ela não era quem eu procurava, meu desinteresse caiu a zero. E só volto a citá-la agora, neste texto. Uma vez que ela não é quem pensei, meu desinteresse por ela é igual ao que sinto por todas que não são ela: zero.
Como ela não fez questão de valorizar meus comentários distintos — e ainda me bloqueou no WhatsApp, mesmo sem eu ter feito nada — entendi que não sou bem-vindo. Por isso, apaguei todos os meus comentários da sua página. E agora, restam apenas os comentários banais.
Se ela não é quem pensei, e o amor dela é por outra pessoa, minha vingança silenciosa — que vale também para aquela que eu julguei amar — é que ambas, se de fato se interessaram por mim dissimuladamente, mesmo no silêncio, acompanham-me avidamente.
E esse abismo entre quem elas se relacionam ou amam e quem eu sou é evidente. Basta comparar: minha produção intelectual, meu conteúdo, minha elegância, educação, finesse espiritual — até minha beleza — com os comentários banais que hoje interagem na página dela.
Enquanto meus comentários enalteciam e até incentivavam a pessoa — pois minha presença tudo ilumina —, agora, a falta dos meus comentários (como já percebi em outras usuárias) parece desmotivar. A pessoa começa a se apagar, a definhar, a desvanecer lentamente… até que deixa de escrever. Ou sente falta de escrever.
Tudo isso é sintoma de que minha ausência e minha presença causam — e causam muito.
Para embasar tudo que digo, abaixo deixo um print dos meus últimos comentários e dos que apaguei, para que vocês comparem.
Mas essa confusão toda mostra que meu amor vai muito além do Recanto das Letras. Muito além da aparência. É coisa de alma gêmea, de destino.
Mas, uma vez que a outra parte não quer se juntar a mim, terei que buscar outra — cujo encaixe talvez nem seja tão preciso com meu corpo, mas que esteja disposta a ser inteira comigo.