Assim que vendi minha empresa, peguei gosto por tomar um whiskynho — todo dia, toda hora. Comprei até um cantil pra levar whisky onde quer que eu fosse, e bebericava nos lugares com a naturalidade de quem carrega um amuleto.
Eu estava sempre alegre, um Falstaff contemporâneo. Naquela época, minha vida era assistir até três filmes por dia, principalmente durante o Festival de Cinema Internacional de São Paulo. Combinação explosiva: tempo livre e dinheiro. Só poderia acarretar em frugalidade e vício. Mas ainda não cheirava cocaína.
Como eu ficava o dia inteiro fora de casa, almoçava nos belos restaurantes da Avenida Paulista ou em travessas como a Pamplona e a Alameda Santos. À tarde, tomava café nos Starbucks. Apesar de beber o tempo todo, o álcool não afetava meu apetite como a cocaína viria a fazer mais tarde.
Hoje, minha única relação com o whisky é o logo da Johnnie Walker: Keep Walking. Porque estou sempre em movimento, sempre adiante.
Assim como Nietzsche, que não confiava em pensamentos de gabinete, nem em filosofia de ar-condicionado, academia e escritórios, e que tinha suas melhores ideias enquanto caminhava ou escalava montanhas, eu sigo esse mesmo preceito. Todas as minhas ideias atuais nascem enquanto me exercito ou ando na esteira.
Como diz Nietzsche, o pensamento é uma necessidade fisiológica. Não temos controle sobre eles. Eles vêm quando querem, conforme nosso corpo é afetado pelo ambiente externo. Nesse contexto, o livre-arbítrio é tão livre quanto sentir fome ou vontade de ir ao banheiro — independe da nossa vontade consciente.
A consciência, no máximo, serve pra gente pensar em como satisfazer os desejos do corpo.
Então, a minha ética do whisky para no slogan: Keep Walking. Sempre em movimento.
E quem anda, sempre caminha. Sempre segue adiante — por mais curtos que sejam os passos, você está se locomovendo.