A disciplina que salvou meu corpo e minha mente
O fato de eu não comer mais chocolates, sorvetes, frituras, processados, pizza, fast foods, calorias ruins etc. — e substituir tudo isso pelo oposto: proteínas ricas, saladas e carboidratos integrais — não é só uma questão estética ou mesmo de saúde, mas também psicológica e ética.
Uma alimentação saudável limpa a mente, aumenta o estado energético por mais tempo, e isso só pode refletir no dia a dia, na disposição e no pensamento. Ela controla o sintoma do impulso, da compulsão, dos prazeres efêmeros que, no cérebro de um ex-adicto, eram tão constantes.
Aprender a dizer “não”
É aprender a passar vontade em prol de algo maior.
Nos últimos dias, fui à copa do trabalho comer meu pão integral com recheio igualmente saudável, acompanhado de um café preto. E lá estava o cheiro de pão e esfiha recém-saídos do forno. Uma vendedora apareceu e vendeu para os colegas de trabalho, que estavam comendo aquilo e ainda me ofereceram.
Eu prontamente neguei, com a consciência de que aquilo não me pertence mais.
E ontem, uma garota comprou um cachorro-quente de uma hamburgueria — um cachorro-quente de São Paulo, que fique claro, com purê — uma das besteiras que eu mais gosto. Minha boca salivou. Mas comi minha maçã, fiquei na copa conversando e vendo elas comerem com aquele cheiro ao redor… e logo o impulso passou. E se tenho esse critério com os alimentos, é óbvio que não jogaria no lixo o meu projeto de definição corporal — focado no abdômen — por prazeres momentâneos como comida, álcool ou ainda entorpecentes, lícitos ou ilícitos.
A diferença da minha vida pregressa para agora é que eu não vivo mais na hipocrisia de pensar uma coisa, falar uma coisa e praticar outra.
Agora, minha filosofia do corpo, da mente, das energias, do amor ao presente, à Terra, à Gaia, à ciência — eu vivo intensamente, sem hipocrisia. Até mesmo de maneira mais escatológica do que pensaram os teóricos como Nietzsche e Deleuze.
Este último, aliás, que nunca saía de seu escritório e, pelo estado de seu corpo, não era muito afeito a exercícios. Talvez por isso, no final, tenha se jogado de um prédio e sucumbido à doença.
Eu não vivo mais à margem. Vivo intensamente, experimentando, extraindo aprendizado com as experiências negativas. Aprendendo o que me faz bem e o que me faz mal. Para minha individualidade, para minha singularidade. E aprendendo, também, a rechaçar aquilo que suga minha energia, aquilo que me faz mal.
Vivo com a cabeça sempre no presente.
Eu gosto de dizer que só estudo com base nos processos do aprendizado. Talvez porque eu tenha atenção concentrada e hiperfoco nas tarefas que gosto ou nas minhas obsessões atuais. E não consigo fazer de outra maneira a não ser me entregar à atividade cem por cento.
O que é ruim nisso? É que não consigo me dedicar a assuntos que não despertam meu interesse. Como estudar pra passar num concurso ou vestibular. Eu só consigo me dedicar àquilo que tenho genuíno interesse — que, por vezes, costumam ser coisas “inúteis”. Isto é: coisas que não trazem benefício à sociedade, nem financeiro, nem simbólico.
Apenas o prazer do processo, da atividade.
E talvez essa ética de ser fiel a si mesmo — essa coisa de se querer exatamente aquilo que se é — ainda vá nos levar além.
E isso, contraditoriamente, pode significar conseguir amor, sucesso, dinheiro, capital simbólico e cultural. Tudo isso moldado num corpo saudável e coerente com sua singularidade.
É como Deus, que escreve certo por linhas tortas: tudo converge ao bem no final.