Engraçado como, ao estudar Administração, aprendemos a elaborar um plano de negócios para arrecadar recursos ou organizar as etapas de um empreendimento. Mas o cuidado meticuloso que temos ao criar uma empresa não aplicamos a nós mesmos.
Quando, nos idos de 2013, fundei a “Yes Certificações”, foram quase quatro meses sem operar — apenas escrevendo o plano de negócios, com reuniões diárias, até começarmos a funcionar. No plano, normalmente constam o planejamento estratégico da empresa, sua visão de médio e longo prazo, valores, slogan, serviços, visão de mundo.
E é curioso: existem inúmeros cursos ensinando a elaborar um plano de negócios para empreendedores — mas quase nenhum voltado para a vida pessoal. É isso que quero fazer aqui: esboçar um plano de negócios para a minha própria vida.
Vivo a ética da inutilidade: valorizar as coisas que não fazem parte de uma cadeia de utilidade, mas que valem por si mesmas.
O conhecimento que busco não é aquele útil, destinado a passar no vestibular, exercer um ofício ou conquistar um cargo público. O saber que me move é aquele que se justifica no próprio processo de aprender, no prazer do presente, no gozo de apreender sem outro fim que não ele mesmo.
Prego o valor da gentileza, principalmente com os mais humildes. Mas, com os pedantes e soberbos, exerço a minha arrogância.
A gratidão é tão benéfica quanto a ingratidão é repulsiva. É um dos sentimentos que mais me causam ojeriza. Valorizo a educação, a polidez, o cavalheirismo. Mas, acima de tudo, sigo a máxima de “ser fiel a ti mesmo”.
Cuido do corpo com rotina e hábitos saudáveis, porque eles produzem sentimentos saudáveis. Sigo a ética de que a potencialidade, sozinha, não é nada. Sem se atualizar, ela se esvai. A dýnamis precisa se transformar em enérgeia, como nos ensina a filosofia aristotélica.
Ser fiel a si mesmo é saber o seu lugar natural, aquele que mais combina com sua individualidade singular. É procurar bons encontros e relações entre o seu corpo interno e o mundo externo. Relações que expandam sua energia vital, sua vontade, sua potência de agir.
Um cérebro erudito não serve de muito se estiver dentro de um corpo doente. Da mesma forma, um corpo vigoroso também não se sustenta com uma mente fraca ou entorpecida. A forma precisa de conteúdo — e o conteúdo não é nada sem uma forma.
Vivemos a ética do presente. Do amor fati: dizer sim ao destino, ao acaso, à eventualidade, ao fado, à aleatoriedade, à fortuna. Transformamos os afetos negativos que nos atingem em energia, em força de vontade.
Nossa virtù, que é o talento, serve para lidar com a fortuna da melhor forma possível. Mas evitamos pensar demais no futuro, para não gerar ansiedade — porque o futuro se constrói no agora, nas pequenas decisões do cotidiano.
Essas escolhas, como num efeito borboleta, geram consequências imprevisíveis e grandiosas. E, ao mesmo tempo, é a constância, a fidelidade a si mesmo e os hábitos que nos permitem ser felizes no presente. Sem ansiedade, mas com saúde — e com o esforço do cuidado com o corpo.