Engraçado esse sentimento de que, justamente quando eu menos preciso de alguém para ser feliz, é quando mais desejo estar com a pessoa que amo. Sempre amei. E sempre vou amar.
Existe um paradoxo aí, algo entre a autonomia conquistada e a entrega voluntária. Não é dependência, é escolha. E talvez o mais puro amor seja esse: querer estar com alguém, mesmo podendo estar sozinho.
Acho que o resumo de todo o meu esforço físico e intelectual — essa busca incansável por dar à minha existência a melhor forma possível, tanto no corpo quanto no pensamento — provém da rejeição, ou melhor, do medo de ser rejeitado.
Mas, ao invés de transformar a dor da rejeição em ressentimento ou vingança contra o outro, eu extraio dela a força de vontade para me melhorar constantemente. Para ser exemplo. Para não ser mais um pária, e sim um prócer.
No fim das contas, todo o meu esforço para ser elegante, educado, bonito — mesmo tendo nascido com uma aparência acanhada — é uma forma de afirmação. Não disponho daquela beleza grega clássica. Aquela que chama atenção apenas por existir. A minha, eu construí.
Precisei de muito esforço físico e intelectual para alcançar algo que, mesmo sendo subjetivo, salta aos olhos: a beleza do meu gosto pelos detalhes, aquilo que a sociedade rotulou como “elegância”; a beleza do pensamento, adquirida com estudo, com a forma como transformo informação em conhecimento e esse conhecimento em algo original; e, por fim, o cuidado com o corpo, com a saúde, com a rotina presente e os bons hábitos que pratico.
Essas três belezas — do corpo, do pensamento e do bom gosto — são a sabedoria que construí. Minha forma de viver.
Com tudo isso, o que desejo não é mais ser rejeitado. Quero poder escolher. Não fazer caridade.
E, curiosamente, mesmo tendo me envolvido com poucas mulheres de aparência mais comezinha e acanhada, foram contraditoriamente as que eu paguei. Já as que vieram até mim por vontade própria sempre carregavam alguma distinção — fosse na inteligência, no físico, na beleza do rosto ou na alma.
Mas a pessoa que reúne todos esses fatores que me atraem — e que, ao mesmo tempo, atrai os outros naturalmente — responde por um nome ítalo-brasileiro. Talvez lusitano. Talvez do um rincão do interior de São Paulo. É alguém que chamo, com carinho, de Double N.
Ela é minha única e grande amada.
E todo o meu esforço, no fundo, é para que eu nunca mais conheça a rejeição de quem tanto amo.