O que é um intelectual? Eu acho que intelectual é aquele que vive das atividades intelectivas, se dedica a elas e consegue monetizar essa atividade.
Como Deleuze, que dificilmente se via envolvido em atividades mundanas. Ou Pierre Bourdieu, que, se estivesse no metrô, não parava de pensar – e nem sequer para falar de futebol do Paris Saint-Germain. Ele, como relata Clóvis, era um provinciano ressentido por não ter nascido em Paris. Tinha sotaque e sempre se ressentia dos parisienses que o caçoavam. Por isso, fazia questão de rebuscar sua linguagem ao máximo, para mostrar que eles podiam zombar, mas que ele era superior a todos – tão superior que sequer conseguiam entendê-lo. Seus escritos, especialmente A Distinção, são muito rebuscados, difíceis de ler, acessíveis apenas a quem domina sua linguagem técnica.
Ou o caso de Foucault, que vivia cercado pela poeira e empilhado de livros, um bibliómano – uma raposa, seu apelido. Terminava até três livros por dia. Seus textos, como As Palavras e as Coisas, são difíceis; é preciso tomar cuidado para não se perder na beleza de sua linguagem lírica, que ocupa o primeiro plano, enquanto o pensamento sofisticado, erudito e hermético se esconde por trás das palavras.
E ainda Paulo Leminski, que via seu trabalho como o de um administrador de papéis – pilhas de livros e documentos que ele se propunha a transformar em obra de arte.
Já eu, penso, produzo conteúdo intelectual, sem dúvida. Boa parte do meu tempo é dedicada a atividades intelectivas e ao aprendizado. Mas eu me permito atividades mundanas: assistir futebol, fazer sexo (raramente, ultimamente), cuidar do corpo, adquirir produtos e belas roupas, jogar videogame e, principalmente, rir e fazer os outros rirem.
E mais prazeroso do que extrair uma exclamação de admiração do meu interlocutor por algo inteligente que falei é arrancar um riso orgástico – que parece sexual –, através do riso ou da gargalhada espontânea.
De certa forma, o humor é uma expressão de inteligência. Foi a primeira forma que encontrei para me expressar desde o colégio. E os textos que me dão maior deleite são os cômicos – mesmo os sérios, tento revesti-los de humor.
Minha fuga é igual à de Machado de Assis: pelo riso, pela sátira e pela ironia. Não pelo ressentimento disfarçado e pela fuga da realidade através do pessimismo schopenhaueriano e seu mundo da representação.
Eu, por outro lado, prefiro transformar minha vontade de potência, meus instintos animalescos, em prazer, humor e comicidade. Meus adversários recalcados? Prefiro respondê-los com ironia afiada, e não com seriedade. O ridículo é a melhor maneira de lidar com um adversário banal – através da ridicularização.