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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

Almas gêmeas unidas pelo Recanto das Letras

 

Não, não vou falar sobre o mito que Aristófanes apresenta em O Banquete, onde o amor seria a busca pela nossa outra metade, separada como punição divina. Hoje, o assunto são os amores líquidos, aqueles que nascem em um site literário como o Recanto das Letras e se fortalecem através do “69 literário” — o famoso me lê que eu te leio de volta.

 

Nessa brincadeira, algumas pessoas acabam até dizendo que amam seus parceiros virtuais. Falei sobre isso no meu podcast oficial não autorizado do Recanto, o Fodacast. Se quiser ouvir (e é altamente recomendado que você queira), basta acessar o link abaixo:

 

FODACAST: O Amor Líquido Chegou ao Recanto?

 

https://www.recantodasletras.com.br/audios/mensagens/116246

 

Mas, de qualquer forma, segue abaixo a transcrição do áudio. Ainda assim, faça os dois: leia e ouça. Afinal, gastei meu valioso tempo editando isso no GarageBand para entregar um material minimamente agradável ao meu público. Que tal retribuir acessando e escutando o episódio? De quebra, você sai mais bem informado.

 

O Amor Líquido Chegou ao Recanto das Letras?

 

Olá, recantistas!

 

Não sei se esse tema caberia melhor no PodLetras ou no Fodacast, mas, pelo nível baixo de quem eu vou relatar aqui, acho que é mais adequado para o podcast mais chulo. Embora eu vá trazer reflexões profundas e eruditas para quem quiser saber mais, os exemplos que eu vou dar envolvem gente pequena. E, convenhamos, às vezes só um palavrão descreve bem a situação.

 

Hoje o tema é: o amor líquido chegou até o Recanto das Letras?

 

Bauman e a Era da Liquidez

Zygmunt Bauman, um dos grandes pensadores pós-modernos, definiu o conceito de “mundo líquido”. Um mundo onde as relações são frágeis, onde ninguém mais almeja grandes ideais. A metáfora da liquidez vem do fato de que tudo escorre pelos dedos, nada tem forma, nada se sustenta.

 

Agora, cruza isso com a ideia da Sociedade do Espetáculo, do Guy Debord. Vivemos num tempo em que as pessoas tentam idealizar suas próprias imagens, fingindo uma felicidade que não vivem. Isso acontece nas redes sociais, nos aplicativos de namoro e—vejam só—até mesmo aqui, no Recanto das Letras.

 

Em teoria, essa deveria ser uma rede social de literatura, certo? Mas as pessoas estão mais preocupadas em fazer amizades vazias, conseguir parceiros e praticar proselitismo bobo. Criar mesmo? Poucos criam. Pior: esses poucos ainda são criticados ou até banidos.

 

A Imagem Substituiu a Palavra

Nessa sociedade, a imagem tomou o lugar da escrita. Uma única foto de um autor sem camisa ou de uma usuária fake já vira o suficiente para formar um “casal moderno”. Só que esse “casal” é a personificação do vazio da nossa era.

 

E nada mais comum do que duas pessoas que representam o nada se relacionarem entre si. A fake—que antes já foi Analuz e criou vários pseudônimos para enganar tiozões incautos—agora se junta ao Sukita Sem Camisa, o perfeito.

 

Amor ou Catálogo de Restaurante?

Isso é o amor líquido: escolher um parceiro pela foto, não pelo conteúdo. Nos sites e aplicativos de hoje, as pessoas são dispostas como pratos de um cardápio de restaurante. Tem foto, tem descrição e, pronto, deu “match”.

 

Não tem envolvimento maior. Só estética e aparência. E isso esconde um vazio gigantesco.

 

Essa necessidade de estar sempre ocupado, sempre buscando um parceiro para preencher a própria vida, só mostra uma coisa: a incapacidade de ficar sozinho. A solidão incomoda tanto que a pessoa precisa encontrar alguém para dividir a miséria da própria existência.

 

Apequenando a Vida

Na sociedade líquida, o nível de felicidade se mede por curtidas em fotos e pela quantidade de “amigos” virtuais—gente que nunca se viu na vida e que não acrescenta nada.

 

Tudo virou pequeno. E esses seres, tudo apequenam.

 

O Verdadeiro Relacionamento

Mas um relacionamento genuíno é outra coisa. Não é só imagem. Não é só exibição.

 

Relacionamento de verdade é troca. É troca de experiências, de afetos. É encontrar alguém que te completa, que te acrescenta.

 

E é isso que falta hoje.

 

Aliás, como as mulheres são pouco criteriosas, né? Hoje, de novo, chegou no posto uma morena linda, de olhos claros, e eu atendi ela com mais simpatia do que o normal. E aí, chegou o namorado dela, totalmente fora de contexto, parecia uma poluição na paisagem. Não era nem bonito, nem forte, e, talvez, nem espirituoso ou elegante—nada que se destacasse à primeira vista. Nem vou falar da inteligência, porque aí já era…

 

Mas, olha, se fosse um cara como meu colega de trabalho, com aquela aparência de argentino, corpo de quem luta muay thai, simpático, sabe falar bem, atende as pessoas direitinho, mesmo não sendo um grande intelectual, mas que ainda arrisca uns versos que me lembram Augusto dos Anjos, tudo bem. Agora, o cara ao lado dela não era nada disso, talvez nem um bom pai fosse.

 

Acho que, de novo, é sobre essa incapacidade de muitas mulheres lidarem com a solidão, de ficarem sozinhas, como se fosse um grande drama, sabe? Acho que quem precisa da presença de alguém o tempo todo é porque não consegue se suportar. Não tem ninguém com quem compartilhar sua miséria. E aí, se encantam por caras que têm só uma foto bonita num aplicativo de mensagem, e é só isso. Fora o mal gosto, a falta de jeito pra escrever, achar que o ápice da moda é usar camisa de time de futebol de várzea, sem estilo, sem gosto algum.

 

E essa lacuna sentimental é o que alimenta esses amores líquidos, faz as garotas se encantarem até por um poeta descamisado, de farol de quinta categoria, e o romance com uma garota fake, com português de quinta série. E assim, até quem arrisca uns versinhos no recanto acaba encontrando um par de chinelo velho pra chamar de seu. E esses são os amores líquidos da atualidade.

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 25/03/2025
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