Eu dei a minha visão pessoal sobre Deus nesses dois textos:
A Revolução de Deus é Invisível e
PROFESSOR DE DEUS NO RECANTO DAS LETRAS!
Cliquem no link do texto para ler.
No livro a Cidades Antiga, Fustel de Coulanges, ou em As Origens da Religião, de David Hume, os autores fazem uma genealogia que remontam a história das crenças desde os primórdios. Os deuses dos primeiros povos eram os seus mortos, e se acendiam altares dentro de casa, com um fogo sagrado chamado “lar”, de onde surgiu a etimologia dessa palavra. As cidades, os direitos privados e a noção de propriedades foram todas construídas com base nessa religião primitiva dos mortos.
Acreditava-se que os mortos continuavam a ter uma vida sob a terra após a morte, por isso realizavam rituais fúnebres em sua homenagem: queimavam carnes no fogo sagrado do altar chamado “lar”, e enterravam os pertences valiosos dos mortos, acreditando que os mortos necessitariam deles na morte. Faziam isso com a comida também: embebiam a terra com vinho para que os mortos não sentissem sede.
Na mitologia grega, ainda encontramos reverberações dessa prática. Por exemplo, Sísifo bolou uma estratagema com sua esposa para que ela NÃO realizasse os rituais fúnebres. Quando chegou a Hades, ele acusou a esposa de negligência e afirmou que poderia voltar à vida para lembrá-la dos rituais. Porém, uma vez vivo, ele não retornou mais. Isso é um exemplo claro de hýbris, o pecado para os gregos, pois Sísifo violou a natureza e a ordem do cosmos, que determinava que os mortos deveriam morrer. Por isso, foi condenado a rolar uma pedra de um penhasco, uma pedra que sempre retornava à mesma posição. Essa história se tornou até um ensaio no mito de Camus, do escritor argelino Albert Camus.
Segundo David Hume, os deuses eram formas da natureza até se tornarem figuras antropomorfizadas, politeístas, e, eventualmente, evoluíram para a ideia do único Deus, pai de todos, no cristianismo monoteísta. Essa evolução é notável. O grande salto é quando Deus se torna humano com a vida de Jesus e a eliminação da figura histórica do sacerdote que intermediava a relação entre o humano e o divino, que era, primitivamente, o patriarca da família responsável pelos rituais fúnebres e por manter o altar sagrado do lar com acesso permanente. No entanto, com o roubo da Igreja por Nabucodonosor, agora a fé não precisa mais da mediação do sacerdote; ela pode ser exercida internamente, dentro de nós, até mesmo dentro de casa, por intermédio da oração, assim como os judeus se viraram até Artaxerxes, imperador Persa, devolver o templo aos judeus, continuando a política de tolerância religiosa de Ciro na Mesopotâmia, Babilônia.
O que se observa é que a liturgia e a necessidade de uma crença em um poder superior são uma necessidade humana. Alguns ateus até transformam suas ideologias em Deus, como alguns comunistas, que querem implantar o paraíso na Terra com igualdade, desconsiderando que os homens são diferentes por natureza. Para outros, Deus é a ciência. Alguns são tão dogmáticos que fazem do ateísmo uma religião.
Já para mim, Deus é a vida. É nossa energia, a essência humana, nossa vontade de potência, a vontade de criar, que é divina. É nosso instinto de procriar, de viver para o prazer. E a necessidade de agradecer, como uma forma de tentar agradar ao destino pelas coisas boas em nossa vida, de modo que essas energias não se voltem contra nós, é inerente à condição humana.
Por isso, eu não sou ateu. Acredito nesse meu “Deus da vida”, artístico, e oro para agradecer a Ele minha verve artística, minha inclinação à arte, ao prazer, e minha predisposição à vida. Amando Sua criação — a natureza e o próximo — dentro dessa liturgia de dobrar os meus joelhos, eu agradeço por essa força que nos conduz e produz tanta beleza. É por isso que eu oro religiosamente todas as noites antes de dormir, para evitar o requalque e o mau olhado das inimigas, e para pedir que Ele me dê saúde, porque talento Ele já me concedeu desde que nasci.