Esse cara ou essa pessoa que está ao seu lado, você já se questionou se ele está à sua altura ou se você poderia encontrar alguém melhor, de mais valor, alguém que combinem mais com a sua essência?
Algumas pessoas, algumas mulheres, por mais que nos esforcemos, jamais estaremos à altura delas. A mulher é como uma rosa, a essência de Deus, só que com cheiro. E a mulher que amo é dessa estirpe.
E a pergunta não deve ser se ela está à minha altura ou se poderia arrumar alguém melhor, mas sim: qual é a pessoa mais adequada para mim, para minha individualidade, para meu corpo, minha alma gêmea ou a parte que falta. Veja o exemplo de Ulisses, que teve o amor de uma deusa como Calypso, mas nunca se esqueceu do seu lugar de origem e das suas raízes, que eram Ítaca. Ele preteriu a deusa para ficar com Penélope e seu filho Telêmaco. Uma história que reverbera até hoje, que ganhou uma versão de James Joyce chamada Ulysses, que é o nome dele em grego. O “y” no lugar do “i” é uma referência ao “y” de Joyce. Um romance que consagrou a técnica do fluxo de consciência. Essas obras nos lembram o sentido de ética para os gregos, que é a vida boa: justamente, se adequar à ordem cósmica do universo, que, para eles, era perfeita e organizada por Zeus, que eles chamavam de Diké. E quando você fugia das suas origens, cometia o equivalente ao pecado, que era a hybris. Embora nossa ideia de ética hoje em dia tenha adquirido um conceito mais kantiano, a ideia de sabedoria continua sendo a ideia de uma vida que vale a pena ser vivida, uma vida de qualidade. Não a qualidade de vida que se reduz a uma fórmula que serve para todos, mas a vida de qualidade que é escolhida por cada um de nós, de acordo com nossa individualidade. Ao vivermos e existirmos, decidimos nosso destino e o mundo que queremos para nós e para os outros. Como diria Sartre, quando negamos essa liberdade e aceitamos papéis e essências impostas, como o de uma profissão ou de um estereótipo, negamos nossa individualidade e estamos em má-fé.
A vida boa, portanto, é agirmos livremente de acordo com nossa individualidade, e a pessoa que escolhemos ao nosso lado passa por essa decisão. Não se trata de ser a melhor, mas a mais adequada para nós, a parte que falta, a pessoa que mais combina e nos completa, nosso lugar natural. Como era para os gregos, essa é a pessoa perfeita para nós, ainda que não seja a melhor.
A melhor, portanto, não é a mais bonita, a mais gostosa, a mais rica, mas a que o nosso coração escolheu amar porque sabe que essa pessoa é o lugar que ela pertence, e eu sou o lugar adequado para ela, numa sintonia perfeita. Essa pessoa é a melhor para nós.