Para quem nunca ouviu minha voz, postei este áudio com a seguinte reflexão:
É possível se apaixonar por alguém sem nunca ter ouvido sua voz?
Se você tem curiosidade de ouvir minha voz, basta clicar no link texto. Link 🔗: https://www.recantodasletras.com.br/audios/discursos/116008
E aqui está também o link do meu outro áudio com o poema Quando Penso em Tudo Que Já Passei:
Disponível aqui: Link Poema Dave Le Dave
E VEM MAIS POR AI. FIQUEM DE OLHO NOS AUDIOS!
Roteiro: É possível se apaixonar por alguém sem nunca ter ouvido sua voz?
Para alguns de vocês, essa pode ser a primeira vez ouvindo a minha voz, mas já amam meus escritos. E a matéria que eu uso para escrever é a mesma que uso para falar. A fala é feita de linguagem, e a linguagem é a matéria-prima do pensamento. Minha voz é apenas o meio pelo qual a enuncio.
No filme Pierrot le Fou, de Godard, há uma passagem que diz: “Tenho uma máquina de ver chamada olhos, uma máquina de ouvir chamada orelhas e uma máquina de falar chamada boca, mas elas não têm coerência entre si.” Sou um homem incompleto. E um homem deve se sentir completo.
E acho que o que dá essa sensação de completude ao homem é o amor… O amor da parte que falta. E, quando não encontramos, preenchemos com uma lacuna — como a escrita.
Em uma entrevista, Godard comenta com Fritz Lang, o lendário diretor alemão de Nosferatu e outros clássicos, que Van Gogh é mais importante do que o marceneiro que fez seu cavalete. Ainda que o cavalete seja belo, o pintor é um artista, enquanto o marceneiro é um operário.
Balzac, no Manual do Dândi, divide os homens em três classes: os ocupados, os artistas e os que vivem uma vida elegante. O trabalho do artista é o ócio. O do elegante, o cultivo de si como obra de arte. O dos ocupados, o de trabalhar. Eu tenho em mim algo de artista e algo de elegante.
Para mim, a vida é um sonho. Leminski dizia que seus sonhos eram como filmes americanos: há dias dirigidos por Coppola, outros por Kubrick, outros por John Ford. E como passamos boa parte da vida dormindo, boa parte da vida foi filme americano.
A ética de lidar com os outros, o homem aprende nos faroestes de John Ford: uma discussão se resolve quebrando a mesa do bar e dando um soco na cara. Essas coisas que o cinema ensina.
Em Muito Além do Jardim, Peter Sellers interpreta um jardineiro inculto que é tomado por um erudito apenas por repetir frases que aprendeu vendo TV. Porque o cinema é sonho. Ou, como diria o lendário crítico André Bazin, o cinema serve para transformar o mundo real em um mundo mais harmônico com nossos sonhos.
E a escrita também é como o cinema.
Enfim… esse escrito falado fez você se apaixonar mais ou menos por mim? Ainda que talvez tenha sido lido, e não ouvido?
Beijos,
You know you love me.
Dave Le Dave