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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

Situações Cotidianas que Dão Vontade de Vomitar

Ah, a sabedoria popular cunhou a frase que às vezes é melhor ser surdo do que ouvir algumas coisas. Foi o que me sucedeu hoje no trabalho. Eu não sei se ouvi direito ou foi fruto da minha verve e imaginação artística que tudo quer transformar em matéria para um texto. Mas o meu compromisso é com a minha escrita e com a literatura, não com a realidade. Então, o que não foi, passa a ser.

 

E ainda bem que meus companheiros de trabalho são médicos e funcionários públicos. Embora saibam da existência da minha página, fogem das letras como o Bolsonaro de Alexandre de Moraes e de guardar dinheiro em banco, e dificilmente eles leem meus textos, que têm mais de 10 linhas.

 

A Moça Bonita e o Doutor

Na cozinha hoje, uma moça muito bonita, talvez a única de todo aquele posto que seja apetecível, enfermeira, estava conversando com um doutor, muito gente boa, por sinal, e perguntou que horas ele saia para pedir coxinha para eles, e completou com um “meu lindo”, assim, em vocativo. Mais do que um simples gesto gentil de pedir comida para um doutor, obviamente. Quando escutei isso já senti a bilis invadindo meu estômago subitamente.

Ora, ele é dono de capital financeiro e simbólico por ser doutor e inclusive diretor de um outro hospital. Mas digamos que carece de beleza, elegância e… letras e conteúdo, digamos assim. No jogo do mercado afetivo, se há atração, é que o capital financeiro e simbólico de uma enfermeira mãe solteira capturar um doutor solteiro, essa ambição falou mais alto. Às vezes, faz umedecer até o desejo sexual pelo status. Um tanto cômico a cena, e eu desejei não presenciar ou não estar presente. E como sou detalhista e observador, nada me passa despercebido, coisa de quem escreve. Notei que ela o procurou novamente na hora de ir embora, interessadinha. E ele estava não sei fazendo o quê com a porta fechada do seu escritório, talvez se masturbando pensando nela, sei lá…

 

A Beleza da Moça e a Confiança Pessoal

Mas ela é um amor de pessoa. Sim, alguém rico, doutor, é sedutor, mas ela merecia mais, eu acho. Sua beleza exótica e ela é bonita por dentro e por fora. Nós conversamos hoje, quando fui marcar uma consulta para ela. Ficamos só nós dois no escritório. Incrível como a minha confiança de estar bem e saber do meu porte físico e atração atual me faz agir com naturalidade e confiança com qualquer mulher. Conversamos como se fôssemos melhores amigos. Como o assunto descambou para a saúde da mente, ela disse que na faculdade, em uma aula de psicologia, um professor falou sobre as patologias e cada um da turma dela se reconhecia em uma delas. Aí, eu não pude deixar de relacionar (embora eu não goste de fazer isso para não parecer pedante) o livro Alienista, de Machado de Assis, que para Bacamarte, toda a cidade era patológica e ele se deu conta que, na verdade, o doente era ele. Com todo respeito ao doutor, que é muito, mas muito gente boa, um comentário desses só poderia ser feito com alguém como eu, e não por um médico.

 

O Encontro com a Guria Linda

E depois que ela foi embora, fui encher minha garrafa térmica. Quando voltei, tinha uma garota linda, linda de aparência sueca, alta, olhos verdes, incrível. A beleza feminina não me intimida, pelo contrário, ela me embriaga e eu me sinto mais solto, como se tivesse tomado umas três doses de tequila. A minha confiança atual, do meu porte físico, estado de espírito e aparência, aumenta minha confiança. Eu já cheguei na porta e já disse: “Oi, que bom que você está aqui esperando por mim, no que posso te ajudar?” Ela disse que estava tentando ler a letra do médico. Eu, que sou versado em criptoanálise medicinal, só bati o olho e declarei: “Ultrassom de rim e vias urinárias.” Aí perguntei: “Você bebe muito refrigerante?” Ela respondeu que não, pior que não, é exame de rotina. Falei: “Nossa, que ser evoluído. Você pratica yoga também?” Ela riu e disse que não chegava a tanto. Mas aí, eu completei dizendo que, na próxima encarnação, ela já estaria com o ciclo dela na terra completado. Então, ela disse que ainda bem, imagina voltar como um animal nojento. E eu redargui: “Mas alguns são fofos, como o coelho, a raposa, deve ser legal ser um mico-leão-dourado.” Porém, completei: “E tem alguns seres humanos tão ruins que era melhor para eles terem nascido como animais.” Ela concordou se sorrindo toda. Achei uma vaga para ela em 1 de abril, mas disse que não era mentira, não. Ela riu novamente, mas disse que não poderia. Então, eu sugeri o dia dois, e perguntei se ela estava com medo da vaga do dia 1 ser pegadinha. Ela riu com mais intensidade, aquela intensidade que antecede o orgasmo. Ela repetiu: “Ai, ai, pegadinha foi boa.” Quando ela estava chegando no orgasmo, seu namorado escutou os gemidos dela de felicidade e prazer e interrompeu o jogo, de onde estava esperando o médico e cortou meu barato. Mas tudo bem, naquela noite, ele pode até ter feito ela gozar, mas quem tirou o verdadeiro orgasmo líquido do prazer do riso da espiritualidade fui eu, que tirei dela da banalidade do óbvio, da rotina, algo que toda mulher necessita. E quem sabe, ao dormir ou no momento de tédio, não se lembre desse humilde escriba e atendente público e deseje passar novamente na sala 25, mas dessa vez sem o incômodo do namorado.

 

Reflexão do Amigo e a Verdade

Meu amigo, que trabalha comigo, disse algo pertinente: que não inveja esses caras bombados de academia, por exemplo (não que o namorado dela fosse o caso), porque elas traem eles para ficar com cara igual a gente, que faz supino na academia com halteres de boa mesmo, que é nada de mais, mas somos espirituosos e temos uma luz que vem de dentro que irradia brilho. E por isso também que não me troco nem por médico, nem por doutor, nem por ninguém. Elas podem me evitar, mas quando querem ler algo inteligente, dar risadas ou sentir sensações intensas, são a mim que elas procuram, e não seus namorados e maridos.

 

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 14/03/2025
Alterado em 14/03/2025
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