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DAVE LE DAVE
SIM, ELE MESMO
Textos

A REDE SOCIAL DESNUDA SUA VIDA INTEIRA

Nesse acordo tácito que estabeleci com a pessoa que amo—de estarmos juntos à distância, de nos procurarmos, de sermos eternamente um do outro sem estarmos fisicamente presentes—já são anos acompanhando sua vida pelos rastros que ela deixa nas redes sociais. E, de certa forma, é recíproco, porque ela faz o mesmo. Mas há uma diferença essencial: o nível de exposição que eu me permito é muito maior.

 

No entanto, há uma contradição enorme nisso tudo. Quem se expõe, na verdade, é Dave Le Dave, o escritor histriônico e megaeloquente, que brilha para que David possa gozar do anonimato e de seu low profile, longe dos holofotes. O estilo exibicionista, provocador e polêmico de Dave Le Dave contrasta com a figura doce e pacata de David, um homem de temperamento calmo, cuja natureza evita conflitos e exposição desnecessária. Mas David não é um ser passivo—há nele uma altivez, um orgulho silencioso, e um sangue latino-italiano que ferve diante da covardia contra os mais pobres e da ignorância. Educado, mas com um pavio que não é dos mais longos.

 

A Ficção de Dave Le Dave e a Essência de David

O que Dave Le Dave escreve é ficção e literatura inspiradas na vida de David. Dizem que quem fala muito faz pouco na prática. Eu diria que hoje eu escrevo muito para não precisar agir na vida real—porque já agi no passado. Escrever se tornou meu modo de extravasar.

 

Muitas pessoas carregam dentro de si uma dualidade: um lado oculto, profano em meio ao santo, sombras que coexistem com a luz. Mas a pessoa que amo… não. Ela é reta, íntegra, e todo o seu ser transborda bondade. Nela, não há mácula, não há resquício de maldade ou impureza. Ela é a delicadeza em forma de pessoa. Não consigo ver nela sequer uma poeira de indecência, falha moral ou qualquer sombra de corrupção. Sua reputação é intocável.

 

E talvez seja isso que destoe do que Dave Le Dave escreve—mas, ao mesmo tempo, é exatamente o que se alinha à essência do coração de David. E ela, mais do que ninguém, soube enxergar isso. Porque, no fundo, meu coração é tão puro e bom quanto o dela.

 

O Medo e a Dúvida

Mas ser 100% bom é realmente bom? Sem qualquer resquício de profano? Porque, se só houvesse o bem, o mundo seria estático. Não haveria criação. O bem só existe porque existe o mal.

 

E os motivos para ela não saber de mim, quando me perguntam, podem ser muitos: meu passado, a distância social, o medo de se magoar, a falta de confiança, a possibilidade de que eu seja um libertino, um mulherengo capaz de trair, o medo de ser trocada, a desconfiança de que eu só quero um troféu pelo desafio… vai saber.

 

Mas essas são impressões causadas pela literatura de Dave Le Dave. Porque David—ele, sim—é fiel. E seu amor só pertence a uma única pessoa.

 

O Absurdo da Exposição Digital

Encontrei novamente a pessoa que amo na rede social simplesmente digitando sua antiga @. Fui direcionado a uma foto de perfil aberto onde ela estava marcada. Ora, isso é um absurdo! Uma completa violação da intimidade dela!

 

Cheguei a consultar uma amiga jurista brilhante sobre o que caracteriza stalking—expressão essa que surgiu no filme russo de Andrei Tarkovsky e só se tornou crime recentemente, a partir de 2018. Ela me explicou que saber da existência de alguém não é crime. Mas, se houver insistência em contato contra a vontade da pessoa, se ela se sentir perseguida e ameaçada, aí sim.

 

Mas é como no filme Não Amarás—minha ação é movida por paixão. E, de certa forma, nosso stalkingsempre foi recíproco. Ela sabe disso. No passado, ela foi muito mais fundo, e as ações dela tiveram um impacto muito mais negativo sobre mim. Tudo por amor, pelo desejo de saber de mim… Mas isso ficou no passado.

 

O Bloqueio e a Contradição

O fato inegável é que ela me bloqueou. Disse que não queria mais contato e que, se eu insistisse, acionaria a polícia e advogados. Não sei se foi uma tentativa de coletar provas caso eu tentasse reestabelecer contato ou se foi apenas dissimulação movida por ciúmes. O que importa é que o contato direto comigo ela não quer—e isso eu sempre respeitei. Bem… mais ou menos. Eu sei até onde posso ir.

 

Mas o verdadeiro absurdo é que, mesmo bloqueado, ainda consigo encontrá-la. Fiz um comentário em uma foto dela, elogiando-a. Um comentário, aliás, que se destacava completamente da enxurrada de banalidades daquela página, demonstrando que estou em outra prateleira, outro nível. Resultado? Fui bloqueado novamente.

 

O Algoritmo que Expõe Tudo

Sabendo que há a opção de bloquear não apenas um perfil, mas todos os e-mails associados a ele, fiz um novo cadastro usando uma VPN com IP fora do Brasil, mas com um e-mail brasileiro do Yahoo. Assim que finalizei o registro, o Instagram me sugeriu amizade com ela e, possivelmente, com seus familiares próximos. Um absurdo!

 

E não parou por aí. As sugestões de stories que recebi foram de médicos e treinos físicos—exatamente minhas preocupações atuais. O Instagram me entregou quem são os amigos próximos dela, seus familiares, onde ela está residindo, tudo. Simplesmente por eu ter feito login com uma conta nova, baseada talvez apenas no histórico de pesquisa do meu celular.

 

Onde está o limite entre meus dados, os dela e os de todos nós? Onde fica a privacidade e a segurança? E se alguém mal-intencionado tivesse acesso a essas informações? Isso é um absurdo, cara!

 

A menina me bloqueou porque não quer contato. Mas, ao mesmo tempo, alguém com um perfil aberto a marca numa publicação, expondo-a completamente. Uma contradição total—uma pessoa low profile sendo entregue pelo descuido dos outros e pela voracidade de um algoritmo que não respeita fronteiras.

 

A Bolha Social e o Destino Traçado

Pelas redes sociais, consigo traçar toda a causalidade da trajetória dela. Basta observar os comentários, os rostos que se repetem, os amigos que se mantêm os mesmos desde a época da faculdade. Agora, na residência médica, morando em outra cidade do interior, tudo segue uma coerência absurda, que comprova como certos círculos sociais convivem apenas entre si, presos em suas bolhas desde o colégio. Talvez seja por isso que não há espaço para mim.

 

Desde o colégio—que, aliás, foi o mesmo cursinho que a levou para São Paulo—até a faculdade que escolheu, tudo foi uma progressão lógica. O cursinho foi a chave para a universidade que ela queria, exatamente aquela. Mas o que a sociedade não diz abertamente é que quem tem dinheiro simplesmente consegue. O discurso da meritocracia oculta essa verdade. Sim, ela passou no vestibular, mas seu destino já estava escolhido desde o berço. No fundo, ela nunca teve liberdade real—abriu mão dela para ser o que a sociedade queria que fosse.

 

E, após a formatura, o próximo passo era óbvio: direcionar-se para uma residência médica naquela grande cidade próxima a São Paulo. O curioso é que, agora, estamos cada vez mais próximos. Pelo menos geograficamente. Mas os rostos ao redor dela continuam os mesmos. Do colégio à residência, nada muda.

 

O Algoritmo Que Rasga Privacidades

Observo os mesmos rostos de antes se repetindo. Os que eram seus colegas na faculdade agora estão na residência. Médicos se despedindo da residente que está se formando. E tudo isso apenas pelo poder da minha inferência, graças aos perfis abertos e a essa maldita sugestão de amizades que viola qualquer noção de privacidade. Onde isso vai parar?

 

De um lado, fico feliz por saber da pessoa que amo. De outro, sinto um ódio imenso dessas big techs, que expõem completamente alguém low profile como ela. Tudo está escancarado: seus pais, seus familiares, suas empresas. Tudo disponível na internet.

 

E o mais absurdo? Não precisei gastar tempo, nem ser hacker. Tudo foi entregue pelo algoritmo, em meros três minutos de pesquisa antes de dormir.

 

O Pinto Comentador

E, por fim, a constatação mais incômoda: eu não tenho espaço na vida dela.

 

A amiga da doutora por quem me apaixonei talvez já tenha um pretendente. Um típico pinto amigo que vive comentando suas fotos. Um sujeito que, de tão vazio, parece se reduzir ao órgão reprodutor. Se eu fosse mulher, provavelmente vomitaria num encontro com alguém assim.

 

Ele é o arquétipo do básico—o mínimo do mínimo. Se não fosse pela aparência, não pegaria ninguém. Posso imaginá-lo: forte, atlético, talvez um surfista calhorda, como na musica dos Replicantes, olhos claros, barba sempre feita. Mas suas selfies no espelho ao som de Luan Santana são de um vazio sem precedentes. Seu olhar nas fotos carrega a ignorância estampada.

 

E seus comentários nas fotos dela? Sempre os mesmos.



 

Na cama, ele deve ser rápido como sua pontuação, que desconhece vírgulas. Precoce. Ou só como só conhece o adjetivo “maravilhosa”, também só conheça o papai e mamãe.

 

Como uma médica aceita “dar pra um cara assim”? Só por causa da aparência? Pelo pinto e porte físico? Mas depois do orgasmo, o que resta? Uma doutora tem que se dar o respeito, com sua classe e liturgia no jogo de afeto, não pode se entregar para qualquer desqualificado que tenha um pênis, só pelas aparências.

 

Como esse tipo de comentário está na escrivaninha dela e o meu, espirituoso, fazendo alusão à arte, não está? É sinal dos tempos e inversão total de valores. Até fico triste. Em contraste, até nas nossas fontes de perfis e linguagem, mostram que estamos em prateleiras diferentes.

 

E, ao fim e ao cabo, eu prefiro minha beleza brasileira, mais rara e exótica, e meu porte esbelto, com perfil de modelo etíope, que veste bem qualquer roupa e sabe usá-las com elegância, do que o jeito caipira dele de se vestir. Portanto, ponto para mim.

 

Mas a constatação de que sou um rosto bonito não seria nada se eu não fosse também um ótimo cérebro pensando, uma ótima boca falando, uma ótima mão escrevendo e um ótimo pênis… bom, fazendo o que um pênis faz. Um belo exemplar moreno, grandiloquente e imponente. Afinal, é sabido que pessoas de ascendência negra tendem a ter maior, e que, quanto maior o músculo, menor o pênis—e, no caso desse cara, se o cérebro já é visivelmente pequeno, o resto só podemos presumir.

 

Então, mais um ponto para mim.

 

O Novo Alfabeto dos Emojis

Pessoal, ela não é nada demais. É uma beleza muito artificial para o meu gosto. Mas, aparentemente, fazer um comentário sem emoção virou crime. Parece que, se você ousa escrever mais de três palavras sem um emoji, o próprio Zuckerberg vai te processar!

 

As variações são sempre as mesmas:

 

“Linda ❤️”

“Maravilhosa ❤️❤️❤️”

“Perfeita 🔥”

 

Quanto mais emoticons e mais exagero na intensidade da imagem, maior o seu apreço pela pessoa. As palavras foram esquecidas. Desaprendemos a escrever.

 

Se fosse para escrever algo de verdade, eu diria:

 

Para mim, é um crime ver uma mulher tão bonita como você e, em vez de proclamar em caps lock uma miríade de adjetivos que me vêm à cabeça só de te olhar, deixar apenas um emoticon. Ou talvez o adjetivo mais adequado para a sua beleza seja justamente aquele que não pode ser dito: inefável. Algo que não se descreve com palavras, apenas com silêncio—como no final de Hamlet: “O resto é silêncio.”

 

Depois que sua beleza se revela, tudo o que resta é o silêncio. E ele, ironicamente, é mais eloquente do que qualquer emoji ou palavra deixada aqui.”

 

Meu amor, se você tem amizade com ela, quando a vir, por favor, transmita essas palavras por mim. Diga que foram escritas pensando na beleza dela, para que ela esqueça um pouco da banalidade.

 

Mas, por favor, não se preocupe: a beleza que mais me cativa e inspira ainda é a sua.

 

A Arte da Sedução na Internet

Às vezes, penso em escrever um manual de técnicas de sedução na internet através da linguagem e da comunicação.

 

Regra número um: as pessoas estão absorvidas pelo cotidiano, pela mediocridade e pela banalidade. O diferente e o original sempre chamam mais atenção do que o igual. Então, envie algo que saia completamente do habitual. Pense em uma mensagem única, inesperada, que fuja do script.

 

Mesmo que soe destoante, vai, no mínimo, instigar a imaginação dela e fazê-la pensar:

 

Opa… quem é esse?”

 

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 09/03/2025
Alterado em 09/03/2025
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