Frases da minha sábia mãe: “Filhos, filhos… por que tê-los? Mas se não os temos, como sabê-los?” E também: “Uma mãe é para dez filhos, mas dez filhos não são para uma mãe.”
Hoje, no Dia das Mulheres, não vou tirar o brilho desse sexo tão especial, o mais belo. Minha mãe, que ao mesmo tempo foi pai e me educou, é a quem devo tudo que sou. Mesmo que eu fosse o maior poeta que já pisou nessa terra, não conseguiria escrever versos imponentes o suficiente para caberem em antologias poéticas que expressassem a importância que ela tem na minha vida.
Então, por mais que um pai queira, ele não substitui a figura materna. Amo meu pai, mas, sejamos honestos: quando dizem “Amo os dois igualmente”, a verdade é que o amor de mãe é único. E quando eu tiver filhos, não ficarei ofendido se eles amarem mais a ela do que a mim. Pelo contrário, será uma honra e um sinal de que escolhi bem minha companheira. Mas vou dar trabalho para os meus filhos decidirem, porque darei meu melhor como pai!
Assim como Rousseau em Emílio, ou Da Educação, tenho minhas próprias ideias sobre como uma criança deve ser criada.
Meu pai, por exemplo, não foi exatamente um modelo. Em determinado momento da vida, foi um tanto negligente, mas vem se redimindo, e hoje nos damos muito bem. Minha mãe supriu essa ausência, sendo mãe e pai, tanto moralmente quanto financeiramente.
E meu irmão mais velho… Bom, ele é o mais próximo que conheço de um cidadão exemplar, um verdadeiro kantiano. Um homem responsável, modelo ético, educado, inteligente, culto, elegante e até bonito – para quem gosta de carequinhas e não se importa com porte físico.
Se meu irmão fosse um conceito sociológico, ele seria o tipo ideal de Max Weber. Sempre foi um modelo de cidadão. Parecido comigo em alguns aspectos, mas, na dinâmica da família, eu sou a ovelha negra.
Ele? O bom, o filho modelo.
Nunca ouvi um palavrão sair da boca dele. Nunca bebeu uma gota de álcool. Antes mesmo de virar batista, já era crente. Aos oito anos, anunciou na festa de aniversário que na próxima não haveria mais bebidas alcoólicas.
Mas isso não o impediu de ir a shows de rock internacionais, festivais underground e festas eletrônicas alternativas. Nunca experimentou drogas ou álcool – ia só pela música. Discotecou de brincadeira, assim como eu.
E, claro, talvez seja um dos maiores conhecedores de futebol do país. Rivaliza com qualquer especialista da mídia. Se houvesse um ranking dos brasileiros que mais sabem sobre futebol, ele estaria no top 5 – talvez no top 3. Uma enciclopédia ambulante, com escalações históricas e estatísticas dignas de um PVC.
Meu irmão me considera, pela ausência paterna que tive em alguns momentos, quase como um filho dele. Somos só nós dois: eu e o Titi.
Mas também sei retribuir. O emprego que ele tem hoje, home office, inicialmente foi oferecido para mim. Como ele estava desempregado e precisava mais do que eu – afinal, tem um filho pequeno para criar –, eu o indiquei para a vaga. Se fosse eu, gastaria tudo com drogas.
Um ajuda o outro. E não tenho dúvidas: quando minha cabeça estiver no lugar, vou voltar para minha área. Em pouco tempo, recuperarei meu salário de dois dígitos como especialista em certificação de produtos no Inmetro.
Só preciso manter a cabeça no lugar. Como agora.
Já falei antes que criar uma filha parece ser mais simples. Ela deve ser tratada com a delicadeza de uma pétala de rosa e tratada com a fragilidade de quem analisa a estrutura de uma bolha de sabão—como uma dama, uma princesinha. Assim, quando for buscar um parceiro, não aceitará nada menos do que isso.
Na criação dos filhos, é sabido que eles copiam os pais em tudo e herdam nosso capital cultural. Isso é bem exemplificado no livro Literatura em Perigo, de Tzvetan Todorov, onde ele narra como cresceu cercado por livros, em uma família de intelectuais e professores. Quando criança, via os pais aconchegados com suas leituras e, instintivamente, escolhia um exemplar colorido para folhear, sob os olhares de aprovação do pai. Esse reconhecimento cria um sentimento positivo na criança. O incentivo, o elogio—“olha lá que bonitinho”—e até a leitura guiada antes de dormir alimentam sua imaginação.
E isso eu farei com prazer.
É assim que meu irmão cria meu sobrinho. Aos quatro anos, ele já conhece mais histórias e leu mais livros do que Bolsonaro em toda a vida—e tem mais exemplares na estante também. Na consulta com a pediatra, ela ficou impressionada, achando que ele já sabia ler. Mas, na verdade, ele apenas decorou as histórias que meu irmão lê para ele todas as noites. Ele fica no cantinho dele, absorto, inventando enredos e personagens complexos para sua idade, digno de um pequeno Shakespeare. E se irrita quando alguém o interrompe. Muito bonitinho.
Eu não tenho muito traquejo com crianças. Quer dizer, a única com quem convivo é meu sobrinho. Mas não sei imitar vozes engraçadas, e, para ser sincero, acho isso um tanto patético. Parece que subestima a criança e prejudica o desenvolvimento da linguagem.
Claro, não chego ao extremo do Roberto Cabrini, entrevistando uma criança com aquele ar sisudo, como se estivesse diante de um criminoso hediondo. Mas também não gosto dessa gramática infantilizada, como se a criança fosse um deficiente mental. Com todo respeito ao CID-10 dessa condição, acho bobo.
Falo corretamente para que ela fale corretamente. “Papai”, por exemplo, é carinhoso até certa idade, depois se torna apenas “pai”. Quando eu era criança, falava como criança; agora, sou mocinho e devo falar como tal—parafraseando a Bíblia.
Se não for assim, criamos filhos “fofinhos” em demasia, eternas crianças lúdicas. Mas é preciso crescer, aprender a competir, a brigar, a lidar com o bullying, a cuidar do corpo e da mente. Não apenas de longe, como alguns ricos (até mães pediatras) o fazem, terceirizando essa tarefa para babás. É estar presente, vibrando no gol do filho na escolinha de futebol, enxergando nele um prolongamento do próprio sucesso.
Os filhos são a extensão do amor entre duas almas que se escolheram para a vida. E devem refletir esse amor, esse cuidado, essa identidade—não como um legado miserável à la Brás Cubas, mas como algo mais duradouro que o bronze.
E tudo isso eu aprendi intuitivamente, sem nunca ter segurado um recém-nascido no colo, sem saber a temperatura ideal da mamadeira, sem distinguir entre um choro de fome e um de sono.
Mas, para isso, existe a mãe, não é mesmo?