No Dia das Mulheres, Leila Pereira, presidente do Palmeiras, uma mulher incrível, lutando contra o racismo, se destacou.
Eu falo que, às vezes, o feminismo se torna contraditório, porque ele pode ser uma face do machismo, e essa polarização acaba desunindo homens e mulheres, que, ao contrário do que a sociedade impõe, foram feitos para estar juntos, seja pela biologia ou pela própria essência humana.
Se uma mulher precisa de apoio, é na luta contra o assédio, o feminicídio e a agressão. E, muitas vezes, o movimento não busca realmente soluções, mas acaba afastando as pessoas e criando um feminismo superficial que não denuncia a exclusão objetiva da mulher, uma exclusão que não é apenas uma questão de estruturas patriarcais e falocêntricas, mas também de uma educação distorcida desde a infância e muitas outras questões. A mulher é reduzida à vítima, e sua exclusão e diminuição de direitos é constantemente visível.
Mas, de certa forma, o movimento ajuda a causa das mulheres por meio da força do exemplo, e Leila Pereira personifica essa revolução invisível que modifica o mundo ao nosso redor. Ela está ao lado da luta de outro povo excluído, o povo negro, e da luta contra o racismo!
Há quem seja contra o movimento woke e suas pautas progressistas, alegando que conceitos como racismo estrutural e objetificação não existem. No entanto, a realidade recente reforça a necessidade de reparação histórica, como ficou claro no episódio que ocorreu ontem.
Na partida desta última quinta-feira, pela Libertadores Sub-21, o time do Palmeiras, fortíssimo, venceu o modesto Cerro Porteño por 3 a 0. O time paraguaio nunca conquistou a competição profissional, em contraste com o Olímpia, que venceu a Libertadores três vezes, e o Palmeiras, que é um gigante no futebol sul-americano. Mas o que mais chamou atenção foi o comportamento covarde dos torcedores do Cerro Porteño, que fizeram gestos racistas, imitando macacos, contra o jogador Figueiredo, um dos atletas do Palmeiras, e ainda mais grotesco: um torcedor fez isso enquanto segurava uma criança no colo. É curioso, contraditório e irônico que o gesto tenha sido feito por torcedores de um time do Paraguai, cujo estereótipo no Brasil denota algo falsificado, sem valor, criando uma falsa sensação de superioridade do Brasil sobre essa nação. Isso evidencia como eles ainda estão em um estágio mais subdesenvolvido que nós, e, sem consciência de classe, tentam disfarçar o insulto, chamando-nos de macacos.
O jovem atleta Luighi, de só 18 anos, durante a coletiva pós-jogo, foi questionado sobre a partida, mas, em vez de responder, desabafou emocionado: “É sério que vocês vão perguntar sobre o jogo e não vão falar sobre o crime que sofri aqui?” E começou a chorar convulsivamente, em um desabafo profundo sobre o sofrimento causado pela opressão. A dor no seu choro tocou a alma de quem estava ouvindo as lamentações de séculos de exclusões sociais, violência simbólica, estrutural e objetiva que se torna visível na figura explicita do ataque racista, e ele, com enorme coragem e maturidade para alguém tão jovem, mostrou o verdadeiro caráter do Palmeiras: a formação de atletas, mas, mais importante ainda, de homens maduros.
Leila Pereira, com a voz embargada de tristeza, convocou uma coletiva urgente e, ao invés de anunciar a contratação do maior valor da história do futebol brasileiro, Vitor Roque, falou de um problema muito mais grave. Ela falou da covardia do crime de racismo que Luighi sofreu, com a firme promessa de levar a questão até as últimas consequências para que os criminosos sejam punidos de forma exemplar. Leila também pediu que o clube adversário fosse excluído da competição, lembrando o histórico de racismo do Cerro Porteño.
Leila Pereira falou com mais firmeza do que qualquer homem que já vi sentado naquela cadeira da presidência, mostrando sua autoridade e o motivo de ser uma mulher bem-sucedida em sua área. Ela bateu o pau na mesa (sim, é piada, feministas) e afirmou que o Palmeiras não toleraria mais nenhum crime contra seus atletas, e que, ao contrário de se retirar da competição, o clube daria exemplo, pois isso não seria culpar a vítima nem respaldar o paradoxo da tolerância de Karl Popper.
O Paradoxo da Tolerância, proposto por Karl Popper em 1945, trata da questão de até onde uma sociedade tolerante deve tolerar comportamentos intolerantes. Segundo Popper, se uma sociedade tolerante tolera pessoas intolerantes, essas pessoas poderão acabar destruindo a própria tolerância e, portanto, a própria sociedade. O paradoxo, em suma, levanta a questão: a tolerância tem limites? Se você tolerar tudo, incluindo os intolerantes, poderá estar permitindo que a intolerância destrua a liberdade e a convivência pacífica. Para Popper, a solução seria não tolerar os intolerantes, para preservar a liberdade e a democracia.
Leila Pereira, com a firmeza que poucos têm, não apenas deixou claro o compromisso do Palmeiras com seus atletas, mas também expôs a importância de não se conformar com a intolerância. Ela reafirmou, com uma voz embargada, mas cheia de autoridade: “O Palmeiras não será mais tolerante com quem tenta destruir a convivência pacífica e justa entre todos.” Ao desafiar o paradoxal racismo que se esconde nas entrelinhas de algumas atitudes, Leila lembrou a todos que, em nome da tolerância e do respeito, devemos ser implacáveis com aqueles que promovem o ódio e a exclusão.
O paradoxo da tolerância de Karl Popper nos ensina que, para preservar a liberdade e os direitos humanos, não podemos ceder à intolerância. Não podemos tolerar aqueles que querem destruir o que há de mais valioso em nossa sociedade. Assim, a luta contra o racismo, contra qualquer tipo de opressão, deve ser constante, porque, como bem lembrou Leila, ser tolerante não significa ser passivo. E, no final, é o exemplo de figuras como ela que transformam o mundo ao nosso redor, fazendo com que o silêncio da indiferença seja quebrado pela força da coragem e do compromisso com um futuro melhor e mais justo para todos.
Leila Pereira me representou como torcedor do Palmeiras e honra a cadeira da presidência, nos honra como mulher em sua trajetória de sucesso e coragem na luta contra o racismo. Nesta véspera do Dia das Mulheres, e em homenagem a ela, estendo minha solidariedade a todas as mulheres. Como amante do sexo feminino, parabenizo todas as mulheres e destaco a importância de jogarmos luz juntas nessa guerra por direitos iguais e pela luta contra os crimes de violência contra a mulher e contra os negros, que, apesar de estarem em lados diferentes da história, compartilham o mesmo caminho de exclusão. Ambos são seres humanos e merecem ser tratados com igualdade, com direitos e oportunidades. Feliz Dia das Mulheres!